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A brigada Herzog e o golpe (e como nos ajudar)

O grito de guerra “Não vai ter golpe” já entrou para a história. Conseguimos abrir várias brechas no golpe midiático. Jornais e revistas do mundo inteiro começaram a dar uma outra versão da narrativa hegemônica no país. Mas ainda temos muito trabalho a fazer. A mídia corporativa está engajada 100% no golpe. Quando Dilma tenta, […]

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O grito de guerra “Não vai ter golpe” já entrou para a história.

Conseguimos abrir várias brechas no golpe midiático. Jornais e revistas do mundo inteiro começaram a dar uma outra versão da narrativa hegemônica no país.

Mas ainda temos muito trabalho a fazer.

A mídia corporativa está engajada 100% no golpe. Quando Dilma tenta, timidamente, reagir, a mídia diz que ela está “radicalizando”.

Para eles, Dilma tem que permanecer quieta, enquanto o golpe se espalha, prende todo mundo, detona com as liberdades e garantias individuais, insufla o fascismo e se instala, definitivamente, no país.

O governo e alguns de seus principais aliados ainda não entenderam o golpe, a meu ver.

Eu os vejo balbuciarem análises sobre a Lava Jato, dizendo que a oposição quer derrubar Dilma para enterrar a Lava Jato.

Bem, isso é óbvio, pelo simples fato de que ninguém conseguirá governar o país com uma operação ilegal como a Lava Jato em andamento.

Essa é a narrativa mais difícil de derrubar, porque ninguém quer ser visto como adversário da luta contra a corrupção.

A Lava Jato ganhou blindagem internacional. Dilma é elogiada no New York Times porque não interfere na Lava Jato.

Uma revista norte-americana retrata Sergio Moro como um dos homens mais poderosos do mundo.  Olha só!

As pessoas não estão enxergando direito o que está acontecendo.

A Lava Jato precisa ser anulada, porque ela é o golpe.

Não é difícil enxergar onde ela quer chegar. Ela está agindo com o mesmo modus operandi do “mensalão”. Vai omitindo umas coisas ali, destacando outras ali, juntando uns vilões ricos, um punhado de políticos, corruptos ou não, premia as delações mais prolixas e voluptuosas, feitas pelos réus menos honestos e mais espertos, que entendem rapidamente o jogo, e pronto, eis uma história imbatível.

Ela prende as pessoas em regime fechado por tempo indeterminado.

A Lava Jato representa o fim de todas garantias individuais em nome de uma suposta luta contra a corrupção.

A Lava Jato representa o fim de qualquer preocupação sócio-econômica em nome da luta contra a corrupção.

Sergio Moro prende uma pessoa, tortura-a, arranca informações, daí passa para outra pessoa e outra etapa, num jogo contínuo sem fim, que o permite chegar onde ele quiser.

Se ele quiser prender o PT inteiro, como já fez, pode. Se quiser prender o PMDB inteiro, pode também. PSDB, idem.

Se ele quiser prender você, basta prender alguém próximo a ti, quebrar-lhe todos os sigilos, até conseguir alguma informação sensível sobre sua pessoa, e pronto, você está preso, em prisão perpétua desde que isso interesse ao juiz.

A liberdade e a vida dos cidadãos é um joguete sem muita importância para Sergio Moro.

Tudo depende, naturalmente, do apoio midiático, que inclui a publicidade opressiva para intimidar os tribunais superiores a não reagirem.

Nenhum governo do mundo, nenhuma economia do mundo poder funcionar com uma operação transloucada, delinquente e irresponsável como a Lava Jato em andamento, em que virtualmente o país inteiro é grampeado (até uma jornalista do Estadão foi vítima), o sigilo de partidos inteiros é quebrado. Os sigilos telefônico, eletrônico, fiscal, internacional, de todos são devassados por uma Polícia Federal que assume o papel desavergonhado de polícia política.

De posse de  um conjunto tão colossal de informações, Sergio Moro e a força tarefa podem fazer o que quiser do país.

Podem montar qualquer narrativa de acusação.

Podem quebrar o país, se quiserem, como tem feito nos últimos dois anos, o que também serve ao propósito político de derrotar o PT.

