As revistas semanais já viveram fase melhor. Já tiveram dentes mais afiados. Já foram golpistas mais perigosos.
Neste final de semana elas fazem carga pesada contra o governo e contra Lula.
Mas são factoides vagabundos, mordidas banguelas, picadas de cobra sem veneno.
Em resumo são dois ataques:
1) A Istoé requenta a história dos “documentos”, já vazados pela Lava Jato há tempos, enviados por Sergio Moro ao TSE, já num ensaio para criar uma atmosfera de violenta pressão midiática para intimidar ministros do Tribunal Superior Eleitoral a chancelarem o golpe hondurenho.
2) Muito previsivelmente, a força-tarefa da Lava Jato, convertida em política política de natureza subversiva, vaza seletivamente documentos para a Veja, mostrando executivos combinando obras no sítio em Atibaia.
Os dois ataques são factoides ridículos, e explico porque.
Em relação a matéria da Istoé, vamos focar apenas no único documento referente a campanha de 2014 e que, poderia, em tese, ser usado no julgamento do TSE para as contas da última campanha presidencial. O objetivo do golpismo midiático é simples: derrubar a chapa Dilma-Temer, transformando o Brasil numa república de bananas, onde meia dúzia de mentiras tem mais força do que o voto de 54 milhões de brasileiros.
Quer dizer, não é sequer um documento. É um diálogo captado pelos arapongas da Lava Jato. Trecho da matéria da Istoé que aborda o caso:
Sobre a campanha de 2014, constam dos documentos em poder dos ministros do TSE uma troca de mensagens em que Ricardo Pessoa, da UTC, discute com Walmir Pinheiro, diretor financeiro da empreiteira, detalhes sobre a transferência de R$ 7,5 milhões à campanha de Dilma. As mensagens indicam que as doações da UTC para a candidata à reeleição estavam diretamente associadas ao recebimento de valores desviados da Petrobras, estatal que é tratada por Pinheiro na conversa como “PB”. “RP (Ricardo Pessoa), posso resgatar o que fizemos de doações esta semana?? Ta pesado e não entrou um valor da PB que estava previsto para hj, +/- 5 mm”, questiona o executivo, que foi preso em novembro de 2014 durante a Operação Juízo Final. O dono da UTC concorda: “Ok. Pode”. Na papelada em exame pelo TSE, além das mensagens, há um registro à caneta confirmando os dois repasses de R$ 2,5 milhões à campanha de Dilma em 2014. Em depoimento à Justiça Federal, prestado no ano passado, Pessoa disse que foi persuadido a doar para a campanha à reeleição da presidente, sob pena de ver cancelados contratos milionários da UTC com a Petrobras. Segundo o empreiteiro, diante das pressões, as doações oficiais – via caixa um – para a campanha de Dilma foram acertados em R$ 10 milhões, mas apenas R$ 7,5 milhões foram pagos. A parte restante não foi depositada porque o empresário acabou preso pela Operação Lava Jato em novembro de 2014.
Reparem no verbo usado na reportagem: “indicam”. No vocabulário da mídia brasileira, “indicam” é o verbo usado quando não há provas nem indício de nada.
A gente lê e relê a matéria, torce-a, espreme-a e a única coisa que sai dela é que um executivo da UTC diz: “Posso resgatar o que fizemos de doações esta semana? Tá pesado e não entrou um valor da PB que estava previsto para hj, +- 5 mm”. Ricardo Pessoa concorda: “Ok. Pode?”
Só.
Por incrível que pareça, é só isso.
Acontece que a frase não significa nada em especial. Aliás, nem tem sentido, porque as acusações da Lava Jato não falam de nenhuma “propina” paga pela Petrobrás às empreiteiras.
A acusação é que a Petrobrás pagou por serviços efetivamente realizados pelas empresas. Só que pagou mais do que deveria pagar, porque alguns contratos teriam sido superfaturados.
