Novo filme de Paolo Sorrentino é uma ode à vida, em qualquer idade
Por Lia Bianchini, no Obvious.
Existe um momento na vida de cada ser humano em que tudo parece significar nada e não fazer sentido algum. Para esse específico momento, a linguagem ainda não conseguiu designar uma palavra única que possa compreendê-lo como um todo.
Para seu oposto, no entanto, essa palavra existe, mas ainda é cercada por incompreensões. Ao momento na vida de cada ser humano em que nada parece significar muito e em que tudo faz um mínimo de sentido, qualquer que seja, costumamos chamar de “juventude”. A maior das incompreensões é atrelá-la a um período determinado de idade.
“Youth” (A Juventude) é o título do novo filme do diretor italiano Paolo Sorrentino, que narra a história de dois amigos que estão chegando aos 80 anos de idade e enfrentam os dilemas de perspectiva conflitante entre juventude e terceira idade.
Fred, interpretado por Michael Caine, é um renomado compositor e maestro aposentado, que não tem a menor vontade de exercer a profissão uma vez mais na vida. Enquanto Mick, vivido por Harvey Keitel, é um cineasta que trabalha para terminar o último roteiro de sua vida, sua “obra testamento”.
Ambos passam férias em um hotel de luxo nos Alpes Suíços, convivendo com personagens mais jovens em idade, mas que também encaram dilemas de perspectiva, como Lena (Rachel Weisz), a filha de Fred, que vê toda a segurança de sua vida ruir após o marido abandoná-la à véspera de uma viagem juntos; e Jimmy (Paul Dano), um ator em preparação para um novo filme, que carrega em si a frustração de ser reconhecido por um papel insignificante.
Não por acaso, a cena de abertura de “A Juventude” mostra uma jovem mulher cantando “You’ve got the love”, de Florence + The Machine, que tem, em um de seus versos, a seguinte frase (livremente traduzida): “na vida, cedo ou tarde, você perde as coisas que ama”.
A frase encaixa-se perfeitamente no paradoxo que Sorrentino parece querer mostrar ao longo de sua obra. Independente da idade, cada personagem enfrenta um tipo diferente de perda e a iminência de um devir: o recomeço.
Cada única parte do filme expõe o conflito permanente do que é viver. Sejam os diálogos, que ora se constituem por conversas aparentemente banais ora são recheados de discussões filosóficas, ou os planos de Sorrentino, abertos em boa parte do filme, fazendo com que cada cena pareça uma pintura realista.
Com “A Juventude”, Sorrentino parece compor uma ode à vida. O título, por sua vez, soa mais como um escárnio a quem costuma enquadrar os desejos em caixas distintas por números que resumem cada ano vivido. No fim de tudo, independente da idade, a vida é apenas um só desejo de agir.
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