por Paulo Nogueira, no Diário do Centro do Mundo
Lula demorou mais de dez anos para reagir a uma mídia que tenta freneticamente destruí-lo.
Seu discurso ontem nos 36 anos do PT foi talvez o mais beligerante desde que ele ascendeu ao poder, cheio de dedos e de concessões para evitar que a plutocracia fizesse com ele o que fizera com Getúlio e Jango.
Não existe um grande partido de oposição, afirmou. Existe o partido da Globo, o partido da Veja, o partido dos jornais, todos unidos numa missão: dar um golpe.
Estes partidos exercem um controle sinistro sobre o Ministério Público e sobre a PF. (Isso nas barbas do ministro da Justiça, um dos mais inoperantes da história do Brasil, se não o mais.)
A ironia é que quanto mais Lula for agressivo tanto mais ele será atacado, porque as grandes empresas de mídia têm pavor da ideia de que o governo federal acabe com mamatas como as multimilionárias verbas publicitárias e como o olhar cego de Brasília para brutais sonegações.
Compare.
O ministro da Justiça de Geisel, Armando Falcão, observou num despacho para o chefe que a imprensa não “vive e nem sobrevive” sem o governo. É uma dependência visceral, parecida com a de recém-nascido diante da mãe.
A imprensa necessita desesperadamente de publicidade e outros “favores especiais”, para usar uma expressão empregada por Roberto Marinho para extrair vantagens dos militares em troca de apoio editorial.
Falcão chamava tudo isso de “armas incríveis”.
O que fez Lula (como Dilma depois) com estas “armas incríveis”?
Nada.
Aécio no governo de Minas matou de fome a mídia que se opunha a ele. Alckmin faz o mesmo em São Paulo.
Não que isso seja bonito. É horrível aliás. Mas se este é o jogo, ou você joga ou desiste dele.
Num mundo menos imperfeito, vigoraria um capitalismo real na mídia, em que as companhias dependeriam apenas de si próprias e de sua competência, e não do dinheiro do contribuinte. Mas não é assim. Nunca foi assim.
Olhemos para o quadro sob termos práticos: nenhum jornal, nenhuma revista é obrigado a fazer jornalismo equilibrado, isento, imparcial. Você não pode forçar os Marinhos, por exemplo, a cobrir a meia tonelada de pasta de cocaína encontrada no helicóptero de um amigo de Aécio.
O mercado – os leitores – se incumbe de premiar ou castigar o comportamento editorial. E uma Justiça isenta – não é o caso nacional – puniria calúnias, difamações, denúncias sem prova e coisas do gênero.
Mas também governo nenhum é obrigado a anunciar em qualquer veículo que seja. Se você considera, e com copiosas razões, que a emissora X ou o jornal Y agem como um partido interessado em destruir você, o que o leva a anunciar neles? Impulso suicida?
Em 12 anos, Lula e Dilma colocaram 6 bilhões de reais em propaganda na Rede Globo. Isto já em pleno vigor da Era Digital, que transformou a tevê numa mídia-dinossauro. Qual o sentido disso?
O momento atual é propício a rever a dependência abjeta da imprensa em relação ao governo.
É urgente um choque de capitalismo. Já é tempo de Marinhos, Civitas e Frias deixarem de ser servidos por um Estado-Babá.
Caso Lula se reeleja em 2018, ela deveria ser uma de suas tarefas prioritárias: forçar as empresas jornalísticas a enfrentar uma coisa que elas abominam: o capitalismo real, em que você floresce ou desaba de acordo com seu talento – e não mediante injeções de dinheiro público.