Punho erguido no comício de Bernie Sanders no Colorado. Foto: Nat Stein
25 anos após o fim da Guerra Fria, EUA vivem “love affair” com o socialismo.
por Cynara Menezes, no Socialista Morena
Enquanto no Brasil a direita segue repetindo platitudes sobre o socialismo (assim como faz a direita norte-americana mais apatetada), o termo está em alta no país-símbolo do capitalismo. Tudo se deve ao senador Bernie Sanders, o pré-candidato democrata à presidência que conseguiu roubar os holofotes da rival Hillary Clinton. Auto-denominado “socialista democrático”, Sanders, ao contrário de muita gente que se diz de esquerda por aqui, não economiza no uso da palavra. E faz bem, porque pesquisas recentes mostram que boa parte do eleitorado democrata hoje se define como socialista. Não é incrível?
“Socialism” foi escolhida “a palavra do ano” em 2015 pelo dicionário online Merriam-Webster. É atualmente a 7ª palavra mais buscada em todos os tempos no dicionário e a pesquisa por seu significado aumentou 169% no ano passado. “O fato de um candidato à presidência de um partido majoritário abraçar o socialismo mostra que o termo superou as definições do tempo da guerra fria”, publicou o Merriam-Webster em seu site. O verbete que o dicionário norte-americano dedica ao socialismo também se modernizou: o conceito aparece mais identificado com a social-democracia europeia, com a regulação da economia pelo Estado e as políticas sociais aplicados em países como a Suécia e a Dinamarca do que com (como repetem sem parar os bolsomitômanos) o totalitarismo da finada União Soviética ou da Coreia do Norte.
Desde que Bernie começou a ameaçar Hillary, pipocam por toda parte artigos perguntando se “a América estará finalmente pronta para o socialismo”.
Ora, a História mostra que foi preciso muito sangue derramado para conter os ímpetos socialistas na terra do tio Sam. Existiu um socialismo cristão por lá desde o século 19, anterior portanto à revolução russa. Nos primeiros anos do século 20, um forte movimento sindical de cunho socialista e anarquista foi reprimido com tortura, prisões, pena de morte e deportações (leia mais aqui e aqui). Durante o macartismo, a partir da década de 1950, comunistas passaram a ser acusados de “espionagem” em favor da URSS e executados na cadeira elétrica. Mas, nos anos 1960, ativistas dos direitos civis como os Panteras Negras continuavam a se identificar como comunistas ou socialistas.
Se o socialismo, mesmo perseguido, nunca morreu inteiramente nos EUA, pode-se dizer que nos últimos meses resolveu sair do armário. Já há inclusive quem fale que a América vive um novo love affair com o socialismo… Um facilitador para esta redescoberta é que agora não existe um inimigo da pátria que “represente” o socialismo. Ou seja, o socialismo voltou a ser o que é em sua essência, uma forma de ver o mundo. E o socialista deixou de ser o “traidor da pátria”. Não existe mais razão para perseguir pessoas que pensem desta maneira, ainda mais em um país onde a liberdade de pensamento é o artigo número um da Constituição.
Uma pesquisa do instituto Gallup de junho de 2015 revelou, de forma surpreendente, que 47% dos norte-americanos disseram que poderiam votar num candidato que se intitula “socialista”. Entre os democratas, o número dos que votariam em um socialista para a presidência sobe para 59%. O mais impressionante é que até entre os republicanos há gente que não veria problema em votar em alguém que se denominasse assim: 26% deles disseram que também poderiam votar num político dito socialista.
Outra pesquisa, feita entre os eleitores democratas no estado do Iowa neste mês, mostra que 43% deles usariam a palavra “socialista” para se descrever a si mesmos. Um número maior do que os que disseram ser “capitalistas”: 38%. Uma terceira sondagem, patrocinada pelo jornal The New York Times em conjunto com a cadeia de TV CBS em novembro de 2015, revelou que também os apoiadores de Hillary Clinton possuem uma imagem positiva do socialismo. 56% dos eleitores aptos a votar nas primárias do partido Democrata disseram ver de forma positiva um governo identificado com o socialismo, contra 29% que têm uma visão negativa. O número é ainda maior entre os jovens (63%) e afro-descendentes (70%). O interesse no socialismo tem tudo a ver com a crescente desigualdade no país: 88% dos eleitores democratas ouvidos pela pesquisa disseram que o abismo entre pobres e ricos é um assunto urgente a ser enfrentado.
