Um movimento que reúne milhares de protestantes evangélicos em todo o país, com participação de pelo menos 1.500 pastores, acaba de divulgar um manifesto pela normalidade democrática, que já reuniu mais de quatro mil assinaturas.
Abaixo a íntegra do manifesto, claramente antifascista, progressista e antigolpista.
É um texto tão objetivo e conciso, que não preciso nem reproduzir trechos aqui.
O manifesto denuncia a seletividade da mídia, conclama seus fieis a não entrarem no jogo da condenação precipitada, pede respeito ao voto!
É um texto mais lúcido, corajoso e direto do que o de muitos manifestos acadêmicos…
O Cafezinho entrevistou rapidamente o pastor Ariovaldo Ramos (foto), que encabeça o manifesto e preside o movimento, mas – como já disse – o texto ficou tão bom que nem preciso reproduzir nossa conversa.
Parabéns aos evangélicos!
Na próxima segunda-feira, o mesmo movimento organiza um evento para discutir a legalidade democrática no país.
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Manifesto de Evangélicos pelo Estado de Direito – Iniciativa do Missão na Íntegra
Nestas últimas semanas, a nação brasileira tem vivido momentos de aflição, angústia e ódio. A ausência de serenidade e cautela, nesta hora crítica, tem despertado muita preocupação e tememos que o acirramento provocado venha custar vidas humanas.
Conquanto tenhamos entre os membros de nosso movimento, como em todo o universo evangélico, as mais diversas opiniões políticas, ideológicas e opções partidárias, há em comum a pregação da tolerância, da paz e da justiça, conforme a orientação das Escrituras Sagradas. Desejamos, neste manifesto, nos posicionar a respeito desses acontecimentos.
Todos os signatários deste manifesto declaram que:
• como cristãos, rejeitamos e denunciamos com veemência a corrupção, a iniquidade, a impunidade e o ataque ao Estado Democrático de Direito. Esses desvios fazem com que o pão não esteja na mesa do pobre, e deixem os enfermos e os órfãos desamparados.
• entendemos que a corrupção e a impunidade têm sido problemas endêmicos na sociedade brasileira. E que a indignação de todos nós contra isso é justa e profética. Contudo, rejeitamos igualmente toda indignação pecaminosa que suplante o ordenamento jurídico, que aja com parcialidade e dissemine o ódio e o desejo de vingança entre os brasileiros.
• somos favoráveis a que todos, em quaisquer posições que ocupem ou de quaisquer camadas da sociedade, denunciados na forma da lei por possíveis crimes, sejam investigados e julgados. Porém, só se faz justiça civil pela aplicação rigorosa e exclusiva da lei. Não concordamos que os ritos necessários para o juízo legal sejam adulterados apenas para atender ao clamor público.
• rejeitamos a postura midiática tendenciosa com divulgações editadas dos processos investigativos. Essa prática irrefletida apenas tem promovido dias de aflição e angústia para os brasileiros, além de propagar o ódio e a intolerância com quem pensa de forma diferente sobre a condução dos processos. Por isso, nós pedimos à nação, e em especial aos nossos irmãos em Cristo, muita cautela e serenidade, e que o desejo de justiça não nos torne injustos.
• sabemos que os gritos de “crucifica-o" são motivados, muitas vezes, por gente mal intencionada e isso pode nos trair e nos levar a julgamentos precipitados. Entendemos que condenar alguém, antes que todo o processo investigativo seja concluso, antes que se dê amplo direito de defesa, e antes que um tribunal dê sua sentença final, constitui um perigoso precedente para que quaisquer poderes, seja o Executivo, o Legislativo ou o Judiciário, excedam os seus limites constitucionais.
• exigimos respeito ao voto. Toda eleição é uma convocação e um embate entre eleitores, e o voto é o suporte da legitimidade. Se a escolha dos eleitores corre o risco de ser invalidada, tem de haver um processo segundo o ordenamento jurídico, logo, isso tem de ocorrer de forma isenta e sob o império da Lei. O mandato outorgado pelo povo, por meio do voto, não pode ser levianamente questionado.
• rejeitamos todo ódio. O ódio, constatado muitas vezes nos discursos de figuras públicas, incita a violência e isso, segundo a nossa fé, é diabólico e não pode ser admitido entre os que constituem a Igreja do Senhor Jesus em solo brasileiro. Cabe a todo cristão a tarefa de ter paz com todos, seja em serviço ao próximo, seja em tolerância com quem pensa diferente, sendo capaz de amar e interceder por seu oponente. Intercessão que, rogamos, seja feita por nossa nação.
• defendemos que as investigações devam continuar, que as provas sejam coletadas e os responsáveis sejam arguidos pelos tribunais, conforme o estabelecido nas leis brasileiras. Que não haja privilégios para qualquer pessoa investigada, independente de posição ou partido político.
• defendemos a democracia como valor inexorável da Nação e não aceitaremos que nada possa interferir no Estado de Direito. Queremos que a institucionalização seja observada e que prevaleça a serenidade necessária para que o estado democrático seja preservado.
• reiteramos que "a voz" das ruas deve ser ouvida, mas o limite é a Constituição Brasileira. Cremos que todos devem ser investigados, mas dentro das garantias constitucionais. Que o voto e a escolha da maioria devem ser honrados, como reza a lei. Cabem às instituições, designadas democraticamente para tal, a garantia do Estado de Direito, a fim de que quaisquer cidadãos tenham seus direitos respeitados.
Para tanto permaneceremos em vigília e em orações.
Que o Senhor nos faça instrumentos da sua paz e da sua justiça.
Alguns dos primeiros signatários. O documento já tem mais de quatro mil assinaturas.
1. Ariovaldo Ramos, líder do Missão na Integra, pastor batista, presidente da Visão Mundial
2. Ed René Kivitz, pastor Igreja Batista de Água Branca, SP
3. Carlos Queiróz, pastor – Igreja de Cristo, Fortaleza
4. Neil Barreto, pastor – Igreja Batista Betania, RJ
5. Paulo Cappeleti, pastor – Missão Sal, Santo André, SP
6. Ricardo Bitun, pastor – Igreja Evangélica Manain
7. Welinton Pereira, pastor metodista, Visão Mundial
8. Delaide Alves Miranda Arantes / Diaconisa Igreja Batista Renascer Goiânia. – Ministra Tribunal Superior do Trabalho
9. Guilherme Burjaca, pastor batista, Missão Kairós
10. Levi Araujo, pastor – Igreja Batista em Agua Branca
11. Christian Gillis, pastor – Igreja Batista Redenção, BH
12. Valter Ravara, pastor
13. Edmilson Marques Dias, pastor
14. Marco Davi de Oliveira, pastor – Igreja Batista em Parque Doroteia, SP
15. Caio Marçal, batista, BH
16. Clemir Fernandes, pastor batista
17. Thiago Torres, pastor
18. Uilian Corcino, pastor
19. Tales Messias, pastor, Igreja Episcopal, Recife
20. Rodrigo Lins, pastor, BH
Até meio dia do dia 24 de março este Manifesto já conta com 4050 assinaturas.
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