por Ravi Novaes
Ontem após trabalhar o dia inteiro (sou professor), fui para o cruzamento da Rebouças com a Faria Lima participar da manifestação contra o aumento da tarifa de ônibus e metrô. Cheguei atrasado pois o ônibus demorou, mas consegui somar-me ao Ato. A manifestação seguiu para o centro e extendeu-se até aproximadamente 21h30, quando se iniciou a dispersão em frente à prefeitura.
Ao sair da manifestação marquei de tomar cerveja com um casal de amigos que mora no Centro, escolhemos parar na lanchonete Esquina da 7, no encontro da rua 7 de abril com a Dom José de Barros. Por volta das 22h ocupamos uma mesa e pedimos um balde com quatro cervejas.
Abrimos a primeira e pedi um lanche, quando destampamos a segunda, e meu sanduíche estava chegando, vi que algumas pessoas que tentaram pegar metrô na República voltavam: a estação estava fechada e havia muitos policiais no local. Minutos depois ouvimos o que pareceu ser o estouro de uma bomba (não ocorreu em nosso campo de visão), em seguida algumas pessoas chegaram e atearam fogo em sacos de lixo localizados próximos ao nosso local, o que nos fez levantar da mesa na calçada e sentar no degrau de entrada do estabelecimento; alguns clientes entraram na lanchonete apreensivos, mas nós estávamos tranquilos assistindo ao que se passava no cruzamento.
Quando abrimos a terceira garrafa as pessoas que atearam o fogo já haviam saído, mas o lixo continuava a queimar. Alguns clientes foram, aos poucos, voltando para suas mesas, outros permaneceram no interior do prédio. Nós optamos por continuar sentados no degrau, de frente para a fogueira.
Nesse momento, aproximadamente 23hs, chegaram, com diferença de instantes, muitos fotógrafos, para registrar o lixo queimando, e vários policiais. Um sujeito branco, de porte médio, barba clara e aparada veio falar conosco. Tinha nas mãos um bloco de notas e uma caneta. Perguntou se toparíamos dar-lhe uma entrevista para dizer como aquilo começou, ficamos em dúvida até que minha amiga resolveu o dilema perguntando para qual veículo de comunicação era a entrevista. Ao dizer: o Estado de São Paulo decidimos: não daríamos entrevista.
O repórter indignado, perguntou: “só pelo jornal no qual eu trabalho?! “Dissemos que sim, era por isso mesmo. Não satisfeito ele insistiu, então nós e outras pessoas do bar demos qualquer resposta para que ele parasse de nos importunar: “quando vimos já estava pegando fogo”, “foi combustão espontânea, igual no cerrado” alguem disse.
O repórter, furioso, demonstrou (quase) toda sua falta de profissionalismo e nos gritou: “VÃO TOMAR NO CU!” virando então as costas enquanto guardava seu bloco e caneta. Eu, que era o que de nós três estava mais próximo dele (fiquei durante todo o incidente sentado na escada) considerando a entonação, não o conteúdo do grito, uma ofensa, rindo retribui os votos: “vá você tambêm que pode ser bom!”. Então, nessa hora, o repórter do Estado, que depois identificamos ser Bruno Ribeiro, fez meia volta e avançou para me dar um soco no rosto, de cima para baixo (ele estava em pé e eu sentado). Por um resquício de bom senso, que o jornalista até então não havia demonstrado, Bruno Ribeiro, repórter do Estado, parou sua mão a poucos centímetros do meu nariz. Fiquei tão surpreso quanto os demais clientes e funcionários da lanchonete.
Nessa pausa ele se virou rápido e foi embora pisando duro. Ainda tive tempo de parabenizá-lo pela falta de profissionalismo, digna da pior imprensa marrom que há. Quando finalmente me levantei da escada e perguntei pelo repórter, clientes e funcionários do local disseram que ele havia “fugido”.
Abrimos a quarta cerveja e a terminamos enquanto tentávamos entender o quê havia acontecido. Então partimos. Hoje pela manhã (20/01) eu e alguns amigos fomos atrás de identificar o agressor. Conversamos sobre quais as medidas cabíveis que poderíamos tomar; uma de minhas decisões foi escrever este depoimento para expor o ocorrido.
Considerações
Tenho o direito, assim como qualquer cidadão, a recusar entrevista para um veículo de comunicação. Nesse caso eu não queria meu depoimento legitimando a linha editorial, historicamente enviesada, do Estadão na cobertura das manifestações contra os aumentos da tarifa.
Identificamos o repórter agressor, trata-se de Bruno Ribeiro, jornalista do Estado de São Paulo que cobriu o 4º ato contra o aumento “ao vivo”. Sua atitude traz uma postura comum aos detentores de privilégio, que acreditam poder impor suas vontades a base de força física e intimidação. Em meus 12 anos de militância junto a movimentos sociais não me lembro de presenciar ao vivo uma atitude tão arrogante por parte de um jornalista (embora acredite que como Bruno Ribeiro existam vários). O desfecho dos acontecimentos (a intimidação e o soco) apenas reafirmaram o acerto de nossa primeira decisão, de recusar entrevista.
Por fim, dedico este depoimento aos bons jornalistas, tive o prazer de conhecer muitos nesses últimos anos, e aguardo do repórter Bruno Ribeiro e do Estado de São Paulo retratação pública sobre o ocorrido.
Peço a todos que divulguem este depoimento para que fique conhecido o jornalista que protagonizou essa cena patética e assim mais mais pessoas possam precaver-se quanto à conduta infantil, autoritária e anti-profissional que Bruno Ribeiro demonstrou praticar.
Ravi Novaes é Professor formado em Artes Visuais pela USP