O Globo decidiu, oportunisticamente, fazer uma série de pequenas reportagens sobre as arbitrariedades do nosso sistema carcerário. Como sempre, as matérias não abordam as causas do problema: um sistema judiciário baseado em prisões preventivas, e que não combate o desleixo e o arbítrio policial.
Na verdade, o formato das matérias, curtas, superficiais, rasas, anedóticas, sugere uma iniciativa realizada às pressas, para tentar corroborar a narrativa midiática de que os advogados dos réus de algumas das conspirações em andamento estão reclamando de barriga cheia: eles poderiam estar frequentando círculos mais sombrios do inferno.
É uma forma astuta, por exemplo, de se omitir diante da denúncia, feita pelo presidente da Comissão de Direitos Humanos do Congresso Nacional, Paulo Pimenta, de que a mulher de Mauro Marcondes, uma senhora de 53 anos, está sendo torturada nas dependências da Polícia Federal, numa tentativa desumana de forçar seu marido a delatar o ex-presidente Lula.
Na verdade, ao aferrar-se apenas aos casos extremos, ao trágico, a mídia põe de lado a crítica ponderada, racional, a toda a lógica que sustenta a situação penal no país: uma moralidade fascista, patrocinada pela própria mídia, que incita a população ao linchamento – sobretudo na medida em que jamais aponta as razões sociais por trás da criminalidade.
Pior: a matéria fala que não há dados sobre as injustiça do sistema prisional. Se consultasse o Google, veria que o Cafezinho publicou, há um ano, um estudo atualizadíssimo, patrocinado pelo Ministério da Justiça (quem foi patrocinado foi o estudo, não o blog, viu coxinha?), sobre a questão da prisão preventiva. É uma denúncia gravíssima que jamais chegou à grande imprensa.
Hipócritas! Não adianta publicar, de cinco em cinco anos, uma matéria sobre o tema. É preciso abordá-lo todas as semanas, entrevistar especialistas, mostrar ao leitor como é o sistema em outros países. E, sobretudo, fazer análises profundas, que toquem as causas do problema, apontando soluções definitivas.
Claro, nada disso interessa à Globo, obcecada pela pauta única de bater no PT e dar solidez narrativa às conspirações judiciais.