Para derrotar o PT, é preciso derrotar o crescimento econômico e esmagar qualquer esperança.

Em que país do mundo, um juiz prende os principais empresários, em prisão perpétua, e tortura-os à vontade, ameaça seus parentes, amigos e funcionários, ameaça destruir empresas de cinco ou seis décadas de história, se eles não aceitarem um acordo espúrio de delação premiada?

Talvez a Rússia de Putin tenha feito isso…

A esquerda fica rendida, porque o seu discurso classista dificulta defender “empreiteiros”.

A direita tem sentimentos dúbios. Fica amedrontada, de um lado, mas logo entende que é um jogo bruto tocado pelo Judiciário para ela mesmo voltar ao poder.  Sua esperança então é assumir as rédeas e encerrar a bagunça. Por isso todo o burburinho de que, caso o PSDB e PMDB assumam o poder, a Lava Jato será encerrada.

Eu mesmo já discuti com amigos empresários, entusiastas com a prisão de “empreiteiros”: de repente, pessoas maduras, de tendência conservadora, agem como militantes do PSTU… É um nível terrificante de manipulação mental.

Em que país do mundo, um juiz vaza áudios do ex-presidente, envolvendo a presidenta da república, envolvendo juízes do supremo, e fica por isso mesmo?

A Folha, um dos núcleos do golpe, agora quer comparar Sergio Moro com Snowden…

Ora, Snowden denunciou os esforços do Estado americano para invadir a privacidade das pessoas.

Moro invadiu a privacidade das pessoas e entregou as informações à Globo.

E fica tudo por isso mesmo. Os áudios íntimos de Lula e sua família são mostrados na Globo como se não houvesse lei no país a proteger os cidadãos desse tipo de violência do Estado contra os indivíduos.

Os liberais brasileiros, como fazem desde a época da escravidão, em que faziam discursos bonitos à noite e açoitavam escravos de dia, continuam os mesmos: liberais na teoria, autoritários na prática.

A manipulação da mídia, por sua vez, destruiu a consciência nacional.

O apocalipse da informação finalmente se instalou.

Conversar sobre política com o “senso comum” virou um exercício impossível: a quantidade de desinformações e absurdos que são usados como argumentos impossibilita qualquer diálogo. A Globo conseguiu transformar o Brasil num país de zumbis midiáticos.

Há o risco, naturalmente, da instabilidade crescer, em caso de golpe consumado, e instalação de uma ditadura sem disfarces, com estado de sítio permanente, repressão de movimentos sociais, cassação generalizada de direitos políticos, censura das vozes críticas.

O PT tornou-se um partido sem cérebro, pusilânime, que faz pesquisas de opinião para saber se pode ou não criticar a Lava Jato, mas cai no jogo como um patinho, desde que a operação vaze alguma coisa contra Aécio Neves.

Enquanto isso, a Lava Jato vai encarcerando todas as suas lideranças, mesmo sem provas, e condenando-as a prisão perpétua.

O governo não sabe o que fazer. Agita-se para lá e para cá, brada que há um golpe, chama a imprensa internacional, mas não sabe explicar o que está acontecendo porque sua língua permanece presa pelo medo. Não tem coragem de falar claramente, de dar nome aos bois: há um golpe midiático judicial, que mescla a Globo, líder de um cartel midiático, e setores do judiciário que conseguiram, com ajuda da mídia, manipular a opinião pública de maneira avassaladora.

E não só a opinião pública brasileira. A narrativa anticorrupção da Lava Jato se tornou uma operação cheia de conexões internacionais, porque o Brasil, definitivamente, desde que ingressou no clube dos petroleiros, entrou no mundo cruel dos adultos da geopolítica.

O Brasil entrou no mundo dos adultos da geopolítica, mas o governo não amadureceu. Não tem sistema de inteligência. Não tem mídia. Dilma e todo o Palácio do Planalto falam ao telefone sem se preocuparem com grampos. A diretoria da Petrobrás, mesmo depois de descobrir as maiores reservas do mundo, idem.

Sem inteligência e sem mídia, o governo brasileiro tornou-se alvo fácil para uma operação midiático-judicial de “mudança de regime”, que visa nos tomar os recursos naturais e controlar a nossa economia.

