Foto: Igor Estrela/ PMDB Nacional
por Bernardo Cotrim, no Democracia e Conjuntura
O tempo da política se acelera brutalmente: o desembarque do PMDB da base do governo, com estardalhaço e aclamação, numa reunião que durou 4 minutos, segue o roteiro do acordo firmado em cima de 3 eixos: a recomposição do bloco de forças políticas que sustentou os governos FHC 1 e 2, de maneira a implementar com ampla sustentação no parlamento uma reforma neoliberal radical; a interrupção das investigações, garantindo que os corruptos de sempre salvem a pele, sendo Eduardo Cunha, o maquinista da locomotiva golpista, o caso mais escandaloso; e uma brutal ofensiva anti-esquerda, com a criminalização do PT sendo seguida por iniciativas como uma grande “CPI dos movimentos sociais”, destinada a desmoralizar e quebrar as pernas de sindicatos e movimentos.
Tudo isso legitimado pela narrativa construída pelas empresas de comunicação, amparado nos setores reacionários incrustados no aparelho de Estado, em especial no Judiciário, e financiado explicitamente pelo 1% mais rico do país – vide a torneira aberta da FIESP, jorrando dinheiro e irrigando as mais diversas iniciativas golpistas, inclusive ações de pequenos grupos fanáticos que costeiam o alambrado do fascismo. A vitória do golpe fará jorrar a céu aberto o esgoto da sociedade brasileira, despertando as piores e mais reacionárias energias acumuladas no subterrâneo da vida democrática.
Longe de acreditar que o desfecho deste processo já está escrito, no entanto, sigo acreditando que a potência das mobilizações da resistência democrática da sociedade brasileira poderá imprimir um novo rumo ao roteiro idealizado pela direita. Desde os grandes atos do dia 18, um turbilhão de ações colocou em movimento amplíssimos setores da sociedade, que passaram a ocupar a esfera pública e a denunciar o atentado contra a democracia. Sindicatos, movimentos de juventude, intelectuais, artistas, movimentos comunitários, feministas protagonizaram, por todo país, manifestos, atos, passeatas, festas, recitais, furando o discurso único da mídia oligopolizada e tecendo uma rede de informação alternativa na internet que se mostrou fundamental para denunciar a conspiração antidemocrática impulsionada pelo núcleo duro do neoliberalismo tupiniquim, cuja ilegitimidade após 4 derrotas eleitorais consecutivas transborda por todos os poros.
É a radicalização desta ocupação de ruas e praças, do diálogo criativo, da combatividade de quem sempre lutou por mais direitos e não aceitará perdê-los todos numa quartelada sem farda, impulsionada por uma gente sedenta de mudanças para que tudo permaneça como sempre foi. É esta sociedade democrática que se organiza e constrói novas convergências, o legítimo bloco histórico capaz de construir uma sociedade mais livre, igualitária, que pode, a luz do dia, alterar o script gestado nas sombras pelo submundo do capitalismo selvagem.
A las barricadas, portanto; e que façamos, todos e todas, um dia 31 ainda maior. Não passarão!
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