A Grande Aposta, o filme que mostra como somos burros

por Jader Pires, no Papo de Homem

Quando Martin Scorsese encontra Michael Moore. Essa afirmação passava pela minha cabeça durante toda a exibição de A Grande Aposta, filme dirigido não pelos dois conhecidos aqui de cima, mas pelo Adam McKay, conhecido pelas dezenas de comédias que fez com Will Ferrell.

A estrutura do filme vai te lembrar rapidamente O Lobo de Wall Street. A quarta parede quebrada diversas vezes, uma história que vale mais pelo “como aconteceu” do que “o que aconteceu”. E como diabos aconteceu? É aí que entra o Michael Moore. O filme nos dá toda uma carga documental e didática do acontecido, repetidas vezes. Efeitos da crise financeira de 2008 são sentidos até hoje, dos bancos quebrando nos Estados Unidos e o resgate econômico de mais de 800 bilhões de Dólares injetados pelo governo na economia ao desemprego na Espanha, os problemas na Grécia, enfim, um imbróglio grave de escala global amplamente divulgado e analisado nos anos seguintes.

Conhecemos essa história e seus motivos macro. Mas, ainda assim, temos lá certa dificuldade em entender os pormenores e é onde o filme quer entrar, com a grande responsabilidade de nos explicar de forma acessível termos do mercado financeiro, colocar no nosso colo o que foi a grande crise dos subprimes no mercado imobiliário e como isso afetou todo o país e o mundo nos anos seguintes.

Mais de uma vez.

E da repetição se faz a sátira, o sarro tirado da própria cara. McKay faz isso o tempo todo, Ryan Gosling, Brad Pitt, Christian Bale e Steve Carell fazem isso o tempo todo, representando, mais que seus personagens, algumas das reações que temos diante do ocorrido. Aproveitadores, incapazes, incrédulos. “Como a gente é burro” é a sensação recorrente. A ironia escorre por todo o enredo, seja na descoberta tão óbvia da cagada que estaria por vir, seja nos exemplos de como esse castelo de cartas estava sendo construído, em momentos que aparece uma modelo tomando banho de banheira e tomando espumante para explicar como funcionavam os empréstimos hipotecários de alto risco, quando um chefe de cozinha conhecido por seus programas na TV a cabo exemplifica como “requentar” créditos podres ou então quando ele diz que somos tão estúpidos que até a cantora teen Selena Gomez nos professora como expectativas afetam as decisões sobre investimentos.

Somos burros porque deixamos isso acontecer. Somos burros porque provavelmente participamos disso. Somos burros porque fomentamos o capitalismo da maneira agressiva que é hoje. Somos burros porque não pensamos em outra maneira de seguir e somos burros porque provavelmente faremos tudo isso de novo. E de novo. Daí a gravidade dessa brincadeira. Afinal, errar seria humano, mas persistir é só burrice mesmo.

A ideia é te fazer se sentir levemente ofendido, sim, mas perplexo com a realidade. Porque precisamos, de uma vez por todas, aprender com os nossos erros.

“O que nos causa problemas não é o que não sabemos. É o que temos certeza que sabemos e que, no final, não é verdade” — Mark Twain, escritor americano (1835-1910)

Sugiro, como leitura complementar, o artigo “O que o filme ‘A Grande Aposta’ nos ensina sobre crise de 2008”, do Nexo.

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Assista o trailer.

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