Então quando um executivo menciona um pagamento iminente da Petrobrás, não está falando nada demais, porque a estatal é a empresa que mais investe no Brasil e faz milhares de pagamentos por semana, em especial para as grandes empresas responsáveis por suas obras.
A Petrobrás era (e é) a principal pagadora e cliente de inúmeras empresas nacionais, em especial empreiteiras.
A UTC, por sua vez, fazia doações para todos os partidos.
Mas mesmo se fizesse apenas ao PT, se houve uma doação vultosa, devidamente registrada (como foi), é normal que uma saída de caixa significativa motive um executivo a perguntar a seu presidente se pode executar uma cobrança qualquer, para manter o fluxo positivo. E vai cobrar a quem, senão de seus principais clientes, Petrobrás em primeiro lugar?
O fato é o seguinte: a UTC, assim como todas as empreiteiras, fazia doações legais, a todos os partidos políticos. E doações de grande porte. A UTC, como toda empreiteira, não tem grandes reservas financeiras. Não é um banco. Se sai dinheiro do caixa, é preciso executar cobranças para enchê-lo novamente.
Os procuradores sabiam disso, então foi fácil para eles montar uma narrativa capciosa.
Não boto minha mão no fogo por nenhum partido ou empresa. Que sei eu sobre os sinistros bastidores das campanhas políticas?
O que eu não aceito é a tentativa de manipular a opinião pública, transformando frases descontextualizadas em “provas”.
O resto da reportagem é o mesmo lixo, fiando-se apenas nas denúncias mal ajambradas de um ministério público convertido em partido político, e que, em busca dos holofotes, atropela o bom senso para montar narrativas mirabolantes.
Prova que é bom mesmo? Não tem.
Quanto aos delatores, a gente sabe muito bem o que os procuradores fizeram para obrigar executivos a fazer o jogo político deles. A mídia, qual um personagem do livro 1984, de Orwell, apaga a história, mas a gente não esquece: Moro os deixou mofando na cadeia por quase um ano, submetidos a todo o tipo de tortura, humilhação e terrorismo penal. Castigo de um lado. Prêmio de outro. Os bandidos mais descarados, mais desenvoltos, foram os primeiros a aceitarem alegremente as condições de Moro, e deitaram a falar o que procuradores queriam que eles falassem, foram soltos rapidamente, e puderem manter seus milhões roubados.
Leiam o post: Lava Jato aprimora métodos de tortura.
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Quanto à “denúncia” da Veja, o que temos, na verdade, é mais uma prova da delinquência da Lava Jato, fazendo o jogo sujo de vazamentos seletivos a determinados órgãos de mídia.
Aqui a situação é ainda mais absurda. Não há sequer acusação de que houve algum tipo de crime.
Os empreiteiros fizeram as obras no sítio em Atibaia, naturalmente, porque sabiam que Lula iria frequentá-lo e queriam agradá-lo.
Se as mesmas empresas doaram milhões ao Instituto Lula, mais outros milhões para o Instituto FHC, isso prova que a intenção delas sempre foi agradar, por razões políticas várias, as duas maiores autoridades partidárias do país.
No caso de Lula, fazem isso porque sabem que o ex-presidente, sendo o brasileiro com mais projeção internacional, o brasileiro mais famoso no mundo, pode fazer um comentário qualquer, num encontro com uma autoridade ou empresário de outro país, em favor de alguma empresa nacional. Esse tipo de coisa. O que não é crime, evidentemente.
Qual a acusação contra Lula? Que em troca de reforma na churrasqueira de um sítio que ele iria frequentar a partir de 2011, ele, prevendo, anos antes, essa “propina” suntuosa que iria desfrutar, mandou a Petrobrás construir refinarias e oleodutos?
É essa a acusação, de que Lula comandou o petrolão, em 2006, para pagar a reforma de um sítio que não é dele, em 2010?
A história é tão absurda!
Só mesmo uma mídia decadente, num ambiente político envenenado, com uma opinião pública já contaminada pelo vale tudo, por uma campanha de lavagem cerebral que já dura anos, para bancar uma história dessa.
