O Globo decidiu, oportunisticamente, fazer uma série de pequenas reportagens sobre as arbitrariedades do nosso sistema carcerário. Como sempre, as matérias não abordam as causas do problema: um sistema judiciário baseado em prisões preventivas, e que não combate o desleixo e o arbítrio policial.
Na verdade, o formato das matérias, curtas, superficiais, rasas, anedóticas, sugere uma iniciativa realizada às pressas, para tentar corroborar a narrativa midiática de que os advogados dos réus de algumas das conspirações em andamento estão reclamando de barriga cheia: eles poderiam estar frequentando círculos mais sombrios do inferno.
É uma forma astuta, por exemplo, de se omitir diante da denúncia, feita pelo presidente da Comissão de Direitos Humanos do Congresso Nacional, Paulo Pimenta, de que a mulher de Mauro Marcondes, uma senhora de 53 anos, está sendo torturada nas dependências da Polícia Federal, numa tentativa desumana de forçar seu marido a delatar o ex-presidente Lula.
Na verdade, ao aferrar-se apenas aos casos extremos, ao trágico, a mídia põe de lado a crítica ponderada, racional, a toda a lógica que sustenta a situação penal no país: uma moralidade fascista, patrocinada pela própria mídia, que incita a população ao linchamento – sobretudo na medida em que jamais aponta as razões sociais por trás da criminalidade.
Pior: a matéria fala que não há dados sobre as injustiça do sistema prisional. Se consultasse o Google, veria que o Cafezinho publicou, há um ano, um estudo atualizadíssimo, patrocinado pelo Ministério da Justiça (quem foi patrocinado foi o estudo, não o blog, viu coxinha?), sobre a questão da prisão preventiva. É uma denúncia gravíssima que jamais chegou à grande imprensa.
Hipócritas! Não adianta publicar, de cinco em cinco anos, uma matéria sobre o tema. É preciso abordá-lo todas as semanas, entrevistar especialistas, mostrar ao leitor como é o sistema em outros países. E, sobretudo, fazer análises profundas, que toquem as causas do problema, apontando soluções definitivas.
Claro, nada disso interessa à Globo, obcecada pela pauta única de bater no PT e dar solidez narrativa às conspirações judiciais.
Hell Back
19/04/2018 - 11h27
A elite do atraso não tem mas argumentos para se defender.
Enio
29/01/2016 - 11h26
Essa elite criminosa tem MEEEEDO do povo brasileiro.
Silvio Guedes
28/01/2016 - 15h45
É a prepotência e a certeza da impunidade que separa a elite da grande maioria do povo brasileiro. A justiça no Brasil tem a marca da impunidade seletiva porque é elitista com herança escravagista. Existem dois tipos de execuções penais no país, uma para a pequena parcela dos ricos e outra para a grande maioria do povo, com variações de penas menos desconfortáveis para quem tem curso superior e penas desumanas para quem não o tem. Uma jabuticaba. A justiça está elitizada e privatizada na propina, todos reclamam da falta de punição, mas ninguém, nem a mídia, quando não se trata de seus próprios interesses, se interessa a questionar quem está por trás, nos bastidores da lei, que atuam para mantê-la tão antidemocrática, ninguém investiga o motivo do caos da impunidade e nem o aparente comércio milionário de vendas de sentenças e vazamento de investigações, todos os agentes policiais, com os salários, armas, viaturas sucateados, como a grande maioria do povo brasileiro, sucateados em sua cidadania por essa justiça seletiva, já se cansaram e estão impacientes com tanto prende e solta somados as quatro lentas instâncias de tribunais que os criminosos endinheirados recorrem e podem permanecer livres até o fim da vida. Juízes querem ter o domínio das investigações e condenar ao mesmo tempo. Os políticos mafiosos tentam fechar escolas públicas e não querem gastar com manutenção de presos. Quem paga somos todos nós, na forma de danos causados em nossa saúde pela convivência diária com a insegurança, com a violência, gerando um povo com mudanças de hábitos antes saudáveis, para um povo estressado, doente, refém de bandidos, políticos mafiosos e mídia oportunista, isso por fim, acaba também criando enormes problemas econômicos.
Vicente
26/01/2016 - 15h35
É, mas com a internet os buracos da peneira são a cada dia mais e maiores. Vai ser difícil da mídia patronal segurar. E isso no mundo todo, não apenas no Brasil.
Obrigado, Miguel!