Foto: Ricardo Stuckert/ Instituto Lula
por Theófilo Rodrigues
A nomeação do ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva como ministro da Casa Civil anunciada nesta quarta-feira (16/03) traz novos elementos à recente e atribulada conjuntura nacional.
Desde que os blogs do Nassif e do Tarso anunciaram na segunda-feira (14/03) em primeira mão essa possibilidade, as mesas de bares, grupos de whatsapp e almoços familiares não tratam de outro assunto.
A grande questão que a todos atormenta é: para onde irá o governo com Lula no ministério?
Há uma intuição generalizada no âmbito da esquerda do espectro político que atua na base do governo federal, leia-se PT, PCdoB, PDT e movimentos social, sindical e estudantil, de que Lula representaria uma guinada do governo à esquerda.
Neste cenário, Lula faria o governo federal se reencontrar com a base que o elegeu em 2014, mas da qual se afastou aos poucos a cada anúncio de medidas ortodoxas de ajuste fiscal, em especial aquelas representadas pelo ex-ministro da Fazenda Joaquim Levy.
Assim, Lula estancaria as discussões em torno de medidas de ajuste, e forçaria mudanças na política econômica em direção a uma maior heterodoxia fiscal, com redução de juros e novos investimentos com base nas reservas internacionais.
Lula conseguiria articular ainda para que a agenda liberal do Senado – independência do Banco Central, mudanças na partilha do Pré-Sal, etc – fosse alterada ou interrompida. Além de impor outras pautas, como a mudança na tabela do imposto de renda, a recriação da CPMF e o imposto sobre grandes fortunas.
Vale aqui ressaltar que tal expectativa não é nova. Recordo-me de reunião em que estive presente em meados de 2014 onde o líder do MST, João Pedro Stédile, recomendou com todas as palavras: “eleição é guerra e em guerra temos que ir com nossas melhores armas”. Stédile referia-se, é claro, a Lula como a melhor arma da esquerda para disputar aquela eleição.
A realidade, no entanto, parece ser bem diferente dessas idealizações.
Longe de significar uma guinada à esquerda, a entrada de Lula no ministério de Dilma parece indicar uma sinalização para o centro do espectro político.
A entrada de Lula no ministério não é algo corriqueiro. Antes disso, trata-se de uma medida, no mínimo, desesperada, pois toda ação tem sua reação.
O avanço da agenda conservadora no parlamento, o iminente desembarque de uma parcela da base do governo de suas fileiras, a ampliação das manifestações oposicionistas nas ruas, o ativismo judicial cada vez mais irresponsável – a condução coercitiva e o pedido de prisão que uniu Hegel e Marx são exemplos – e a atuação radicalizada dos meios de comunicação – vide os editoriais e a cobertura das manifestações do dia 13 de março – geraram essa reação inesperada: a nomeação de Lula no ministério.
Contudo, na Casa Civil o ministro Lula atuará no campo da articulação política. E por articulação política entenda-se: reorganizar os partidos que atuam na base parlamentar, ampliando espaços para governadores, prefeitos e o PMDB, por exemplo, e sinalizar com políticas para a burguesia industrial e financeira.
Não há dúvidas de que haverá também sinalização para a esquerda do espectro político. Mas aqui as sinalizações provavelmente ficarão apenas na retórica. O que será bastante coisa já que apenas com Dilma nem retórica havia…
Lula entra para o governo com um objetivo fixo, ou melhor, uma prioridade única: fazer com que o governo eleito em 2014 termine apenas em 31 de dezembro de 2018. Sem ceder demais para a agenda oposicionista.
Caso, além disso, consiga ainda que seu campo político tenha um candidato que seja pelo menos competitivo em 2018, já terá sido vitorioso.
Theófilo Rodrigues é cientista político
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