A mesma coisa vale para o triplex que Lula planejava comprar em Guarujá. É evidente que a OAS estava animada com a possibilidade do ex-presidente, figura popularíssima, residir num apartamento e num prédio montados pela construtora. Agregaria valor à propriedade. É o prédio onde mora Lula, poderiam dizer os corretores, para justificar o preço dos apartamentos. Isso num momento, é claro, em que o ex-presidente ainda não tinha sido vítima da maior campanha de assassinato de reputação desde Getúlio Vargas.
As obras no apartamento foram feitas para valorizar o imóvel, e convencer o ex-presidente a adquiri-lo.
A OAS fez a obra no apartamento pensando em Lula, porque Lula seria o comprador do apartamento. Lula nunca fez segredo, de que tinha intenção de comprar o apartamento.
Qual o problema nisso?
Não é o que fazem construtoras: fazem prédios e apartamentos que agradem os compradores?
Só que Lula rapidamente viu que era furada e a prova é a perseguição atual. Lula não teria nenhum tipo de privacidade no imóvel e, inteligentemente, pulou fora. Não trocou as cotas pelo apartamento. Ponto final.
O apartamento não é dele. O sítio não é dele. É tão difícil a mídia aceitar isso, ao invés de fazer esse jogo sujo de insinuações?
O que nos choca, particularmente, é constatar o tratamento desequilibrado dado a casos absolutamente iguais. Quer dizer, o caso de Fernando Henrique Cardoso é muito pior. A Camargo Correa fez uma estrada e um aeroporto ao lado de uma fazenda de propriedade de Fernando Henrique Cardoso. Tudo isso durante o mandato de FHC, e não depois que ele já havia se tornando um cidadão privado.
Lula passou a frequentar o sítio em Atibaia e a visitar o apartamento em Guarujá depois de terminado seu mandato.
Repare bem: a fazenda é de FHC, não de um amigo. Quando FHC morrer, a fazenda ficará para seus filhos. O sítio em Atibaia não é de Lula. Quando seu proprietário morrer, a herança ficará para seus filhos, não para os filhos de Lula. A tentativa de colar, à força, a propriedade do sítio em Lula é positivamente ridícula.
A Folha insiste nisso, repetindo frases como “suspeita-se que o sítio seja de Lula”. Como assim? O dono do sítio não é nenhum laranja. É um empresário rico, e que ficou rico, aliás, vendendo dvds com Cid Moreira lendo a Bíblia.
Lula não tem motivos para ocultar propriedade. O sítio não é uma “fazenda” como a de FHC. Lula poderia, creio eu, comprá-lo se quisesse.
É inacreditável que, na semana em que explode uma bomba contra FHC, as semanais não lhe dêem capa. Preferem manter a artilharia centrada em Lula.
Pensando bem, não é inacreditável. É previsível.
Por falar em coisas inacreditáveis, ou previsíveis, é sério mesmo que a Lava Jato vai enterrar a fase Triplo X, que investigava lavagem de dinheiro e a Mossack Fonseca, apenas porque a investigação põe em risco a Globo?
Que a mídia não vai dar nada sobre o triplex dos Marinho, a gente sabe, porque a mídia é corrupta, covarde, e vendida ao imperialismo. Os jornalistas da grande mídia, por sua vez, tornaram-se um bando de apavorados com o próximo passaralho, são mal pagos. Ou então se submeteram espiritualmente à corrupção do lugar onde trabalham.
E a Globo é o chefe da máfia – quem ousará fazer denúncias contra ela? Só mesmo um punhado de blogueiros sujos, que não tem triplex em lugar nenhum, nem conta no exterior, que mal tem conta no Brasil, e, portanto, não tem nada ou quase nada a perder.
Os procuradores falastrões (antes de se apavorarem) não falavam que a Triplo X seria uma das fases mais importantes, a fase decisiva, porque iria atrás do dinheiro sujo lavado no exterior?
É muito estranho que a Lava Jato e mídia tenham esquecido a Mossack Fonseca!