Nada mais oportuno para um Ocidente em crise. Mesmo os países supostamente socialistas da Europa (França, Suécia, etc), não  podem evitar de sentir uma certa comichão no estômago, pois todo o conforto de que desfrutam hoje adveio, justamente, da exploração econômica e domínio político sobre países como o Brasil.

Essa é a conjuntura. A pior possível.

No entanto, na contramão de tudo e todos, o Brasil está se mobilizando. E com uma energia que tem surpreendido os mais otimistas.

Artistas e intelectuais que eu supunha há tempos perdidos para o sofá da desilusão, estão nas ruas, nas redes sociais, agitando, militando pela democracia.

O grito contra o golpe ecoou muito mais alto do que qualquer um poderia imaginar.

Talvez seja porque ninguém se indigna mais, ninguém se revolta tanto, como o homem que descobre que foi enganado.

Muita gente odeia o PT com todas as suas forças porque se sente enganado e traído. Tanto é que as figuras mais tomadas de ódio pelo partido às vezes são aqueles que já votaram nele.

Mas a mesma coisa agora acontece contra a Globo e contra a Lava Jato.

As pessoas que acreditaram, um dia, no jornalismo da Globo e nas investigações da Lava Jato, estão decepcionadas.

A truculência exibida na condução coercitiva de Lula foi a mesma exibida em todos os casos anteriores da Lava Jato. Mas foi aí que caiu a ficha em todo mundo.

Sergio Moro vem abusando da força e infringindo direitos desde o início da operação. Violando direitos sistematicamente.

Por que João Santana e esposa continuam presos?

A prisão é uma violência tão grande que, na minha opinião, não deveria sequer existir, para ninguém, com exceção de sociopatas assassinos e estupradores.

Prisão política, então, somente em ditaduras!

Por que Vaccari foi condenado?

Em relação a Marcelo Odebrecht, condenado a incríveis 19 anos de prisão, Sergio Moro também não encontrou nada contra ele. Há coisas contra a empresa Odebrecht, claro, porque a partir do momento em que uma empresa, com décadas de história, é devassada de cima a baixo, sempre se encontrará alguma coisa. Mas não se pode jogar pessoas em masmorras perpétuas por causa da corrupção de todo um sistema político.

Quando derrubaremos as nossas bastilhas?

Imagine se a Globo fosse alvo da mesma devassa que sofre hoje a Odebrecht? E o Itaú? E o Bradesco?

Alguém imagina que alguma empresa brasileira ficaria de pé depois de uma devassa brutal como a conduzida pela Lava Jato, uma devassa que não respeita o singelo fato da Odebrecht empregar mais de 200 mil famílias?

Enfim, o golpe está aí.

O impeachment é apenas um dos desdobramentos do golpe.

Qualquer movimento que façamos, o golpe faz outro.

Botamos alguns milhões nas ruas para defender a democracia e, no dia seguinte, a mídia diz que não havia ninguém.

Só que nós, que lutamos contra o golpe, também temos nossos trunfos.

A democracia, por exemplo, é um trunfo.

Nós temos a democracia a nosso lado: o respeito ao voto, o respeito às garantias individuais, o repúdio à condenação precipitada de pessoas e partidos, o repúdio a um judiciário truculento, fascista e partidário.

Pode parecer pouco, mas é por isso que iremos vencer. A paixão democrática incendiou o país de maneira suficiente para acender o alerta dos defensores do golpe.

Há muito tempo que não se vê, no Brasil, a paixão pela democracia fazer tanto barulho. Nem nas Diretas Já. A direita consegue botar pessoas nas ruas por uma ou duas horas, tirando selfies com polícia. Para isso, investem-se milhões de dólares. A mídia faz campanha maciça. O governador de São Paulo libera as catracas de metrô, tentando incentivar a presença de pobres (que mesmo assim não foram). A Fiesp distribui comida e patos infláveis. Aparecem carros e mais carros de som gigantescos.

O campo democrático, por sua vez, está ocupando a rua de maneira permanente. Praticamente todos os dias, há manifestações de rua, debates, encontros, em todas as cidades brasileiras e inclusive no exterior. E tudo isso sem nenhuma cobertura da mídia, que finge que não existimos.

