É uma consequência previsível.
Se há um movimento para criminalizar a política, em todos os seus aspectos – até mesmo a doação declarada, caixa 1 de campanha, de empresas a um partido se torna um ato criminoso – o passo seguinte seria criminalizar o militante político.
O Globo faz isso hoje, ao dar notícia de que há “militantes políticos” empregados numa agência do governo.
A manipulação da informação, como sempre, está no contexto: todos os governos do mundo empregam militantes, porque isso não é crime. Governos democráticos fazem isso: os governantes eleitos nomeiam pessoas de sua confiança para uma série de cargos… de confiança.
Para isso são eleitos pelo povo, para nomear pessoas de confiança para cargos estratégicos.
A Globo descobrirá, então, que há “militantes políticos” que são ministros, ou mesmo presidentes de estatais.
É do jogo.
Se o governo nomeia incompetentes, isso é outra história – acontece nas melhores empresas privadas. Então que se faça a crítica, necessária, à incompetência.
Que se combata, além disso, o excesso de cargos dados à militantes apenas porque são militantes.
A lógica da denúncia seletiva, porém, é a pior de todas.
Na campanha de 2014, as redes sociais descobriram que o então candidato Aécio Neves havia nomeado sua família inteira para cargos de confiança no governo de Minas.
Sua irmã cuidava das verbas da publicidade.
Até seu pai tinha recebido uma sinecura na Cemig.
Em São Paulo, o governo Alckmin, descobriu-se, tem esquemas semi-clandestinos para pagar mais de 70 mil reais por mês a blogueiros simpáticos.
João Dória, o almofadinha tucano, já recebeu alguns milhões de reais em publicidade do governo de São Paulo, para suas revistas, que ninguém jamais leu ou sequer viu em lugar algum: talvez repousem na sala de espera dos rottarys clubes.
João Dória é um “militante político”, mas como não é de esquerda, e como se veste bem, está sempre penteado, então o fato de receber dinheiro público não vem ao caso para a Globo.
Se é para denunciar que militantes políticos trabalham em agências federais – que se o faça pelo justo motivo da competência.
O que não se pode fazer é criminalizar, como o Globo faz, a figura do militante político, visto que o militante político, longe de ser um criminoso, é figura essencial para a vitalidade do regime democrático.
Claro, para a mídia, o militante político só é criminoso se for de esquerda.
O militante político de direita, aquelas senhores irritadas dos Jardins, fãs incondicionais de Sergio Moro, saudosas da ditadura e, em alguns casos, decepcionadas porque o regime militar não tenha matado todos os… militantes políticos de esquerda, este é o único cidadão de bem, segundo a mídia.
O que é, naturalmente, uma concepção fascista.
Aliás, a nossa mídia em tudo tem se notabilizado por um comportamento fascista e disseminador de valores fascistas.