Apesar de não se furtar de falar de socialismo ou de posar para fotos com o punho erguido, célebre símbolo comunista, Bernie Sanders tem se mostrado disposto a esclarecer que o mundo de hoje é diferente e que a esquerda evoluiu. “Da próxima vez que me atacarem como socialista, lembrem-se que eu não defendo que o governo deva confiscar a mercearia da esquina ou deter os meios de produção”, disse ele. “O que eu acredito é que a classe média e os trabalhadores deste país, que produzem a riqueza, merecem um padrão de vida decente e seus ganhos devem subir, não baixar.” Não à toa, enquanto Hillary conta com o suporte financeiro de bancos e emissoras de TV, os principais doadores de Bernie são sindicatos e entidades ligadas aos trabalhadores.
Nesta entrevista ao humorista Seth Mayers, Bernie explica por que o socialismo não é um palavrão. Ele cita países como a Noruega, em que a saúde é um direito de todas as pessoas, como aliás quase toda a Europa, diferentemente do que acontece nos EUA, onde quem não tem dinheiro para custear um plano de saúde privado morre na rua (assista ao documentário Sicko, de Michael Moore, sobre o tema). Ou países em que a educação é pública e gratuita e todo jovem pode ir à universidade, não apenas quem pode pagá-la, ao contrário dos EUA. E em que os governos trabalham para as classes menos favorecidas e não para os bilionários.
“Para mim, socialismo democrático significa que nós podemos criar uma economia que funcione para todos, não apenas para os muito ricos. Socialismo democrático significa que nós podemos reformar um sistema político que hoje não é só absolutamente injusto como é, em muitos aspectos, corrupto”, disse Bernie em um discurso na Universidade de Georgetown em novembro, desmontando a falácia da “terra das oportunidades iguais para todos” e da “meritocracia”. Aonde quer que ele vá, arrasta multidões. Esta semana, milhares de simpatizantes de sua candidatura marcharam em 35 cidades dos EUA. Aqui, na terra de Obama:
E pensar que diziam que o socialismo estava na pior, hein? Mesmo que Bernie Sanders não saia candidato à presidência, a sementinha está plantada. Sempre que os EUA enfrentarem crises econômicas, que o fosso entre os pobres e ricos aumentar e que mais gente estiver morando nas ruas, uma palavra vibrará nos ouvidos dos norte-americanos: por que não tentamos o socialismo?
jonas valério
23/04/2018 - 11h45
Existem dois pontos fortes a serem analisados. Crescimento econômico dos paises ricos capitalistas que são alavancados pelas grandes empresas que recebem incentivos do governo X Crescimento da desigualdade social, pois a consciência fica nas mãos dos empresários que optam pelo capital e não pelo bem comum. O Socialismo amarra o empresariado para incentivar o povo a empreender e não deixar que uns tenham muito e outros nada o que seria o enriquecer a custa do suor do outro. Existe o meio termo que é o capitalismo democrático que simplesmente resolve esta batalha sem a intervenção do governo e sim discutindo Empresas e Sindicatos. O problema é apenas a cultura e dignidade por ambas as partes.
Hell Back
31/01/2016 - 21h01
Nos países ditos capitalistas, sempre o setor privado viveu às custas do setor público. Vejam essa notícia vinda dos EUA: http://www.inovacaotecnologica.com.br/noticias/noticia.php?artigo=segunda-revolucao-digital-reboot-tecnologia-informacao&id=010150150904#.Vq59qOYm3pk
“(…) seria necessário começar já um esforço de pesquisa básica que vai depender inteiramente do suporte governamental: não é possível depender apenas das inovações obtidas pelas empresas privadas, diz o relatório.
“Apenas os investimentos voltados para produtos, feitos pelo setor privado, não são suficientes para criar os avanços significantes na infraestrutura de Tecnologia da Informação e nas tecnologias disruptivas necessárias para essas inovações,” diz o relatório.”
Aurius
30/01/2016 - 15h28
Wall Street que se cuide!
Bem que precisaríamos de um Bernie Sanders também aqui no Brasil.
