Percepções, realidades, e as ações possíveis. Por Milton Pomar

por Milton Pomar

A filial brasileira da empresa norte-americana Ipsos Public Affairs divulgou, dia 1º de fevereiro, os resultados da pesquisa de caráter nacional “Corrupção, PT e a Lava Jato”, realizada com 1.200 entrevistas em 72 municípios. Aparentemente, o mesmo de sempre: os resultados cumulativos da ofensiva de propaganda contra o Lula, Dilma e o PT, mais os seus efeitos colaterais sobre a atividade política de modo geral: no período 2002/2016, teria passado de 37% para 82%(!) a opção “nenhum” partido preferido, que coincidiria com a avaliação, também de 82%, de que “todos os partidos são corruptos”; preferência pelo PT teria caído de 28% para 6%, PMDB de 10% para 4%, e PSDB de 6% para 4%.

Essas pesquisas sempre apresentadas como a expressão da verdade nos causam mais dúvidas do que as certezas que apresentam: os 6% dos entrevistados que responderam “sabe muito”, mais os 15% que disseram saber “bastante” a respeito da Lava Jato, significa que 30 milhões de eleitoras e eleitores (21% do universo de 143 milhões) estão tão informados assim sobre essa ação policial-jurídica? E mais 51 milhões sabem “algo a respeito”? É isso mesmo?

Percepções e realidades

Quem trabalha com pesquisas sabe como é possível fazer perguntas que induzem às respostas desejadas, e como são falsas as percepções momentâneas sobre problemas martelados diuturnamente na mídia. O próprio Ipsos, aliás, reconhece isso, em pesquisa realizada pela matriz em 33 países, em outubro de 2015. Intitulada “Perils of Perception 2015: Perceptions are not reality”, e disponível no site da empresa, seus resultados “destacam o quão equivocado o público de 33 países é sobre algumas questões-chave e características da população em seu próprio país”. Nela, a população brasileira é a terceira, entre os 33 países pesquisados, a apresentar mais distância entre a percepção e a realidade dos fatos.

Percepções exacerbadas resultam da velha lógica de repetição de propagandas, no caso brasileiro apresentadas sempre como notícias, para tentar obter credibilidade, e depois fazer pesquisas sobre esses “fatos” negativos noticiados. Seus resultados criam novos fatos, divulgados pela mídia como verdades, aumentando ainda mais as percepções, em um círculo vicioso tão interminável quanto criminoso. A população é “informada” sobre uma parcela dos fatos e dos participantes do processo político e social, ela não tem acesso ao conjunto da situação.

O que realmente está em jogo

Dessa desinformação dirigida resulta a deformação das percepções, e, principalmente, a alienação em relação ao que realmente está em jogo no Brasil, há dez anos: o petróleo do Pré-Sal como patrimônio do Brasil; o Marco Regulatório da Mineração; o domínio total e absoluto do setor financeiro sobre a economia nacional, expresso pela maior taxa de juros reais do mundo; a Lei Orgânica da Magistratura (LOMA); o quinto maior mercado mundial; o país detentor da maior quantidade de água doce do planeta; a Amazônia brasileira e a fantástica biodiversidade nela existente; a importância do país enquanto terceiro maior produtor e exportador de alimentos do mundo; a permanência do latifúndio improdutivo; e tantas outras…

A alienação da maioria da população do que realmente importa, é resultado direto do marketing dos capitalistas sobre nós, das “manobras diversionistas” dos adversários e inimigos do PT e dos partidos e movimentos sociais de esquerda, com factoides diários, nos mantendo sempre ocupados, gastando tempo e energia, para explicar e provar não serem verdadeiras as afirmações propagadas pela mídia todos os dias. Essa ofensiva diversionista permanente até agora foi bem-sucedida: apenas reagimos a ela, muito mais do que agimos. E a nossa dificuldade de agir, de tomar iniciativas que nos coloquem em posição inversa à atual, é que tem permitido esse estado de coisas enlouquecido, com ataques e mais ataques absurdos da mídia, a maioria deles depois desmentidos pelos próprios autores, com ridículos “erramos” e tolices do gênero, como se se tratassem realmente de erros e não de “acertos”.

Agir em grande escala é possível, indo além das importantes ações de massa, da propaganda regular do PT Nacional em rádio e TV – bela gota d’água no oceano midiático contrário –, e da intensa ação dos ativistas digitais. Temos muitas ações dos nossos governos e parlamentares para mostrar, e muito o que mostrar também em relação ao Judiciário, à Mídia, aos partidos e governos adversários, e às questões que realmente importam nessa disputa pelo governo federal. Os milhares de diretórios municipais, os estaduais e o nacional do PT, mais vereadores(as), deputados(as), senadores(as), e as demais figuras públicas, têm que fazer propaganda frequente, diária se possível, através de todos os meios possíveis; e pesquisas, e tudo o mais necessário.

Percepções e realidades podem ser radicalmente alteradas, imagens de figuras públicas são recuperadas, e a motivação ideológica e política sempre pode ser ativada: “Quem sabe faz a hora, não espera acontecer”, como dizia o poeta.

Milton Pomar é profissional de marketing, geógrafo e mestrando na Fundação Perseu Abramo, sobre Estado e Políticas Públicas.

Redação:
Related Post

Privacidade e cookies: Este site utiliza cookies. Ao continuar a usar este site, você concorda com seu uso.