Análise Diária de Conjuntura – Tarde – 22/01/2016
(Vou liberar esta análise também, excepcionalmente)
Antes tínhamos uma conspiração midiático-judicial, a Lava Jato. Agora são duas, já que a Zelotes passou pela mais bizarra transformação que uma investigação já experimentou, quiçá em toda a história do mundo.
Antes era uma operação que investigava monstruosos esquemas de corrupção fiscal de grandes bancos, indústrias e empresas de mídia. A Polícia Federal elaborou um calhamaço de 500 páginas, com escutas e pedidos de prisão preventiva. A mídia ignorava. Quando um deputado petista criou uma comissão para acompanhar a Zelotes, e a imprensa alternativa começou a dar destaque à operação, a Folha publicou uma reportagem dizendo que o objetivo do PT era usar a Zelotes para abafar a Lava-Jato, como se um país com 205 milhões de habitantes pudesse ter apenas uma operação contra a corrupção de cada vez.
Mas aí a PF e o Judiciário entenderam o recado. E mudaram completamente a Zelotes. Nenhum empresário foi convocado. E a operação passou a investigar filho de Lula, amigo de Lula e o Lula. Tornou-se uma operação que visa alimentar a mídia com notícias onde o nome de Lula aparece sempre no título.
AMIGO DE LULA É INVESTIGADO
AMIGO DE LULA É PRESO
AMIGO DE LULA SE NEGA A DELATAR LULA
FILHO DE LULA RECEBEU DINHEIRO DE LOBISTA
E por aí vai.
Ou seja, tornou-se mais uma conspiração midiático-judicial. Mais um sorvedouro de dinheiro público, com objetivo de desestabilizar o governo e prejudicar o país.
Daí que você entra no site do Globo e está lá, na manchete principal:
É tudo feito com muita esperteza. A filha de Serra recebeu dezenas de milhões de reais em negócios relâmpago. O filho de FHC ganhou pelo menos R$ 14 milhões do governo federal para organizar uma feira na Alemanha. O dinheiro foi usado para contratar uma empresa pertencente à filha do então senador Jorge Bornhausen, presidente do partido aliado ao governo. Ninguém jamais falou nada. Ninguém investigou.
Repare que a manchete já é uma condenação em si. Primeiro porque tenta associar à Lula a imagem do presidente que “não sabia” de nada. Segundo porque diz que filho de Lula “recebeu” R$ 2,5 milhões, ou seja, ele não trabalhou, não assinou um contrato, ele “recebeu”. Terceiro que o pagador é chamado não de empresário, mas somente de “lobista”, um nome coringa que se usa sempre que se quer criminalizar alguém.
Um detalhe interessante que uma fonte de Brasília me contou há pouco: o delegado responsável pela Zelotes, Marlon Cajado, é primo de Claudio Cajado, deputado federal pelo DEM da Bahia, e ardoroso defensor do impeachment da presidenta.
O Globo então aproveita para dar vazão ao depoimento de Milton Pascowitch, contra José Dirceu. E dá-lhe histórias sobre Dirceu. Não importa prova, nada. Dirceu gastava tanto, comprou apartamento pra filha de Dirceu, reformou casa etc.
É incrível que uma figura que a Lava Jato e a mídia mostram como o chefe do mensalão e um dos chefes do petrolão, precisava de ajuda para reformar a casa, uma habitação simples no interior de São Paulo, e adquirir um imóvel para sua filha…
Realmente, Dirceu é o caso do corrupto mais fracassado da história da humanidade. Não tem dinheiro nem para reformar a casa e ainda é preso mesmo já estando preso.
Que homem poderoso, hein?
Enquanto isso, o chefe da Lava Jato, o procurador Dalton Dallagnol, perde as estribeiras e afirma que Marcelo Odebrecht deveria pegar 2 mil anos de prisão.
Dois mil anos!
Por que esse descontrole?
Simples. Porque os advogados de Marcelo entenderam que é preciso fazer a batalha de comunicação, e estão fazendo.
Enquanto isso, o tesoureiro do PT, João Vaccari, é defendido por Flavio D’Urso, ex-presidente da OAB São Paulo, e um dos advogados mais reacionários do país. D’Urso jamais participará de uma batalha de comunicação em prol de seu cliente. É mais provável o contrário. Deve pegar o pouco dinheiro que Vaccari tem, ou mesmo dinheiro do diretório do PT-SP, e gastar à noite com noitadas de uísque com seus amigos reaças, rindo da desgraça do PT, troçando de seu próprio cliente.
Independente disso, porém, a conjuntura não está de todo má.
Na verdade, fora do universo golpista da mídia, vemos a presidenta recuperando forças e ampliando o seu arco de apoios.
