O Cafezinho conversou há pouco com o cientista político Wanderley Guilherme dos Santos, um dos maiores nomes da área na América Latina e no mundo, sobre o atual momento político.
Fiz duas perguntas apenas, sobre os últimos acontecimentos.
Cafezinho: Por que essa urgência toda para derrubar Dilma?
Wanderley: A necessidade de correr com o impedimento decorre do chicote queimando o traseiro de Sergio Moro e seus meninos, dos parlamentares apavorados com a Lava-Jato e da imprensa. O chicote de duas afiadas relhas é o seguinte: Lula e Dilma Rousseff em sucessivas declarações desafiaram os investigadores da Lava-Jato e de qualquer órgão competente a encontrarem prova de comportamento de ambos que viole o mais mínimo preceito de ética administrativa. E …nada. Há dois anos os Procuradores da Lava-Jato procuram e nada acham. A Polícia Federal invade casa atrás de casa, com toda cobertura do Judiciário, e descobre miçangas sem valor. Policia Federal, Procuradores, Juiz Sergio Moro, Procurador-Geral da República se comprometem com o mais vergonhoso atentado à legislação de escuta ilegal, provocadora e criminosamente divulgam trechos de “grampos” pessoais, fica tudo por isso mesmo, mas nada descobrem. Dos milhões e milhões que teriam sido ilegalmente ganhos por empreiteiros, altos burocratas e políticos, conformado comprovado, mas com o auxílio direto do ex-presidente Lula, segundo os Procuradores e o Juiz Sergio Moro, sem migalha de comprovação, passa-se à ridícula epopeia de provar, sem documentos, que um reles sítio e um apartamento na privilegiadíssima praia de Guarujá constituiriam a porcentagem paga à família de Lula pela responsabilidade criminal dos milhões e milhões desviados pelas licitações fraudulentas. Quanto mais o tempo passa, mais desafiadoras as declarações de Dilma e Lula e mais desmascarada a perseguição partidária a que a Justiça foi subordinada pelos rapazes de Curitiba, protegidos pelo Procurador-Geral da República em diversas declarações. Daí a razão principal da pressa: com eventual afastamento da presidente Dilma Rousseff o que a Lava-Jato vai parar definitivamente de investigar são precisamente eles dois com o objetivo de encobrir a criminosa fraude de um processo sem objeto. Claro que o etanol e a Doca de Santos do coração de Michel Temer não virão a tona, nem os descarregamentos de droga em Minas Gerais, por exemplo, mas alguns bagrinhos continuarão a alimentar as grandes manchetes da farsa midiática, fingindo que a investigação continua impávida. A imprensa e a Justiça corrompida estão apavoradas com a inocência de Dilma e Lula.
Cafezinho: O que achou da carta de Sergio Moro pedindo “desculpas” a Moro e as últimas declarações do procurador Carlos Santos Lima? Estão recuando em sua até então aberta ofensiva política contra o governo?
Wanderley: A carta de Sergio Moro, pedindo clemência ao STF, assim como as declarações do Procurador Carlos dos Santos Lima, ontem, dia 30, absolvendo os governos do PT de qualquer ingerência na Polícia Federal e na Procuradoria, ao contrário de governos anteriores (alô, FHC, alô engavetador-geral da República, alô ministro Gilmar Mendes), e de haverem modernizado e dado condições de trabalho eficiente a todos, tem de serem vistas, precisam ser vistas como outro capítulo da farsa, adequado às circunstâncias. Depois de iniciado o processo contra a presidente Dilma, com todas as consequências funestas na vida privada das pessoas e em suas imagens públicas, não adianta a hipocrisia da desculpa, feita ao STF, não àqueles ofendidos e difamados. O falso depoimento do Procurador Santos Lima, ontem, claro que nada esquecido de outras inserções na TV declamando que ninguém estava acima da lei, em momento em que ele próprio se punha acima dela tentando colocar a presidente Dilma e o ex-presidente Lula abaixo da lei, em depoimento melífluo, repito, absolve o PT e o ex-presidente Lula. Jogo de cartas marcadas, pois dois dias antes, em seu solo de humildade, o Juiz Sergio Moro reafirmava que o ex-presidente tentou agir no sentido de obstar a Justiça. São dois espertíssimos subversivos em busca não apenas de inviabilizar a sobrevivência do mais popular dos partidos políticos em toda a história da República, mas subversivamente submeter o Executivo e o Legislativo brasileiros a diferentes instâncias do Judiciário. E este não é um projeto nacional apenas, mas com correspondências internacionais. Não se trata necessariamente de conspiração, simplesmente são gerações que pensam da mesma maneira, desprezam a política e, não podem disfarçar, pois, dez em cada dez vezes, estão juntas, menosprezam o povo. A perseguição atual é a mais audaciosa tentativa de estrangular as instituições representativas da vontade popular e para isso nada mais eficaz do que a destruição de seus mais radicais representantes. Espero que fracassem.