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Dinheiro do impeachment pode acabar queimando as mãos de Skaf

Por J. Carlos de Assis, no GGN: Digamos que seja verdade que o presidente da Fiesp, Paulo Skaf, tenha constituído um caixa de R$ 500 milhões para comprar o impeachment da presidenta Dilma. Digamos que esse dinheiro, procedente basicamente do Sistema S (Sesi), tenha resultado de aporte de R$ 300 milhões da própria Fiesp, R$ […]

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Por J. Carlos de Assis, no GGN:

Digamos que seja verdade que o presidente da Fiesp, Paulo Skaf, tenha constituído um caixa de R$ 500 milhões para comprar o impeachment da presidenta Dilma. Digamos que esse dinheiro, procedente basicamente do Sistema S (Sesi), tenha resultado de aporte de R$ 300 milhões da própria Fiesp, R$ 100 milhões da Firjan de Eduardo Eugênio e R$ 50 milhões cada das federações de indústria do Paraná e do Rio Grande do Sul, todas alinhadas no golpe. Surge imediatamente uma questão transcendental: como pagar a propina de cada deputado ou senador, e o que cada deputado ou senador corrompido vai fazer com o dinheiro?

Estamos aí diante de dois problemas, e nenhum deles fácil de ser resolvido por Skaf, se as presunções acima forem confirmadas. Não é fácil manejar R$ 500 milhões, impunemente, nesses tempos de rastreamento de caixa dois pela Polícia Federal e o Ministério Público. Claro que ele pode, com tanto dinheiro envolvido, tentar corromper também a Polícia e o Ministério Público. Ambos, porém, estão também sob vigilância recíproca. Fazer o dinheiro circular pelo sistema bancário seria um suicídio: em tempos de Lava Jato tornou-se trivial o rastreamento de contas bancárias. Basta uma pequena suspeita. E nós estamos fornecendo-a.

O problema maior não é esse. O suposto parlamentar corrompido por Skaf só ficaria tranquilo se recebesse a propina em dinheiro. Isso, porém, pode aumentar a vulnerabilidade do esquema. Haveria de ter um intermediário para lavar o dinheiro, figura que se tornou totalmente inconfiável na era do juiz Sérgio Moro, que descobriu uma forma sutil de tortura para extrair delações premiadas. Claro, poderia acontecer que o processo do recebimento dessas propinas caísse em mãos menos truculenta que as de Moro, mas mesmo para um parlamentar ambicioso o risco pode parecer muito grande.

Diante disso, o caixa presumido de Skaf pode ser repelido pelos presumíveis beneficiários das propinas seguindo a lei do menor risco. Se acontecer isso, surge uma terceira questão: o que Skaf, sempre se presumindo que tenha montado o caixa, vai fazer com o dinheiro rejeitado pelos parlamentares, não por honestidade intrínseca mas pelo medo de serem apanhados? Sim, porque R$ 500 milhões, se este for mesmo o caixa, é dinheiro demais também para ser devolvido sem justa causa. E não pode ser levado em espécie em maletas pretas, mas no mínimo em grandes caixões pelos corredores do Congresso.

Confesso a vocês que, se as coisas estiverem acontecendo dessa forma, não gostaria de estar na pele de Skaf. Talvez ele tenha que recorrer a um dos seus três filhos, Paulo Skaf Filho, Andre Skaf ou Gabriel Skaf, acostumados a fazerem transações com o dinheiro da Fiesp. Em qualquer hipótese não é uma situação confortável. O suposto caixa dois de R$ 500 milhões para comprar o impeachment talvez seja um tiro que saia pela culatra. Incapazes, por razões de precaução, de por a mão no dinheiro, parlamentares que criaram grandes expectativas em relação a ele talvez virem o jogo. De raiva, ou simplesmente para dar uma demonstração inequívoca de honestidade, votarão contra o impeachment!

J. Carlos de Assis – Jornalista, economista e professor, doutor pela Coppe/UFRJ.

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Miguel do Rosário

Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.

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