Após 200 dias de devassas, CPI do BNDES termina sem achar nenhum escândalo

Brasil, Rio de Janeiro, RJ. 06/05/2010. Prédio do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), no centro do Rio de Janeiro. - Crédito:PAULO VITOR/AGÊNCIA ESTADO/AE/Codigo imagem:56876

Confesso que a CPI do BNDES foi uma das que mais me preocupou, porque pensei: depois de usarem uma capciosa luta contra a corrupção para quase detonarem a Petrobrás, e devastarem vários setores industriais importantes, vão fazer o mesmo com o BNDES?

É o que queriam. Queimar o BNDES como mais um pedaço de lenha no fogaréu golpista e histérico dos derrotados nas eleições de 2014.

Não encontraram nada, após 200 dias de devassas, de mentiras, de intrigas, de reportagem maliciosas nas revistas da Globo.

Claro que ainda não desistiram, mas a CPI deles fracassou neste sentido.

O BNDES é o esteio da soberania nacional no mercado de crédito.

Talvez por isso, o golpismo não tenha ousado tanto.

Diferentemente da Lava Jato, que destruiu setores estratégicos porém específicos da economia (naval, construção civil, petróleo), uma operação golpista no BNDES destruiria horizontalmente todas as grandes empresas nacionais.

Inclusive as empresas de mídia, que também se beneficiaram, ao longo das últimas décadas, de generosos financiamentos do BNDES.

Talvez tenha sido isso e também o fato de que uma operação destruidora no BNDES acabaria por levantar denúncias da década de 90, quando o banco foi usado para patrocinar a roubalheira privatista tucana.

Empresas estrangeiras compraram patrimônio nacional sem botar um centavo do próprio bolso: o BNDES financiava.

Obviamente devem ter pago, por fora, por esta generosidade, irrigando o caixa 2 das campanhas tucanas. Há tantas denúncias sobre isso. O livro de Amaury Ribeiro, Privataria Tucana, tem detalhes e documentos. Mas isso nunca veio ao caso para a mídia brasileira, nem para o nosso combativo Ministério Público. Nem para nossa republicana Polícia Federal.

Grandes economias do mundo, como Alemanha, Coréia do Sul, China, tem bancos públicos que ofertam muito mais dinheiro do que o BNDES faz por aqui.

Só que o Brasil tem um crédito tão estreito, tão subdesenvolvido, que o BNDES tem participação especialmente importante para nossa economia.

Além disso, o BNDES ajuda a corrigir um problema estrutural da economia brasileira: os juros indecentes. A maioria das grandes empresas brasileiras já teriam quebrado, ou nunca poderiam expandir seus negócios aqui e no exterior, não fossem os financiamentos do BNDES, cujos juros não são “amigos”, e sim competitivos em relação ao mercado internacional.

Nosso grande banco, esteio da nossa soberania, sobreviveu, até o momento, a um dos períodos mais sombrios da nossa história política, em que um mídia decadente se uniu a setores autoritários e delinquentes do Estado, em conspirações judiciais que praticam todo o tipo de sabotagem econômica, crimes de seletividade, que montam narrativas mirabolantes, prendem sem provas, com objetivo de promover uma ruptura política.

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No UOL.

CPI do BNDES encerra trabalhos sem nenhum indiciamento

Foi aprovado na manhã desta quinta-feira, 25, por vinte votos a sete, o relatório final da Comissão de Inquérito Parlamentar (CPI) do BNDES, no último dia de funcionamento da CPI. Apesar dos protestos da oposição, o texto do relator José Rocha (PR-BA) não contemplou indiciamentos. Rocha optou por recomendar mudanças na gestão no banco de modo a aumentar o controle sobre empréstimos e propôs o envio do documento ao Ministério Público Federal, Tribunal de Contas da União e à Controladoria-Geral da União para providências.

Na quarta-feira (24), foram apresentados três votos separados dos deputados Arnaldo Jordy (PPS-PA), Sérgio Vidigal (PDT-ES) e Alexandre Baldy (PSDB-GO). A oposição sugeriu o indiciamento do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva; de José Carlos Bumlai, empresário; de Luciano Coutinho, presidente do BNDES; de Taiguara Rodrigues dos Santos, sobrinho da primeira mulher do ex-presidente Lula; e de Benedito de Oliveira, empresário conhecido como “Bené”. A justificativa são supostos indícios de crimes de gestão temerária e improbidade administrativa no BNDES.

“Não há elementos para indiciamentos, a não ser notícias da imprensa e documentos recebidos pela CPI. E eu estaria sendo parcial se indiciasse pessoas que não foram ouvidas pela CPI, ouvindo apenas o lado da acusação”, explicou Rocha, que não acatou as sugestões da oposição.

O deputado Carlos Zarattini (PT-SP), líder do PT na CPI, concordou com a decisão e disse que os pedidos de indiciamento são políticos e não estão embasados em qualquer prova de irregularidade. “Não há indício de que Lula ou diretores do BNDES tenham favorecido empresas ou causado prejuízos ao banco”, disse. Para ele, a CPI não conseguiu demonstrar prejuízo decorrente dos financiamentos feitos ao grupo JBS ou à empresa de Bumlai.

Já o vice-presidente da Comissão, Miguel Haddad (PSDB-SP), disse que o governo tenta “defender o indefensável” e “distorcer os argumentos”. “Todos nós da oposição preservamos a instituição do BNDES, mas isso não significa identificarmos uma série de indícios e não investigarmos os fatos. Isso é essencial. A CPI foi amputada, não se permitiu que trabalhasse. Nós não ouvimos os principais atores. O relatório é excepcional, mas o desfecho é ruim.”

Após mais de 200 dias de apuração, a CPI investigou possíveis irregularidades no Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) entre 2003 e 2015, relacionadas à concessão de empréstimos suspeitos e prejudicais ao interesse público.

Miguel do Rosário: Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.
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