Charge: Vitor Teixeira
por Tadeu Porto, colunista do Cafezinho
Cara, tive uma viagem muito irada essa noite. Coisa de maluco mesmo.
Sonhei que a operação Lava Jato utilizou todos os indícios e provas que colheu ao longo das investigações e apresentou uma proposta de reforma política. Moro & Cia concluíram que as doações empresariais de campanha eram frutos de subornos e chantagens e, portanto, colocavam os anseios dos oligopólios empresariais acima dos desejos dos demais brasileiros e brasileiras.
Não me lembro muito bem mas acho que teve uma entrevista coletiva da força tarefa onde o procurador Carlos (que no meu sonho era uma raposa, não sei por que) dizia em alto e bom som: “não há democracia efetiva quando o interesse de uma população que ainda precisa do básico pra sobreviver, como saneamento, saúde, transporte e educação, é preterido por 1% de uma elite aristocrata que sempre viveu na mordomia herdada da exploração em massa”. Completou ainda: “hoje estamos, assim, dando início a uma reforma política que limitará o poder e a influência dos poucos milionários que temos e dará mais espaço às vozes oprimidas. Faremos um quadro representativo mais próximo da realidade nacional, aumentando a diversidade na forma de pensar e solucionar nossos problemas”.
Mas a maluquice não parou por aí. De repente, estava num mar de maionese, viajando num navio plataforma, quando escutei pela frequência do rádio que carregava comigo, o pronunciamento do ministro das Comunicações, Mino Carta, que comemorava a sanção da Lei de Meios. Carta dizia, com a tranquilidade de sempre, que os atos criminosos de veículos como a Veja e o Globo que culminaram em atitudes golpistas, como a tentativa frustada de impeachment e a mania infame de tentar influenciar com mentiras nas eleições, foram decisivas para que todo o país enxergasse a necessidade de se ter acessos a pluralidade de opiniões e…
…Do nada, então, aquele oceano branco se transformou numa smart tv de 65 polegadas, que passava um recado do Hot Coffee News, o programa de notícias mais acessado do momento, e Sidney Rezende apareceu para anunciar um estranho vazamento de dados secretos de empresas offshore no Panamá. O jornalista relembrou, então, outra quebra de sigilos recentes, o chamado swissleaks do HSBC, para chamar uma matéria denominada “a sonegação de impostos e o mal do acúmulo de riquezas” que escutou diversos especialistas sobre o assunto. Ao fim, Rezende convocou o comentarista Arnaldo Jabor – que na verdade era o Gilberdo Gil – para comentar que a reforma tributária seria “a novidade” para acabarmos com a acumulação de riquezas e distribuir a renda igualitariamente: “temos que acabar com esse mundo tão desigual”, concluiu.
Mas o clímax do sonho foi mesmo a “caminhada da vergonha entreguista” quando José Serra apareceu semi nu, tampando as partes de baixo com um folheto da Chevron, sendo hostilizado (apenas com palavras e uma bolinha de papel) pela tentativa fracassada de vender o Pré-Sal aos estrangeiros. “Volta pro Chile, covarde”, “vampiro” e “devolve a Vale” foram as palavras de ordem que prevaleciam, exceto por um grito de “lindo!” que veio de uma fantasma com a cara da Margrit Dutra.
Foi nesse exato momento, então, que acordei sem precisar de despertador, afinal, meu cérebro não conseguiu sustentar a falta de lógica da combinação das palavras José Serra e lindo.
Era madrugada ainda, liguei a TV pois o celular estava longe demais para minha preguiça. No Hora Um, Monalisa Perrone explicava que o juiz Sérgio Moro mudou a tática sobre as “mãos limpas” e colocou a lista da Odebrecht, com doações suspeitas para mais de 300 políticos em sigilo e que a força tarefa da Lava Jato resolveu não aceitar a delação da empresa que estava disposta a detalhar um sistema de cartel desde a década de 80.
Chateado, desliguei a televisão e voltei a dormir. “Tudo aquilo não passou de um sonho, um sonho…”
Saco!
Tadeu Porto é Diretor do Sindicato dos Petroleiros do Norte Fluminense (Sindipetro-NF)