Análise Diária de Conjuntura – 23/02/2016
Na última semana, estouraram algumas bombas na blogosfera: as ligações entre o triplex dos Marinho, a Globo e a Brasif – a empresa responsável pelo envio de dinheiro à ex-amante de FHC.
No domingo, Miriam Dutra dá entrevista exclusiva ao DCM, um blog político de perfil progressista, em que denuncia o conluio entre Globo, Veja e FHC, para abafar um escândalo.
No dia seguinte, a Lava Jato, tchan, tchan, tchan, tchán!, aparece qual a sétima cavalaria para salvar a honra da Globo!
Prendam o “marketeiro da Dilma”!
Manchetão em todos os jornais!
Dez, vinte minutos no Jornal Nacional!
Coletiva da força-tarefa na Globo News!
A Lava Jato inicia intempestivamente uma nova operação, mais bombástica, mais sensacionalista que nunca. Aquela outra operação, a Triplo X, parece ter sido definitivamente enterrada, ou então a engavetaram à espera de uma saída para a armadilha em que caíram desde que se descobriu conexões entre a Mossack Fonseca, empresa investigada pela Lava Jato, e o triplex dos Marinho em Paraty.
Um dos delegados presentes à coletiva de ontem admite que a força-tarefa escolheu o momento mais oportuno para deflagrar a operação.
Sergio Moro está sempre à mão, aceitando e autorizando todas as violências requeridas pelo Ministério Público, o qual, por sua vez, opera em harmonia com os barões da mídia.
O maior publicitário político da América Latina, que faz campanhas no mundo inteiro, é preso porque a força-tarefa identificou transferências bancárias no exterior.
Pela mesma razão, poder-se-iam prender todos os empresários brasileiros que fazem negócios no estrangeiro, a começar pela Globo.
Não há nenhum vínculo provado entre as contas de Santana no exterior e campanhas no Brasil. Não interessa. Os jornais inferem essa ligação. O próprio Moro, aparentemente, também infere, ou os jornais dizem que ele infere (o que dá na mesma) insistindo na prática de julgar pela imprensa antes do réu ter a mera chance de se defender.
A Lava Jato abusa de “bilhetinhos” encontrados, aos quais dá o sentido que deseja, para montar narrativas já escritas de antemão.
As investigações da fase Triplo X – repito – foram estranhamente engavetadas. Não há mais referência a Mossack Fonseca na mídia, desde que se encontrou vínculos dessa com a Globo.
Reitero: o novo ataque da Lava Jato cumpriu uma agenda estritamente oportuna à Globo, porque o escândalo envolvendo Miriam Dutra, e as conexões em paraísos fiscais da emissora com Mossack Fonseca, vinham gerando grande constrangimento à família mais rica do país.
Agora não se fala mais nisso.
Agora o assunto é apenas João Santana.
A oposição tem os olhos injetados de maldade, e voltou a ter esperança de herdar o poder, mesmo que através de um golpe midiático-judicial.
Por que esse desespero para prender João Santana, se ele mesmo se prontificou, desde o primeiro momento, a esclarecer todas as dúvidas junto a Sergio Moro?
Bem, acho que eu descobri.
Não é notícia exclusiva 100% porque, a bem da verdade, a dica veio do blog Desenvolvimentistas, que publicou um post falando de uma portaria de Fernando Henrique, enquanto Ministro da Fazenda, isentando a TV Globo da CPMF, em 1994.
Só que em 1994 ainda não havia CPMF. O imposto se chamava, à época, IPMF (Imposto Provisório sobre Movimentação Financeira).
O Desenvolvimentistas, contudo, chegou muito perto. Ele acertou o número da portaria (de fato, é a número 4), mas cometeu algumas confusões.
O Cafezinho foi atrás das portarias assinadas por Fernando Henrique Cardoso assim que assumiu o Ministério da Fazenda.
Há uma portaria, a número 38, de 19 de janeiro de 1994, que inclui jornais entre as entidades isentas do pagamento do Imposto Provisório sobre Movimentação Financeira (IPMF). A portaria visava excluir as instituições públicas (União, estados, etc) e entidades privadas de natureza pública (partidos, sindicatos, etc) da cobrança do imposto. Acabou por incluir também jornais e revistas.
