Análise Diária de Conjuntura – Manhã – 22/01/2016
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A grande imprensa hoje está num daqueles dias clássicos: homogênea, apocalíptica, golpista.
Mas hoje está num grau particularmente intenso.
Talvez ela tenha constatado que precisa forçar a barra, porque o carnaval vem aí, quando haverá inevitável distensionamento na conjuntura política, então é preciso agir agora.
O recesso parlamentar atrapalha muito o golpismo, então é preciso amplificar o jogo sujo na mídia.
Como os advogados entenderam o jogo da Lava Jato, e iniciaram uma batalha de comunicação, o procurador chefe da operação, Dalton Dallagnol, iniciou o contra-ataque.
E o ataque é direcionado especificamente à Marcelo Odebrecht, até agora o único réu que decidiu comprar briga de frente contra a conspiração midiático-judicial.
Em entrevista à rádio Bandnews, mas repercutida em toda a parte, Dallagnol diz que Marcelo poderia pegar pena de dois mil anos. A afirmação virou imediatamente manchete do Estadão.
É uma forma de intimidar o réu, usando a mídia. E de intimidar também o Judiciário. Afinal, se o sujeito merece “dois mil anos de prisão”, como um juíz poderá absolvê-lo, ou mesmo condená-lo a “apenas” 1, 3, 5 anos?
Uma outra nota, publicada no Estadão, é uma experiência incrível: testemunhamos as entranhas da construção da nova narrativa do golpe, não sabemos mais se costurada pela mídia, pelos procuradores, ou por uma dobradinha combinada entre os dois, para criminalizar o PT.
A confusão entre mídia e procuradoria se dá porque, em determinados momentos do texto, a reportagem pára de dar aspas à tese da procuradoria, e começa a inventar, por conta própria, teorias sobre o papel do ex-tesoureiro petista.
Para fortalecer a tese, o jornal vai inclusive procurar uma declação do então presidente do PT, José Eduardo Dutra, dada em 2010.
Trecho da matéria: “As operações de arrecadação de propinas atribuídas pelo delator da Operação Lava Jato Milton Pascowitch ao ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto coincidem com a ascensão dele na estrutura do partido e reforçam as suspeitas de que o esquema de desvios e de corrupção na Petrobrás foi montado e sistematizado para atender também a interesses eleitorais e políticos.”
Desde o mensalão, o fogo cerrado das conspirações é sempre este: criminalizar a política e o PT. A corrupção, antes, era uma coisa tranquila. Os corruptos pensavam apenas em si mesmos. Merval Pereira, colunista do Globo, martela muito nessa tecla: a corrupção tucana era boa, a corrupção petista é má. É a narrativa principal do golpe, e vincula-se àquela que Gilmar Mendes tenta empurrar goela abaixo do Tribunal Superior Eleitoral, para cassar a candidatura de Dilma: as doações para o PSDB foram limpas, as doações para o PT, sujas.
Olha que interessante eu descobri na Folha de hoje. Vejam se isso também não são cases maravilhosos para se estudar nas escolas de jornalismo? São chamadinhas na capa do site da Folha.
Esse é quase engraçado. É uma lição para o governo, que tomou a decisão insensata (eu diria mesmo pouco ética, porque privilegiou um órgão privado) de publicar na Folha o primeiro artigo de Dilma em 2016.
É uma lição particular para Jaques Wagner, que talvez tenha desenvolvido, como governador, vícios de coronel político segundo os quais a imprensa sempre pode ser domada, ao invés de entender que é preciso inovar e pensar formas criativas de democratizar a comunicação social e a comunicação do governo.
Em entrevista recente à Folha, Wagner surfou no antipetismo, e afirmou que o partido “se lambuzou”. Pois é, a lambuzada agora se volta contra o próprio Wagner. Trata-se, contudo, de uma chamada tão gritantemente ridícula que seus efeitos são duvidosos. Mas ela prova que a imprensa decidiu jogar sujo com Wagner, por entender que ele se tornou uma peça importante para o governo.
A chamadinha acima, também na capa do site, é um exemplo da alquimia midiática. A Zelotes, que era uma investigação contra corrupção fiscal de grandes empresas, agora recebe um chapeuzinho onde se lê: MPs do setor automotiva.
Ou seja, transformaram a Zelotes numa coisa completamente diferente do que era. E nem se preocupam com o impacto dessa estranha mudança na opinião pública. O que importa é associar a Zelotes ao Lula, ponto final. Combater a sonegação, um crime que desvia mais de 500 bilhões de reais por ano dos cofres públicos? Não vem ao caso.
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No front econômico, a campanha apocalíptica continua. O IBGE divulgou hoje que a inflação caiu, de 1,18% em dezembro para 0,92% em janeiro. Na comparação com janeiro do ano passado, manteve-se praticamente estável, com diferença insignificante de 0,03%. Não adianta, a mídia deu manchetes como sempre homogêneas, iguais, falando que é “maior taxa desde 2003”. Não é mentira. A mentira está no tom apocalíptico, que esconde o fato da inflação ter caído sobre o mês anterior.
Em janeiro de 2015, a inflação havia crescido sobre o mês anterior, e continuou crescendo no mês seguinte, mantendo-se acima de 1% em fevereiro, março e abril. Para este ano, a queda nos preços administrados, a volta das chuvas, e a persctiva de uma safra recorde, sinalizam declínio da inflação ao longo do ano. Não há razão, portanto, para um pessimismo exagerado, artificial, turbulento, que a mídia tenta impor.
Falta falar da tentativa de desmoralizar a política econômica, tratando a decisão do Banco Central de não aumentar os juros como um “erro”, causado pela “interferência política” do governo. Como se as decisões de aumentar os juros fossem exclusivamente técnicas! Tudo é política! O BC aumenta os juros para “agradar o mercado”, para saciar um pouco a fome dos fundos abutres e tentar demovê-los de tentativas de atacar especulativamente o país. Nada mais político do que isso.
O Globo ataca a decisão do BC na capa, com a estratégia maquiavélica de sempre, embora com um toque bastante ridículo. “Analistas” consultados pelo jornal dizem que a autoridade do BC “ruiu”, com a decisão de não aumentar os juros.
É muita sabotagem.
A mídia quer manter, à força de editoriais truculentos, a política de juros altos, porque entende que precisa de recessão, tanto para continuar lucrando com o rentismo, quanto para manter o clima de crise política e apocalipse econômico, que por sua vez é necessário para subjugar o governo, derrotar o PT, e, eventualmente, dar um golpe ainda neste semestre, com a cassação da candidatura de Dilma Rousseff no TSE.
Os advogados de Marcelo Odebrecht entenderam que a batalha se dá na comunicação. Falta o governo ver a mesma coisa. Tanto a batalha política, quanto a econômica, tem de ser disputadas na comunicação.
O governo tem a vantagem de que houve uma mudança química na conjuntura, desde a grande manifestação em São Paulo, no dia 16 de dezembro, contra o golpe, seguida da decisão do STF de derrubar as manobras de Eduardo Cunha. O recesso parlamentar ajuda a dar um pouco de tempo para o governo respirar.
Mas se Dilma usar essa trégua relativa (e enfatizo o relativa, pois a mídia passou a atacar mais, justamente para evitar que alguns dias de estabilidade fortaleçam o governo) para voltar a se esconder, ou a dedicar à não fazer nada, então o clima de golpe se instalará de novo, e a atmosfera negativa, bombardeada com pesquisas Datafolha, marchas coxinhas e Lava Jato na mídia, servirá para pressionar os ministros do TSE a dispararem o tiro de misericórdia.