Por Felipe Bianchi, no site do Centro de Estudos Barão de Itararé
O modelo está esgotado, mas a economia brasileira está longe do caos. A afirmação é de Luiz Carlos Bresser Pereira, ex-ministro da Fazenda, da Administração Federal e Reforma do Estado e da Ciência e Tecnologia. “Há uma sensação de fracasso no campo da economia, mas caos é quando há hiperinflação. Estivemos perto disso, por exemplo, no fim do governo Sarney”, disse, nesta segunda-feira (22), em atividade do Ciclo de Debates Que Brasil é Este?, na capital paulista.
O economista contou com a companhia de Leda Paulani (professora da Faculdade de Economia e Administração da Universidade de São Paulo e ex-secretária Municipal de Planejamento da cidade de São Paulo) e Guilherme Mello (professor do Instituto de Economia da Unicamp e colaborador da Fundação Perseu Abramo). Ambos concordam com Bresser Pereira que não há caos, mas os três têm visões particulares sobre a derrocada que lançou o país à crise.
Falta de investimento, excesso de responsabilidade fiscal e a ‘armadilha macroeconômica’ da alta taxa de juros aliada ao crédito apreciado a longo prazo são alguns dos fatores que explicam o péssimo momento, segundo Bresser Pereira. Para ele, a regressão vivida pelo país aumenta a sensação de fracasso da política econômica.
“É verdade que milhões foram tirados da pobreza, mas falhamos na política econômica. “Deixar de ser um país industrial para ser um país exportador de commodities é condenar-se ao retrocesso”, decreta. “Em oito anos de Lula e dois de Dilma, tudo foi relativamente bem. Por que, então, explode a crise? Não foi por irresponsabilidade fiscal, mas responsabilidade em demasia. Governo deveria ter expandido investimentos”.
O economista é crítico ao binarismo que opõe a austeridade da direita e a pauta fiscal da esquerda. Em sua avaliação, é um erro pensar que as esquerdas podem governar nesses termos. “Ou fazemos uma revolução socialista ou, se formos viver no capitalismo, precisamos que os empresários invistam. Desenvolvimento econômico depende de investimento, taxa que tem sido muito baixa”.
A “terrível” taxa de juros também é um grande obstáculo para o país, defende Bresser Pereira. “Capitalistas rentistas têm uma senhoriagem da ordem de 6% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro. Isso é uma violência contra o desenvolvimento econômico”, dispara. “Para que haja investimento, é preciso haver equilíbrio entre taxa e juros e taxa de lucro”.
O ex-ministro também chama a atenção para a intensificação da crise política como fator de agravamento da turbulência econômica. “A atual crise política é antinacional e antipatriótica”, opina. “O país precisa de união para enfrentar a recessão”.
A classe média parece ter ficado à deriva enquanto os mais ricos e o mais pobres se beneficiaram mutuamente dos governos petistas, reflete. “Me parece que, por causa disso, houve uma guinada das classes médias para a direita, principalmente a partir de 2013. E é um processo movido pelo ódio”.
Terrorismo da mídia e o fim da aliança produtivista
Leda Paulani concorda que o cerco político ao governo e ao PT constitui uma variável importante para agravar o cenário da crise. Para ela, fica claro que a aliança produtivista estabelecida ao longo de 12 anos de governos petistas se rompeu. “O governo não fez mudanças estruturais e, mesmo assim, a elite puxou o carro”.
O comportamento das classes historicamente dominantes do país é, nas palavras da professora, “predatório”. “A sociedade brasileira fracassa, em boa dose, pela irresponsabilidade das elites”, argumenta. “Quando o povo tenta comandar o país, vem golpe”.
Uma rápida observação do cenário econômico internacional bastaria, segundo Paulani, para concluir que o Brasil não ruma para o caos. “A relação de dívida líquida e PIB nos Estados Unidos, no Reino Unido e no Japão, para citar alguns exemplos, é muito pior que no Brasil”, diz. “O que se faz aqui é terrorismo econômico. Tudo que é ruim é amplificado ao ponto do desastre”.
O aprofundamento da crise internacional coincide com o esgotamento do modelo econômico levado a cabo por Lula e Dilma, na opinião de Paulani. “O último suspiro deste modelo foi a resposta brasileira à crise mundial de 2008. Mas era previsível que se esgotaria”, avalia. “A economia foi assentada no consumo – e este, por sua vez, no crédito -, e não no investimento”.
Além disso, Paulani destaca que a política econômica permaneceu, desde Lula, alinhada à tendência de financeirização da lógica de produção. “A política econômica esteve sempre em acordo com o receituário neoliberal”, critica. “As políticas sociais e de distribuição de renda é que surtem efeito e ‘bombam’ a economia”.
O ‘fôlego macroeconômico’ advindo desse processo permitiu a um governo democrático e popular – mas neoliberal na economia – promover mudanças sociais significativas no país. “Mas não podemos esquecer que distribuir renda é diferente de distribuir riqueza. Renda tem a ver com fluxo, riqueza tem a ver com estoque”, explica.