Entretanto, essa não ainda não é a prova do crime, porque é uma portaria muito geral, beneficiando horizontalmente jornais e editoras.
A portaria com a qual FHC efetivamente pode ter pago parte de sua dívida política com a Globo, que liderou a operação, junto com Antonio Carlos Magalhães, para “exilar” Miriam Dutra na Europa, foi a número 4, de 10 de janeiro de 1994, editada antes daquela outra citada anteriormente.
Essa portaria beneficia diretamente a Globo, dando isenção de IPI (Imposto de Produtos Industriais) para a importação de alguns maquinários específicos.
Os primeiros itens listados, no Anexo em que se informam quais são os produtos para os que se dá isenção fiscal sobre sua importação, são unidades de processamento de vídeo, modelos: MTV 200-BÁSICO, MTV 200-CGA e MTV 200-VGA, dentre outros.
Na verdade, este sempre foi o modus operandi da TV Globo. Desde sua fundação, a sua relação com os governos sempre se deu na forma de troca de favores políticos. A Globo ajudava a sustentar a ditadura, na forma de isenção de impostos de importação de seus maquinários, ou mediante novas leis – isso é importante dizer – feitas especificamente para ela, e não para o conjunto das emissoras de televisão.
Hoje sabemos, através da desclassificação de documentos, que a Globo recebeu, inclusive, crédito de bancos públicos dos Estados Unidos, porque interessava àquele país fortalecer a Globo, por considerá-la uma agente de seus interesses políticos e econômicos – mesmo que esses se confrontassem com os interesses brasileiros.
A ditadura ajudou a Globo a derrubar seus concorrentes, como a TV Excelsior, da qual a Globo herdou o espólio. Uma das empresas da Globo, listadas num informe recente da Anatel é a Rádio Excelsior Ltda (rádio).
As histórias de sonegação, corrupção, troca de favores políticos, envolvendo a Globo, não tem fim.
A Globo tem (ou tinha: notícias sobre a Globo são obscuras, visto que não temos imprensa profissional honesta no Brasil) empresas nos mercados de seguro e imobiliário, e sempre abusou de sua concessão pública para chantagear ou pressionar governos, em todos os níveis, em prol desses negócios.
Ou seja, quando você ler ou ouvir a Globo falar em “lobistas”, referindo-se em geral a operadores de meia pataca que exercem lobby profissional em Brasília, não se esqueça de quem sempre foram os maiores lobistas do país: os Marinho.
Só que essas histórias nunca foram investigadas ou contadas. Certamente não é coisa que irá aparecer no Jornal Nacional ou Fantástico.
E agora, em 2016, vemos a Globo liderar uma campanha golpista, junto com suas empresas “dependentes” (Folha, Estadão, Veja, etc), e com apoio de setores delinquentes do Estado (e contaminados politicamente pela própria mídia) para ligar a corrupção ao PT, e somente ao PT.
Com isso, trabalha-se para derrubar o governo via golpe hondurenho, através de um processo de cassação política no TSE, ou paralisá-lo de tal forma que force a presidenta a renunciar.
Talvez seja útil informar, antes de encerrar o post, que no dia seguinte à assinatura da Portaria 4, Fernando Henrique Cardoso participa de outro importante ato de governo. Cardoso assina junto com Itamar Franco, que desde o sucesso do plano real, implementado no segundo semestre de 1993, tornara-se um presidente apenas decorativo, o decreto nº 1.041, de 11 de janeiro de 1994.
Esse decreto é um presente de mãe para sociedades imobiliárias, operadores do mercado financeiro e sócios de empresas estrangeiras, dentre outros felizardos.
Mas isso é outra história.
Por essas e outras que a Globo precisa abafar desesperadamente qualquer investigação sobre si mesma, e para isso conta hoje com o auxílio luxuoso de Sergio Moro e demais golpistas, que sequestraram alguns aparelhos judiciais e os usam para fazer o jogo sujo daqueles que, há mais de sessenta anos, tentam atrasar nosso desenvolvimento.
Em suma, a agenda da Lava Jato é a agenda da Globo.