Fontes do blog no Senado estão otimistas com 2016, e não porque será um ano fácil, mas porque não será, nem de longe, tão difícil como 2015.
Dilma parece ter entendido que precisa estar mais presente no dia a dia da política, articulando pessoalmente a defesa de seu governo.
A reunião da Executiva Nacional do PDT criou um fato político importante para a presidenta.
Os caciques políticos do partido e seus militantes cantaram, na presença de Dilma, a música da resistência: “nãããooo vai ter gooolpe”, e seu presidente, Carlos Lupi, afirmou categoricamente que seu partido participará da luta contra o impeachment.
O PDT tem 25 deputados e 4 senadores e, mais que isso, é um partido respeitado na Câmara e na sociedade, por sua história de luta pela democracia. Tem prefeituras, deputados estaduais, vereadores. As importantes prefeituras de Porto Alegre e Curitiba são administradas por filiados ao PDT, José Fortunati e Gustavo Fruet, e ambos já se declararam enfaticamente contra o impeachment e contra qualquer tipo de manobra para encurtar o mandato de Dilma Rousseff.
A presidenta deu entrevista hoje à Folha, dando um recado à oposição, pedindo um mínimo de união em prol dos grandes interesses nacionais.
Foi uma entrevista boa, em que ela conseguiu, sem querer, encaixar uma imagem que entrará para a história.
Perguntada sobre a acusação de Eduardo Cunha, de que o Planalto controlava o Ministério Público Federal, Dilma levanta-se, dá dois passos e fala com um sorriso tímido: então eu sou muito incompetente em matéria de controle, né?
Sim, porque aí está justamente o principal mérito de Dilma: ela é uma republicana radical, e que respeita profundamente a independência das outras instituições.
Sobre a entrevista à Folha, porém, acho pouco ético a presidenta, que deveria prestar conta a todos os brasileiros, ficar escrevendo artigo e dando entrevista para um site cujo conteúdo é fechado para assinantes.
Não tenho nada contra vender conteúdo para assinantes, já que eu mesmo o faço, e o Cafezinho não sobreviveria sem assinaturas.
Mas seria um absurdo, por exemplo, a Dilma conceder entrevista ao Cafezinho e a entrevista ficar disponsível somente aos assinantes.
Isso é usar o cargo público para beneficiar um grupo privado.
O Planalto, a despeito das críticas do mundo inteiro, de que precisa reforçar sua estratégia de comunicação, continua tímido.
A presidenta encerrou, há mais de um ano, o Café com a Presidenta, o único canal direto de comunicação entre ela e o público, e que era distribuído para milhares de rádios Brasil a fora, e nunca o substituiu por nada novo.
O Café com a Presidenta, por ser apenas áudio, e não vídeo, já era atrasado. Ao invés de modernizar, criando um programa de TV, para ser distribuído para todo país, Dilma deu um passo atrás, derrubando o único elo que possuía entre o Planalto e o povo.
Não usa a EBC, não usa a TV Brasil, não presta contas de nada. Desistiu de falar na TV no primeiro de maio com a desculpa de que usaria mais a internet.
Não usou. Fugiu da TV e fugiu da internet.
A sua aprovação despencou, e o máximo que ela faz é dar entrevista ao Jô Soares, na Globo, para ser exibida às três horas da manhã, ou para a Folha, só para assinantes.
Em entrevista aos blogueiros, Lula comentou que Dilma concedeu aumento para o salário mínimo, aos aposentados, elevou o piso nacional dos professores, e não comunica isso a seus eleitores.
Mobilidade urbana? Planos para educação? Novas parcerias estratégicas?
Nada.
O povo brasileiro espera, ansioso, que o governo ofereça perspectivas e esperanças, sobretudo diante da tortura diária a que é submetido por uma mídia que usa todas as suas poderosas armas para lhe roubar a esperança, a alegria, os sonhos.
Uma melhor comunicação com o povo é uma obrigação democrática da presidenta, além de condição necessária para melhorar sua aprovação, estabilizar seu governo, subsidiar sua base parlamentar com informações, instruir sua militância nas lutas diuturnas que esta faz em sua defesa, e, por fim, para tranquilizar investidores e empresariado, que só respeitam uma presidenta que obter um mínimo de estabilidade política e aprovação popular.
Apesar, porém, da incompreensível recusa de Dilma em aprimorar sua comunicação, apesar da histeria cada vez mais aguda da mídia, e do golpismo cada vez mais latente das conspirações midiático-judiciais, a conjuntura está melhorando bastante.
Para completar esse quadro de melhora, Leonardo Quintão, antigo opositor de Leonardo Picciani, acaba de declarar que apoiará Picciani contra Hugo Mota, atual candidato de Eduardo Cunha, para o cargo de liderança do PMDB.
É a pá de cal no golpe!