A direita brasileira quer golpe de qualquer jeito. Parlamentar, judiciário ou militar.
Qualquer golpe, enfim, que possa vingá-la das derrotas contínuas que sofre há quatro eleições presidenciais, e que, independente de sua arrogância cada vez maior, ainda teme repetir em 2018.
A conjuntura atual, movida a uma crise política insuflada pela mídia, com a atmosfera empestiada por todo o tipo de golpismo e fanatismos à direita, lembra muito outros momentos da nossa história, como 1954 e 1964. Até porque a mesma imprensa golpista da época é a mesma imprensa golpista de hoje. As mesmas empresas, movidas pelos mesmos interesses, visões de mundo. A subserviência ao imperialismo é ainda maior hoje do que antes.
Só faltavam as vivandeiras de quartel, tão abundantes naqueles tristes meses que precederam o golpe militar.
Não faltam mais.
Raul Jungmann, deputado federal pelo PPS de Pernambuco (ainda é um mistério para mim como o PPS pode ter se tornado um partido tão fanaticamente udenista e golpista), acaba de postar em seu Facebook um texto melífluo, pegajoso.
Um texto para defender, de maneira sorrateira, venenosa, um novo golpe militar.
Como antes, como todos os golpes, aliás, um golpe militar travestido de defesa da Lei e da Ordem!
A foto que ilustra o post é emblemática: Jungmann, à direita, de barbicha, atrás de Aécio e ao lado de Ronaldo Caiado.
Esse é o PPS contemporâneo: atrás do PSDB e ao lado de Ronaldo Caiado.
O artigo começa chamando a Constituição de “livrinho”, tratado como um negócio inconveniente que as Forças Armadas precisam respeitar de má vontade.
Alguns trechos:
“Entendem, tendo em vista o aprofundamento social e econômico da crise, que cabe aos políticos sua rápida resolução, antes que ela se agrave ainda mais;”
“[Os militares] Estão preocupados com a perspectiva de, não revertido o quadro de deterioração em curso, se verem convocados a intervir em nome da Garantia da Lei e da Ordem”.
É curioso.
A crise, que o deputado admite ser essencialmente política, deriva-se justamente desse tipo de posicionamento sempre dúbio em relação à questão democrática.
Ou seja, o próprio texto do deputado ajuda a explicar a crise.
A crise nasce da nossa cultura não-democrática, truculenta, onde parte do eleitorado e parte do Estado não admitem uma derrota eleitoral onde o povo mais pobre, as regiões menos desenvolvidas, deram a palavra final.
Reproduzo abaixo o texto do deputado, para registro histórico.
OS MILITARES E A CRISE
Por Raul Jungmann, deputado federal (PPS-PE), em seu Facebook
O principal juízo dos militares sobre a crise parte da constatação que os atores políticos, legitimados pelo voto para apontar e construir os caminhos da solução, abdicaram do papel que o grave momento nacional lhes reserva e reduziram as enormes dificuldades que se abatem sobre nós a mera luta pelo poder, na sua expressão mais primária. E ao esforço de preservação de biografias que a cada dia se mostram mais indefensáveis.
Reclamam, em síntese, da inexistência de vontade política para o enfrentamento efetivo dos problemas e, em consequência, da incompreensível subordinação das razões de Estado às conveniências político-partidárias.
A visão que eles têm da crise atual pode ser assim resumida:
a. Estão fechados com o que diz a Constituição e seu papel por ela definido. Nas suas palavras, nada farão fora do que diz o “livrinho” – nem prá por, nem para tirar ninguém, nem aceitarão ou apoiarão aventuras institucionais de qualquer das partes envolvidas;
b. Entendem, tendo em vista o aprofundamento social e econômico da crise, que cabe aos políticos sua rápida resolução, antes que ela se agrave ainda mais; e
c. Estão preocupados com a perspectiva de, não revertido o quadro de deterioração em curso, se verem convocados a intervir em nome da Garantia da Lei e da Ordem – GLO, art. 142, caput, da CF.
Convenhamos, a conjuntura lhes dá razão quanto ao temor de um descontrole. O crescente desemprego, a recessão, inflação, colapso fiscal de estados e municípios justifica a preocupação. Ademais, a perspectiva inédita de três anos de recessão, associada à vertiginosa perda de legitimidade do sistema político, de corrupção endêmica do governo e de parte do parlamento, somadas a amplas manifestações via redes sociais, torna cinzento nosso futuro.
Esse quadro poderia ser saneado se a política não fosse refém dela própria, como já dissemos anteriormente.
Isto porque, a crise é sobretudo política e da política, na sua relação incestuosa com o capital privado e patrimonialista com o Estado, aprofundada e acelerada à metástase pelos governos do PT e aliados, os principais responsáveis diretos pelo que ai está.
Diferentemente do que se passou em vários momentos da nossa história desde a crise de 1868, quando Caxias promoveu a queda do gabinete liberal do 2o reinado, inexiste projeto de tutela dos militares sobre as decisões ou rumos políticos do pais..
Hoje, os militares não desejam o poder ou identificam motivos para nele interferir, o que contribui decisivamente para nossa estabilidade democrática. Porém, temem que a irresolução da crise e seu agravamento os tire dos quartéis, onde cumprem com disciplina e compromisso seus deveres profissionais e institucionais.
Raul Jungmann