Foto: Rogério Alves/TV Senado
por Alfredo Herkenhoff, em seu Facebook
O presidente de São Paulo, este país coligado com a República Jurídica do Paraná, tem 27 secretários, não, são 27 ministros. A população de SP é mais ou menos igual à da Argentina. A economia de SP tem um PIB também coincidentemente do mesmo tamanho do PIB argentino.
Pois bem, as dez empreiteiras com executivos e donos presos no âmbito da República Morista, todos por envolvimento com diretores corruptos da Petrobras, vários deles colocados em altos cargos lá na estatal nos anos 90, bem, todas aquelas empreiteiras também têm envolvimento com diversas megaobras dos presidentes tucanos que se perpetuam no Palácio Bandeirantes há 22 anos seguidos.
Mas nos contratos com São Paulo não tem corrupção à vista. Lá é tudo a prazo. FHC não mandou dinheiro para a ex-amante via contas suspeitas em paraísos fiscais. O filho dela que ela diz que é dele não é dele segundo dois testes de DNA que ela nunca viu. Nem nós vimos. Ela deve estar mentindo. FHC era corno e continua honesto.
Mas pelo sim, pelo não, FHC se tornou amigo do moleque que hoje faz mestrado em Economia na Universidade acho que de Yale. A mãe do moleque diz que ele resolveu fazer o jogo do pai que não é pai. Fica quietinho e ganhando grana para estudar e causar inveja ao meio irmão Paulo Henrique.
Se ela estiver mentindo, bem que FHC nos prove e assim podemos desprezá-la apenas como mais uma sofredora sem proteção da Lei Maria da Penha. Mas se ela estiver dizendo a verdade, que vários dinheiros saiam mensalmente de contas de valhacoutos fiscais como Caymann, Ilhas Virgens e Panamá, que saibamos, porque afinal só com a prisão de tucanos o Brasil se acalmará e a aclamará. E se estiver dizendo a verdade, fez dois abortos pagos pelo príncipe.
A nossa lei maior está sendo desrespeitada pelo próprio Supremo. Não interessa saber se em várias democracias um réu condenado em segunda instância, por um colegiado, vai para cadeia mesmo que ainda lhe restem recursos em instância superior. Nem tenho opinião formada sobre isso. Mas a Constituição diz textualmente que a condenação é para processo com trânsito em julgado. O Supremo deu mostras de quão fraco é. E está ficando ainda mais fraco por não compreender o enfraquecimento relativo da velha grande mídia.
A Lava Jato desrespeita a legislação sobre delação, que pressupõe que um acusado, para dela se beneficiar, deve se declarar culpado e confessar livremente, sem nenhuma pressão, fazer isso de forma voluntária, preferencialmente conversando antes com o seu advogado para ter uma pena reduzida como parte do acordo em que vai entregar o jogo de um crime, elucidar um caso.
E o pior no desrespeito morista é a forma criminosa de produzir meia centena de acordos de delação em meio a uma completa omissão dos tribunais superiores e do próprio Supremo. Magistrados dando bandeira de que se curvam não à opinião pública, mas à opinião editada, publicada, transmitida, repetida diuturnamente.
No esquema Moro de delação, um ladrão da Petrobrás entrega cem milhões de dólares que tinha acumulado em duas décadas e meia de roubalheira e sai livre com uma tornozeleira. Ele não dá nenhuma garantia de que não haja outros milhõezinhos escondidos numa ilhota nessas duas dezenas de valhacoutos fiscais.
A delação premiada da República Jurídica do Paraná premia o juiz, premia o delator e premia o partido político diretamente beneficiado pelas condenações de seus adversários. E curiosamente pune grandes empresários que, na sua maioria, são amigos de FHC e do presidente Alckmin, votaram todos em Aécio e todos faziam negócios grandes com o governo Lula e Dilma sim. O governo é trabalhista, gosta de obras.
Curioso também é que os bancos estavam otimistas. Tentaram até conter a Lava Jato com aquele editorial no The New York Times, o Trabuco falando bem da Dilma e tal… Mas não adiantou. A grande mídia Casa Grande Moribunda e Aécio Neves em pura patologia decidiram inflar os ânimos de delegados amigos, procuradores amigos, e todos decidiram tocar pro pau.
Mas a delação torturada nos cárceres curitibanos não reduz a corrupção porque ensina que é preciso blindagem, não só fiscal, bancária, telefônica e telemática, mas principalmente blindagem política e jurídica pela via midiática.
A Operação Mãos Limpas não acabou com nenhuma máfia italiana. Tornaram-se mais sofisticadas. Semanas atrás, um navio foi descoberto num porto da Calábria com 20 toneladas de cocaína procedente do Brasil. No ano passado, na mesma Itália, dezenas de pessoas foram presas numa única operação envolvendo corrupção na faixa de uns dez bilhões de euros…. Imóveis e drogas. Não lembro quantos Bi, mas com B de Berlusconi.
O Brasil tem a quinta maior população carcerária do mundo. E estamos a caminho de quarto lugar nesse ranking que tem os Estados Unidos em primeiro, com quase dois milhões e meio. Temos pouco mais de meio milhão de encarcerados. Aqui como lá, tudo pobre e preto.
A política de enfrentamento policial midiático contra droga e traficantes implantada nos States nos últimos 30 anos não reduziu nem o trafico nem o consumo de drogas ilícitas lá.
A Lei Maria da Penha não reduziu a violência contra a mulher.
A nossa lei de crime hediondo já tem quase 30 anos e não reduziu os crimes hediondos. Dobramos a população carcerária nesse período e ainda temos colegas idiotizados no estilo “bolsôdatênico”.
A violência no Brasil está aumentando, apesar das pedaladas estatísticas do presidente Alckmin.
Os 500 quilos de cocaina, os jatinhos, o helicóptero dos Parrela, os voos com os amigos, as fazendas, aquelas casas, o salão colonial nababesco na criação de um renomado arquiteto em Minas não existem.
A lei da Ficha Limpa não resultou em limpeza nenhuma. Ela também é levemente inconstitucional.
Mas, estamos aumentando a violência com tantos políticos sujos que elegemos, e qual é a tendência? Para onde vamos? Quo vadis? Ninguém sabe. Estamos correndo atrás do nosso próprio rabo. A sensação térmica é de que caminhamos para uma violência inaudita, uma ingovernabilidade, convulsões, guerra civil e posteriormente uma república ainda mais radicalmente inclusivista.
Os que acreditam no jornalismo partidarizado que se finge de independente, e se finge de jornalismo neutro e de qualidade, são vítimas levadas a crer que nós, que elegemos Lula e Dilma quatro vezes, somos brasileiros idiotizados, ou nordestinos subnutridos, ou petralhas amparados pelo Estado falido, ou somos a escória, o estorvo social, não passamos de uns párias e uns otários. Nossos votos não valem. Como não valem?
Dilma está acabada. Lula está morto. Getúlio também estava quando se matou. O jornalismo que se finge de neutro no Brasil produz verdades cristalinas como a lama da Samarco, esta mega mineradora que foi eleita pela Editora Abril como a melhor empresa do pais nos anos de 2013, 2014 e 2015, sendo que o terceiro e último prêmio foi conferido com justiça semanas antes de tudo aquilo vir abaixo, num dia claro sem uma gota de chuva. Era muita verdade acumulada. Era a lama de 1954 começando a causar os mesmos efeitos em 2016.