Diego
30/01/2016 - 14h54
Que vergonha tucanadas. Roubando a merenda das crianças pobres e ainda querendo distorcer os fatos, que vergonha tucanalhas.
http://www.brasil247.com/pt/247/sp247/215247/Em-meio-%C3%A0-m%C3%A1fia-da-merenda-Alckmin-v%C3%AA-Lula-'sem-limite‘.htm
Alex Botelho
29/01/2016 - 02h38
Ser de direita ou de esquerda tem hora no brasil passou da hora de ser de direita, em outros países passou da hora de ser da esquerda.
Kate Monica Costa
28/01/2016 - 08h46
Não consegui ler o link. Página da Web não disponível.
Fabio Balek
27/01/2016 - 19h46
Com o socialismo e a extrema-direita diga-se de passagem. Melhor reeleger o Obama de novo.
Hell Back
31/01/2016 - 12h31
Nos EUA é indiferente se o candidato eleito é democrata ou republicano. Na realidade quem conduz o país são os super burocratas do Pentágono e o Congresso americano cooptado até a medula pelos super ricos. Um ou outro não fará a menor diferença. O presidente é simplesmente uma figura decorativa, uma espécie de “rainha da Inglaterra”, preside mas não governa.
Cleiber
21/02/2016 - 22h28
Como se Obama já se reelegeu?
Fernanda Nasser
27/01/2016 - 14h47
O link está fora…
Silvia Leni Auras de Lima
27/01/2016 - 13h44
Não acredito mesmo… infelizmente.
lybra
26/01/2016 - 22h40
Não dá pra tapar o sol com a peneira por tanto tempo, nem com toda a pregação alienante que o povo americano sofre desde o final da segunda guerra. Quando a pobreza bate à porta de milhões, e ações que antes iludiam foram sendo desmascaradas pelo desgaste de tanto tempo sendo repetidas, as esperanças esgarçadas em governantes que são meros bonecos nas mãos dos bilionários, é a hora apropriada para surgir o líder para o povo que está pronto para a mudança.
Elavi Cunha
26/01/2016 - 18h02
André Dedeko Salvador
Maria Regina Novaes
26/01/2016 - 17h28
Tomara….pois a grobo faz propaganda pró Trump!
Neide D’Orazio
26/01/2016 - 17h26
Falem o que for sobre sistemas comunistas, socialistas… Uma coisa é certa, o capitalismo está dando muito errado, uma gota de riqueza rodeada de um um oceano de injustiça e pobreza. Algo precisa mudar urgente.
Eder Santos
26/01/2016 - 16h22
D TTenorio Hpkd Jinsil
Luiz Gonzaga Meziara
26/01/2016 - 14h31
Interessante, no Brasil estão nas ruas contra o comunismo. Já já vão aos EUA protestarem contra a aproximação com Cuba.
Marcos Reino
26/01/2016 - 14h29
Segue, mantendo a ilusão do capitalismo e a renda da população em 2050 será 60 pessoas detendo a renda equivalente a de 3.000.000.000 de pobres.
Luciana Linnikko
26/01/2016 - 17h07
Em 2050 não, em 2016 já é assim…
Paulo De Mattos Skromov
26/01/2016 - 13h56
A teoria revolucionária de Marx – do socialismo mais democrático do que jamais seria o capitalismo, foi direcionada para os países capitalistas avançados de sua época – Inglaterra, sobretudo, países onde a classe trabalhadora assalariada constituisse a grande maioria da população. E nas décadas seguintes com a segunda revolução industrial, também para a Alemanha, a França, a Italia e os Estados Unidos. Ironicamente a história experimentou-a, de forma mal adaptada em países bem mais atrasados como a Russia, a China, Cuba. Vietnã, etc., onde a classe operária era muito minoritária. Nos EUA ainda se mantem as condições objetivas mais favoráveis para sua aplicação, daí o anseio sempre recorrente pelas propostas socialistas.
Amarilia Teixeira Couto
26/01/2016 - 13h31
Quem diria,heim? Pelo que li,Hillary já tem sua candidatura ameaçada. Que os americanos façam a melhor escolha,afinal cada povo deve escolher aquilo em que acredita.Mas é ,no mínimo alvissareiro e instigante,ver os americanos se curvarem ao Socialismo.Ainda bem.
Adail Brandao
26/01/2016 - 13h01
Como assim?