Apesar dos pesares, avalia, a economia segue funcionando – “em um nível baixo, mas funcionando”. “A desproporção do terrorismo praticado pela mídia, o fantasma do golpe e o papel exercido pela oposição (maioria no Congresso) completam o círculo vicioso contra a economia”, defenda Paulani.
Avanços e retrocessos na balança
Professor da Unicamp, Guilherme Mello faz uma análise retrospectiva do governo Lula e evoca o exemplo do Plano Real para colocar na balança os avanços e retrocessos econômicos no país. “O Plano Real não se completou. Ancorou taxa de câmbio com financiamento externo, mas não resolveu o problema da inércia inflacionária”, argumenta.
“Se Lula teve sorte, como tanto dizem, o Plano Real também foi um golpe de sorte, já que foi condicionado pela boa vontade de potências estrangeiras trazerem dinheiro ao país”. Nessa perpsectiva, o problema da dívida externa só passa a ser enfrentado a partir de 2002, o que é fundamental, segundo Mello, para compreender o governo Lula. “Nossa dívida era em dólar e, hoje, é em real. Somos muito mais fortes”.
Mello avalia que a guerra cambial internacional prejudicou a ação de Dilma Rousseff na economia, mas critica opção da presidente quanto à atração de investimentos. “Quando o ciclo de consumo arrefece, é necessário que haja investimento. Estratégia de captar investimentos privados foi equivocada”, opina. “A tentativa era de cindir a burguesia industrial da financeira, mas essa separação não existe de forma clara no Brasil. Foi um erro de interpretação da ‘antropologia do empresariado brasileiro’, pode-se dizer”.
Mello toma como exemplo a disputa estadunidense entre um fascista (Donald Trump) e um socialista (Bernie Sanders) para ilustrar como o sistema capitalista, seja em governos de esquerda ou direita, não tem dado conta de resolver os problemas colocados. “Experiência dos últimos 12 anos foi dura, mas tiramos o erro. E agora?”.
A preocupação do economista é que, com tentativas ‘tímidas’, o governo não conseguirá chegar nem próximo a um consenso com o mercado e a sua base política. Não há, segundo Mello, como falar em ajuste fiscal sem combater o problema do câmbio e dos juros, de forma a retomar o crescimento.
“Tributação das grandes heranças, por exemplo, é um caminho para negociar politicamente e sair da sinuca de bico”, acredita. O problema, segundo ele, é que negociar tais pautas com o mercado é impossível e requer algo que o governo tem mostrado muito pouco: enfrentamento.
Que Brasil é Este?
A discussão, que ocorreu no Sindicato dos Jornalistas do Estado de São Paulo, foi a terceira atividade do Ciclo de Debates Que Brasil é Este?, promovido em parceria entre o Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé e a Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (FESPSP). O bate-papo foi transmitido em tempo real pela TVT e teve mais de 2.200 espectadores pela Internet.
Até outubro de 2016, o Ciclo promove debates mensais para refletir sobre as turbulências pelas quais atravessa o país nos campos econômico, político e social. Acesse o hotsite e a página do Ciclo no Facebook para ficar por dentro da programação, dos convidados e dos conteúdos postados: www.quebrasileeste.com.br e www.facebook.com/quebrasileeste
feroe
24/02/2016 - 11h37
Proxima Operação Lava Jato (24ª) já tem nome? “Operação Gazela”; só falta a vítima…
Oskar nettoo
24/02/2016 - 09h22
O Brasil se tornara repúbliqueta , Serra empregando cunhada fantasma de FHC em gabinete , entregando o Petróleo aos Americano( Chevron ). EDU Cú , DEM e PSDB querendo o poder. Vai sobrar o chicote….
Enio
24/02/2016 - 08h39
A mídia lixo apoia e esconde a entrega do pré-sal aos estrangeiros, um grande patrimônio da nação sendo entregue por políticos covardes, registrem para a história os nomes desses covardes, para eles não interessa o futuro dos filhos dessa terra e sim detonar o governo, mesmo que destrua toda uma enorme estrutura de empresas nacionais e milhões de empregos. A oposição, mídia lixo e justiceiros ferraram com muitas empresas nacionais de grande porte. Causaram recessão e desemprego de milhões de trabalhadores para tentar um golpe no povo brasileiro, um golpe na democracia. Os derrotados querem ganhar sem as urnas, querem tapetão e voltar ao poder com factóides golpistas. #LulaEuConfio
Irion
24/02/2016 - 08h31
O governo Dilma é de uma irresponabilidade sem tamanho, uma decepção total! Quem não luta não é respeitado!
Mauricio Gomes
24/02/2016 - 07h54
Ontem foi um dia infame na história do Brasil, com o estupro do pré-sal prestes a ser ratificado. Serra e todos os traidores do Brasil mereciam ser julgados por traição e crime de lesa-pátria, e enforcados em praça pública por tamanha infâmia e servilidade ao capital estrangeiro. Canalhas traidores, guilhotina nesses safados!