Se mi… ou não ser mimimi (eis a questão)
por Cynara Menezes, no Socialista Morena
Pouco importa que, segundo o Datafolha, tenha tido mais gente nessa manifestação de hoje em São Paulo do que no outro “recorde de público”, em março do ano passado. Naquela época, a manchete era que a manifestação na avenida Paulista “só perdeu para as Diretas-Já”. Hoje foi “superou as Diretas-Já”. Sorry, mas não se derruba um governo porque um Estado não se sente representado por ele. Somos uma federação de 26 Estados, além do Distrito Federal. E inegavelmente não existe uma onda tomando o País pelo impeachment de Dilma. Podem espernear e gritar: não há clima no país para derrubar Dilma.
Não se trata de menosprezar os manifestantes e sua insatisfação com o governo. Eu entendo. Mas é possível tranquilamente dizer que são os mesmos que já não votavam nem votarão no PT. Ou seja, não mudou o perfil de quem está indo para as ruas contra Dilma. São os mesmos que ficaram insatisfeitos com a vitória da petista na eleição em 2014. Não houve acréscimos, não ganharam a adesão das classes mais baixas, da periferia. A insatisfação apenas das classes média alta e alta não pode ser razão para a retirada do poder de uma presidente legitimamente eleita. Um só setor da sociedade não pode tomar para si o arbítrio de decidir o destino de todos.
O que a mídia esperava não se concretizou, mesmo com o empurrãozinho da condução coercitiva de Lula e da delação (que não se sabe até agora se existiu) de Delcídio. Mesmo com todo seu furor golpista em editoriais pedindo o fim do governo e a renúncia de Dilma, o tsunami não veio. Sim, teve muita gente. Além de São Paulo, que teve 500 mil pessoas na rua, segundo o Datafolha, houve 100 mil em Brasília, 160 mil em Curitiba e 120 mil em Recife, segundo a PM. Mas beeeem distante do “crescendo” que eles esperavam. Falta medir a reação do outro lado (e dos outros Estados) se Dilma sofrer impeachment –ou se Lula for preso. Não se pode subestimar a reação de pessoas alfabetizadas politicamente.
Mesmo que se consiga um movimento para derrubar Dilma dentro do Congresso, sabe-se lá com que justificativas jurídicas –porque até agora não há nenhuma–, não existe clamor popular para respaldá-lo. Pelo menos não o suficiente. Eu quero ver até onde a “grande” imprensa pretende esticar esta corda. Já não pode mais contar com a parceria do candidato derrotado Aécio Neves, que foi escorraçado da manifestação em São Paulo. Estará a velha mídia disposta a chocar o ovo da serpente e se colocar à direita do tucanato, ao lado do grande expoente das manifestações, Jair Bolsonaro, para tirar o PT do poder?
Não duvido. Só não esperem contar com o apoio popular. O povo não é bobo.
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