O jornalista Sidney Rezende, um dos profissionais mais respeitados do país, criador do modelo de programação da rádio CBN e um dos fundadores da GloboNews, falou pela primeira vez neste final de semana sobre sua demissão do canal de notícias da Rede Globo em novembro do ano passado, sem direito a comunicado de despedida
no Vermelho
O portal Notícias da TV publicou neste domingo (28) que em uma premiação dos melhores do Carnaval do Rio de Janeiro, que reuniu em torno de 600 pessoas no sábado (27) à noite, Rezende fez, pela primeira em público, um duro discurso contra sua antiga emissora, onde trabalhou durante mais de 20 anos. Disse que a Globo está “extrapolando os seus limites” e “impedindo que as expressões populares do nosso país funcionem de uma maneira mais clara”. “A Globo não é dona do Brasil, a Globo não é dona do Carnaval, a Globo não é dona do futebol”, bradou, propondo um “questionamento de competência” da emissora.
Jornalista respeitado nos meios profissional e acadêmico, ele foi dispensado pela Globo em 13 de novembro, um dia depois de publicar em seu site, o SRZD, um texto no qual criticava a obsessão dos jornalistas por notícias ruins e pela aposta no impeachment da presidenta Dilma Rousseff como “único caminho para a redenção nacional”.
Segundo o portal, o contrato de Rezende com a Globo só venceu neste domingo (28) e por isso, o jornalista ficou em silêncio até o último sábado (27). O jornalista aproveitou a premiação do Carnaval que seu site promove para expor seu posicionamento diante da Globo.
A fala do jornalista foi uma reação a “interferência” da emissora nos horários do futebol e dos desfiles das escolas de samba. “A Globo está ultrapassando os seus limites como meio de comunicação no momento em que interfere em horários de festividades, nas partidas de futebol, nos desfiles das escolas de samba, quando adequa as festividades populares a uma grade de programação de seu interesse”, explicou ao site Notícias da TV.
Ainda segundo o Notícias da TV, o prestígio da Globo, para o jornalista, “tomou um viés que acabou sufocante para as expressões culturais”. Rezende afirma que, como detentora da transmissão, a Globo tem todo o direito de exigir um bom espetáculo. No caso do Carnaval, pode determinar quantas câmeras e quantos microfones captarão a transmissão, mas não impor o ritmo e o tempo do desfile, como vem gestando nos bastidores. “Ela [a Globo] não pode interferir no processo de criação de maneira sufocante”, afirma.
O jornalista ressaltou em seu discurso que não tem mágoas da emissora, mas que defende uma “alternativa a este modelo único”. Sem revelar detalhes, diz que seu novo projeto profissional será uma dessas alternativas, algo “ambicioso” que irá “ao encontro ao espírito público”. “Não estou criando nada deliberadamente contra a Globo. Não sou viúva da Globo. Estou contra o olhar único”, diz.
Demissão
Na época em que foi demitido, Rezende não concordou que teria que mentir sobre sua saída. O diretor-geral de jornalismo da Globo, Ali Kamel, havia dito que o jornalista deveria concordar com uma nota oficial em que seria dito que ele estava saindo da emissora por motivos pessoais, para cuidar de seu site. Mas o jornalista não concordou e acabou ficando sem a despedida oficial, em que o diretor Kamel enumera as qualidades profissionais do dispensado.