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‘A história é implacável com quem golpeia a democracia’, diz governador da Paraíba

Foto: Ivan Cabral / A Charge Online Em entrevista exclusiva ao 247, o governador da Paraíba, Ricardo Coutinho, do PSB, faz um alerta: “a democracia brasileira está sob forte ameaça”; ele diz ainda que a seletividade do Judiciário e a ação política de alguns meios de comunicação criaram o ambiente de intolerância no País; “Se […]

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Foto: Ivan Cabral / A Charge Online

Em entrevista exclusiva ao 247, o governador da Paraíba, Ricardo Coutinho, do PSB, faz um alerta: “a democracia brasileira está sob forte ameaça”; ele diz ainda que a seletividade do Judiciário e a ação política de alguns meios de comunicação criaram o ambiente de intolerância no País; “Se o golpe for contido, será uma grande derrota dessa mídia, que apostou todas as fichas na derrubada da presidente Dilma”; Coutinho também condena as “saídas" para a crise política que têm sido propostas pela oposição; “ela não tem que renunciar coisa nenhuma, tem é que governar, ajustando a política econômica”; sobre o recuo de setores da oposição após o pedido de prisão do ex-presidente Lula, ele disse que isso reflete medo da reação popular e também da História; “ela é cruel com quem agride a democracia”

por Leonardo Attuch e Walter Santos, no Brasil 247

O governador da Paraíba, Ricardo Coutinho, do PSB, está no poder praticamente desde o mesmo momento em que o Partido dos Trabalhadores, com Lula e Dilma, passou a exercer o comando da administração federal. Prefeito de João Pessoa eleito em 2004 e reeleito em 2008, ele deixou o cargo para disputar o governo da Paraíba em 2010 e, depois, em 2014. Foram quatro vitórias eleitorais seguidas, num período de grandes transformações. “A imagem não tão distante do Nordeste era de uma terra esturricada e de trabalhadores quebrando pedra para sobreviver”, diz ele. “Hoje é de modernidade e crescimento”.

Coutinho afirma que as transformações sociais ocorridas nos últimos anos alimentaram a luta de classes e despertaram sentimentos adormecidos na sociedade. Quando isso se juntou aos escândalos de corrupção, criou-se o caldo de cultura para o ambiente de ódio. Ele afirma que, após as manifestações deste domingo, a presidente Dilma Rousseff deve convocar as forças democráticas da sociedade, da base e da oposição, para um amplo diálogo. “A economia está em depressão”, alerta. Leia, abaixo, a íntegra da sua entrevista.

247 – Nesta semana, após o pedido de prisão do ex-presidente Lula, líderes da oposição, incluindo seu adversário nas últimas eleições, demonstraram uma posição mais prudente. A que o sr. atribui esse recuo?

Ricardo Coutinho – O PSDB, o senador Aécio Neves e o senador Cássio Cunha Lima incitaram o ódio desde o primeiro dia após a derrota nas eleições, procurando dividir o País. Agora, ensaiam um recuo e isso se deve a dois fatores. O primeiro é a reação popular, ou a reação do bom senso, que se expressou em razão dos exageros cometidos contra o ex-presidente Lula. O segundo fator, eu diria, é o medo da História. Ela é implacável com todos aqueles que golpeiam a democracia. 

247 – Eles imaginavam que um golpe branco seria aceito pela sociedade?

Coutinho – Todos esses abusos já começam a abrir a mente das pessoas. O julgamento da História pode ocorrer muito rapidamente. Todos que tentam chegar ao poder por vias tortas acabam tendo, mais cedo ou mais tarde, que prestar contas.

247 – Como o sr. avalia o pedido de prisão do ex-presidente Lula?

Coutinho – Olha, é preciso ter um mínimo de bom senso nesse país. Eu não pertenço ao partido do ex-presidente Lula e da presidente Dilma Rousseff, embora já tenha pertencido no passado. Não quero botar panos quentes em ninguém. Mas existe um valor acima de todos os outros, que são os direitos fundamentais do cidadão, que, na prática, são os valores essenciais da democracia. Sem nenhum alarmismo, eu digo que hoje a democracia está em risco no Brasil.

247 – Como esse risco se materializa?

Coutinho – Quando você vê um deputado como o Jair Bolsonaro pregando intervenção militar, ele se aproveita da democracia para pregar a sua destruição. Da mesma forma, quando você vê meios de comunicação, que possuem uma agenda política, norteando os caminhos do Poder Judiciário, isso também representa uma grave ameaça. 

247 – O sr. acredita que o Judiciário se verga à influência dos meios de comunicação?

Coutinho – Em alguns casos, sim. E isso coloca em risco tanto o Judiciário como o Ministério Público. Eu defendo um MP independente, como ele passou a ser na era Lula. Eu quero uma Justiça que aja com rigor e eficiência, mas não de forma seletiva, como tem ocorrido no Brasil. Hoje, há um ambiente de ódio muito grande no Brasil, incitado pelos que perderam as eleições e por forças que estavam adormecidas na sociedade. E há, no campo popular, um sentimento de injustiça diante da seletividade das ações conduzidas pelo Judiciário.

