Panelaços esvaziados decepcionam oposição

[s2If !current_user_can(access_s2member_level1) OR current_user_can(access_s2member_level1)]Análise Diária de Conjuntura – Manhã – 04/02/2016

Na coluna Casa das Caldeiras, no Valor, o jornalista admite que ontem houve “um panelaço um tanto acanhado nas principais cidades do país.”

Isso não impediu os jornalões de o disporem na capa, junto às últimas notícias sobre a reforma do sítio “frequentado” por Lula em Atibaia.[/s2If]

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A imprensa parece realmente ter perdido a noção do caminho ridículo que tomou, com essa história combinada do sítio e triplex.

Entretanto, o pior é que a Lava Jato, até pouco tempo uma portentosa operação, gerando manchetes bilionárias, tenha se degradado a ponto de investigar a reforma de um sítio e de um apartamento… que não pertencem a ninguém relacionado à operação.

O Jornal Nacional dedicou quatro minutos ao assunto do sítio, apresentando notas fiscais de compras para o “triplex” que não é de Lula e para o sítio em Atibaia, que também não é de Lula.

FHC fez reunião, dentro do Palácio do Planalto, pouco antes de sair do governo, para arrecadar dinheiro para o instituto que pretendia criar para si mesmo. Apenas naquela reunião, realizada dentro do Planalto, apurou-se que conseguira arrecadar mais de R$ 7 milhões, em valores da época. Em seguida, FHC consegue outros milhões via lei rouanet.

Uma reportagem publicada na Istoé em 1999 revela que a Camargo Correa construiu, em 1995, ao lado de fazenda de Fernando Henrique Cardoso (observe que é do próprio FHC, não de amigo do filho de FHC), um aeroporto que era usado principalmente por familiares de FHC.

Veja bem, a Camargo Correa construiu o aeroporto no primeiro ano do governo FHC!

As reformas no sítio do amigo do filho de Lula ocorreram depois que ele deixou o governo!

Mudemos de assunto.

No front político, Michel Temer e Renan Calheiros parecem ter fechado acordo para que o primeiro seja reconduzido à presidência do partido. Foi um jogo de cartas marcadas, mas que testemunhou um embate tão violento quanto abafado, entre Renan e Temer. A vitória, ao contrário do pode parecer com a recondução de Temer, foi de Renan, que ampliou sua influência dentro da legenda, sobretudo com a derrota da bandeira do impeachment.

Um dos nomes mais conhecidos do PSDB, Artur Virgílio, defendeu publicamente, em evento realizado ontem, que o impeachment seja enterrado e que a oposição mude a sua pauta: derrota de Aécio e de seu grupo no parlamento.

Nem tudo são flores, todavia, para o governo.

Gilmar Mendes acaba de ser reempossado presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), e deverá portanto liderar o processo movido pelo PSDB que pede a cassação do mandato da presidente Dilma Rousseff.

Num mundo mais republicano, o fato de Mendes ser o presidente do TSE o forçaria a ser mais isento no julgamento das contas da presidente. A Mendes, porém, não se cobra nenhum tipo de isenção.

Há um lado bom, contudo. Uma improvável cassação do mandato de Dilma viria marcada pela atuação partidária de Gilmar Mendes.

Ou seja, Dilma está “protegida” por seus dois inimigos. Com Eduardo Cunha na presidência da Câmara, o processo de impeachment, já quase enterrado, perde toda a crediblidade. Com Gilmar Mendes na presidência do TSE, o processo de cassação fica igualmente marcado por sua postura profundamente partidária.

No front econômico, o dólar segue em firme baixa e já está sendo negociado hoje ao redor de R$ 3,86. A estabilização do câmbio ajuda muito a segurar a inflação, e isso é uma excelente notícia.

Mas a inflação ainda não cedeu. O índice de preços ao consumidos (IPC-C1), da Fundação Getúlio Vargas, fechou janeiro com variação de 1,91%, contra 0,94% no mês anterior. No acumulado de 12 meses, o índice ficou em 11,42%.

Voltando à política, temos ainda a notícia de que Marlon Cajado, o delegado da PF responsável pela Zelotes, afirmou, em ofício enviado ao juiz, que investiga o envolvimento de Lula na “venda de MPs”. A informação integra a operação alquímica vista na Zelotes, que se transformou completamente, passando de uma investigação de um bilionário esquema de sonegação, com pagamento de propinas a membros do Carf, e tendo como investigadas grandes empresas do ramo da indústria, das finanças e da mídia, para mais uma dessas conspiraçõezinhas baratas contra Lula, que visam prover a imprensa antipetista com manchetes espetaculosas.

Marlon Cajado, sempre é bom lembrar, é primo do deputado federal Claudio Cajado, do DEM da Bahia.

Na Câmara dos Deputados, ventilou-se que o governo teria sido derrotado por conta de mudanças na MP que aumenta imposto sobre o capital. Mas o que aconteceu foi o chamado ganha-ganha: o governo ganhou e a oposição achou que ganhou. A MP do governo foi aprovada, haverá mais impostos sobre o capital, embora de maneira tão acentuada como queria o governo – assim funciona a democracia. O lado bom é que a Câmara parece disposta a pôr de lado as histerias golpistas e mergulhar em debates que realmente interessam à economia e à sociedade. Ao contrário do que anunciavam os profetas do caos, tipo Miriam Leitão, que diziam que os parlamentares voltariam de suas bases, após o recesso, com sangue na boca, isso não aconteceu. O clima no Congresso está mais amenos agora do que antes do recesso.

Cunha continua lá, na presidência da Câmara, mas um tanto desdentado, criando mais constrangimento, por sua presença, para a oposição do que para o governo.

Ah, temos ainda uma nova delação de Fernando Moura, que confirma uma velha história sobre Furnas. A história já foi contada antes por Yousseff, e inclusive mereceu uma investigação (abafada pela imprensa) pelo Ministério Público. Moura disse que Dimas Toledo, indicado para Furnas pelo PSDB mineiro, era responsável pelo recolhimento de propinas para o PSDB nacional, Aécio e PT. Tinha que ter o PT, claro, senão a delação não seria válida… Como tem PSDB, no meio, porém, acredito que a informação não venha ao caso…

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Miguel do Rosário: Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.
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