A paixão não é pelo governo nem pelo PT, que todos olham com um pouco de desprezo, tristeza e frustração, inclusive por não estar fazendo nada de concreto para vencer um golpe que irá prejudicar não o governo, não o PT, mas o futuro de várias gerações.

Ao contrário, o ministro da Fazenda, Nelson Barbosa, mandou ao Congresso, no início da semana, um pacotão de austeridade impopular, que caiu como uma bomba junto ao funcionalismo público, atrapalhando as articulações das centrais sindicais para barrar o golpe.

A iniciativa do governo só encontra uma explicação: estupidez política. Não sou contra a austeridade. Ao contrário, acho um conceito bonito: um governo austero é uma coisa bonita. Mas o tipo de austeridade vendido pelo neoliberalismo é um engodo. Não tem austeridade nenhuma. O governo gasta cada vez mais com juros, que vão para o bolso de banqueiros e rentistas internacionais, e cada vez menos com serviços essenciais para o povo: essa é a “austeridade” que tentam nos vender.

O governo não pode esperar algumas semanas, quiçá alguns meses, para vencer o impeachment, superar o golpe, e depois vir conversar com a população sobre as medidas necessárias, por mais duras que sejam, para fazer o país voltar a crescer?

Sem vencer o impeachment, sem recuperar o respeito ao menos de sua base social, não há estabilidade política ou econômica. Sem estabilidade, não há crescimento, não há votações no congresso, não há austeridade.

A luta contra o golpe, de qualquer forma, despertou sentimentos profundos de amor à democracia, que estão muito além das críticas que fazemos ao governo e os partidos.

É com estes sentimentos que, esperamos, venceremos as tentativas de nos usurpar o direito político do voto.

Querem derrotar o PT, tudo bem. Esperem as eleições de 2018.

O povo já entendeu que não pode mais esperar o governo tomar atitude. Agora é hora de nos mobilizarmos, nós mesmos,  para derrotar o golpe midiático.

Por isso montamos a brigada Herzog, um movimento relâmpago que, em 48 horas, já reúne mais de 400 pessoas, organizadas em secretarias e uma diretoria executiva.

Dentro de algumas horas, teremos um blog, uma fanpage, um âncora diário dando notícias em inglês ao mundo. Já estamos traduzindo artigos de fora para o Brasil e levando artigos do Brasil para fora. Enfim, teremos uma máquina para denunciar este fascismo midiático de que temos sido vítimas há tantos anos.

A oposição ainda tem largas esperanças de dar o golpe, mas já entendeu que o preço de sua aventura tem subido dia a dia.

Os defensores do impeachment estão inscrevendo seus nomes na história como golpistas inimigos da democracia.

As acusações de corrupção contra o governo, depois de tudo que sabemos, inclusive vindo da própria Lava Jato, tornaram-se incrivelmente hipócritas.

Todos os grandes partidos se beneficiaram de processos de corrupção, desde os anos 80.

Aécio Neves está mergulhado até o pescoço na corrupção envolvendo a estatal Furnas.

FHC atolou-se nas denúncias de compra da reeleição e da privataria.

Cunha, então, nem se fala.

Eles estão ocultando o principal do povo: quem irá substituir Dilma?

Quem é mais honesto do que a nossa presidenta?

Falsos vestais!

Bandidos disfarçados de paladinos da honestidade!

Quanto aos meios de comunicação que veiculam e distorcem essas denúncias, são os mais bandidos de todos!

Filhotes marginais da ditadura! Repletos de processos de sonegação, ocultação de imóveis, lavagem de dinheiro, contas clandestinas no exterior!

Encerro o post lembrando que o nosso movimento Brigada Herzog não conta com financiamento, evidentemente, de nenhum governo, estatal ou partido político.

Muito menos recebemos recursos, como os coxinhas, de ongs norte-americanas.

O Cafezinho, idealizador deste movimento, está bancando tudo do próprio bolso, o que não é muito, porque a maior parte do trabalho é voluntário.

Por isso, agradeceríamos imensamente se o internauta entrasse nesta página, e fizesse uma doação de qualquer valor. Ou uma assinatura.

Reiterando: para ajudar a Brigada Herzog e o Cafezinho, clique aqui.

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Miguel do Rosário

Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.

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