247 – Como um político de esquerda, como o senhor, avalia o cerco ao PT?

Coutinho – Acho que nós, do campo progressista, perdemos uma grande oportunidade. Houve muitos avanços sociais nos últimos anos. Mas fez-se muito pouco na democratização do acesso à terra e na construção de um novo modelo de relação entre os poderes Executivo e Legislativo. De certa forma, a relação promíscua entre esses dois poderes foi até aprofundada. Outra falha gravíssima foi não avançar na democratização dos meios de comunicação.

247 – E que avanços o sr. reconhece?

Coutinho – Muitos. A foto que você tinha do Nordeste no passado não era a do centro de convenções ou do centro de inovação tecnológica de João Pessoa. Era a de uma terra esturricada com uma caveira de boi e homens quebrando pedras, além dos saques a feiras. Estamos há cinco anos vivendo umas das maiores estiagens da história e não houve mais registros de saques. Programas sociais que foram implantados com sucesso no Brasil poderiam, hoje, estar sendo usados para conter as migrações na Europa a um custo muito baixo. Tivemos também uma política externa altiva, que abriu novos blocos de comércio para o Brasil. Foram avanços muito grandes, mas com falhas na disputa por espaços de poder. E hoje são esses espaços de poder, como os meios de comunicação, que fomentam o ódio de classe e a intolerância. Há uma seletividade muito grande na mídia também.

247 – O sr. enxerga perseguição ao ex-presidente Lula e a políticos de perfil mais à esquerda?

Coutinho – Há, sim, uma seletividade muito grande. Há seis meses, por exemplo, eu escuto falar desse apartamento no Guarujá, como se fosse um apartamento à beira do Rio Sena. Ora, se há algo errado, que se apure. Mas vamos então investigar todo mundo. Hoje, no Brasil, define-se primeiro o fim, que é alcançar o ex-presidente Lula, e depois os meios para que isso aconteça. É uma inversão total. No caso do Guarujá, chegaram até a criminalizar uma foto, como se fosse um crime o ex-presidente Lula visitar um apartamento que poderia ser dele.

247 – A Globo seria a principal força por trás dessa perseguição?

Coutinho – Não é normal uma concessão pública passar 24 horas do dia incitando uma derrubada de governo. Isso não é civilizado. Isso não é democrático.

247 – Como o sr. avalia a conduta do juiz Sergio Moro à frente da Lava Jato?

Coutinho – Ele não pode desperdiçar a grande oportunidade que está tendo de combater a corrupção, deixando-se seduzir por um canto de sereia de celebridade. Vejo também vazamentos que ocorrem cotidianamente para os mesmos veículos. A Justiça tem que estar blindada. Não pode estar sendo alimentada por projetos políticos. 

247 – O sr. vê seletividade nestas operações?

Coutinho – A corrupção não é de um partido, que hoje está sendo criminalizado. Ela é das pessoas. A Inglaterra, por exemplo, levou 400 anos para controlá-la e criar mecanismos eficientes de fiscalização. O Brasil é um país que possui um grande e tradicional histórico de corrupção. O que podemos fazer é combater essas praticas e tornar limpo ou mais limpo o Estado brasileiro. 

247 – Como o sr. avalia os métodos das operações?

Coutinho – Me incomoda muito ver grandes corruptores se tornarem delatores e irem passear de barco. A delação premiada deve ser a excepcionalidade – e não a regra.

247 – Quem vence essa guerra: a mídia ou a presidente Dilma?

Coutinho – Desde o dia seguinte às eleições, tem havido um esforço muito grande para cassar a presidente Dilma Rousseff a qualquer custo. Eu diria que, se não houver um golpe, um dos maiores derrotados desse processo será a grande mídia. Ela foi violenta, foi seletiva, sem compostura e jogou tudo, todas as suas fichas, nessa aposta de golpe. O governo da presidente Dilma é o mais sabotado e mais atacado desde Getúlio Vargas.

247 – Representantes da oposição sugerem que a presidente Dilma Rousseff renuncie como um gesto de grandeza. Como o sr. avalia essas propostas?

Coutinho – A presidente Dilma não tem que renunciar a nada. Ela foi eleita, de forma legítima e é uma mulher honrada, por quem tenho grande respeito. Ela tem que governar com tranquilidade. Os que a atacam são falsos profetas da moral.

247 – O que o sr. faria se estivesse no lugar dela?

Coutinho – É hora de convocar o diálogo com todas as forças democráticas, não apenas da base do governo, como também da oposição. Ainda há pessoas na oposição com espírito democrático, que não se deixaram contaminar por ambições de poder imediatas e a qualquer custo. Esse é um dialogo necessário. O Brasil não está mais em recessão. Estamos falando de uma depressão econômica. Estamos também perdendo as referências e ninguém sabe ao certo como será sua situação daqui a quatro meses. Por isso, além do diálogo, é preciso também rediscutir a economia em torno de um grande projeto de desenvolvimento. Nos  últimos anos, o Brasil reforçou sua posição como exportador de commodities, o que o tornou mais vulnerável aos ciclos econômicos. Isso também precisa ser rediscutido.

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