Valor tenta confundir leitor divulgando delação não-oficial de Cerveró

Análise Diária de Conjuntura – Manhã  – 18/01/2016

A Lava Jato entrou numa espécie de curto-circuito de vazamentos, na esteira do desespero crescente da mídia pelo iminente fracasso de todos os golpes.

Talvez haja esperança de produzir um “clima” e afetar a decisão do TSE sobre a ação movida por Aécio Neves, tentando anular as eleições de 2014.

Aliás, uma colunista do Valor soltou um ato meio falho outro dia: afirmou que o “sentimento” dos ministros do TSE era o de arquivar a ação de Aécio, mas que este sentimento poderia mudar com novas revelações da Lava Jato.

Talvez de olho neste objetivo, a República do Paraná iniciou, de uns dias para cá, um processo frenético de vazamentos  seletivos.

Os vazamentos de Cerveró são um caos, porque agora se misturam trechos de uma delação não-oficial, não homologada, e, portanto não confiáveis, com delações oficiais, homologadas pelo STF.

O último vazamento vem do Valor, jornal que resolveu abandonar uma postura um pouco mais sóbria que os demais, e mergulhar também nesse golpismo sujo e generalizado característico de seus colegas. O jornal publica “furo” sobre uma delação de Cerveró, referindo-se a suposta propina de R$ 50 milhões dada à campanha de Lula de 2006, por conta de um projeto petroleiro em Angola. É uma daquelas delações “tiro no escuro”, sem prova nenhuma.

O fato desta delação não constar da delação oficial, homologada pelo STF, não merece nenhum destaque pelo Valor, nem pela Folha (que reproduziu a notícia com sensacionalismo). Alias, a informação de que se trata de conteúdo “não-homologado” é omitida. É preciso deduzi-la da notícia.

Por que Nestor Cerveró cortou esta informação da delação homologada pelo STF? Obviamente porque se trata de informação sem provas, possivelmente fruto do desespero de um réu torturado por Sergio Moro e delegados, com uma prisão preventiva por tempo indeterminado, além de outras táticas mais sinistras.

A resposta do Instituto Lula à reportagem do Valor é objetiva: “Procurada, a assessoria de imprensa do Instituto Lula disse que não comentaria ‘supostas delações, quanto mais supostos acordos de delação, vazados de forma seletiva, parcial e provavelmente ilegal, que alimentam um mercado de busca por benefícios penais e manchetes sensacionalistas'”.

O desespero da mídia é tão grande que a Folha contratou Kim Kataguiri, o líder dos golpistas mirins, para colunista no site do jornal, num esforço patético para produzir um clima de golpe antes de junho, que é mais ou menos o deadline para todas as tentativas de encurtar o mandato de Dilma Rousseff.

Merval Pereira, outro que está à beira de um ataque de nervos, com o fracasso do golpe que ele pregou diuturnamente, nos últimos meses, divulga hoje, em seu blog e na CBN, um estudo grotesco, feito por um professor notoriamente golpista, que mostraria “crescimento econômico após o impeachment”.

O golpismo se tornou uma caricatura. Na falta de argumentos legais ou políticos, agora se procura ventilar profecias sobre um eventual “crescimento econômico” derivado do golpe, como se fosse possível que uma ruptura democrática, desorganizando todo o sistema político nacional, pudesse trazer algum benefício à economia brasileira.

E mesmo se trouxesse? Como é possível alguém vender a democracia por alguns pontinhos provisórios no PIB? Não foi exatamente isso que se tentou fazer na ditadura militar, justificando o golpe, a tortura, a censura, e o asfixiamento de todas as liberdades políticas, com o “milagre econômico”?

Entretanto, a conjuntura política experimenta uma interessante mudança química. Um setor crescente e importante da sociedade já percebeu que os vazamentos da Lava Jato são criminosos, e fazem parte de uma conspiração midiático-judicial. Tudo é feito seguindo a lógica de “derrubar” o governo. A postura das autoridades que chancelam ou protagonizam estes vazamentos as fazem parecer ainda mais bandidos do que aqueles que estão presos.

O documento assinado por mais de uma centena de advogados, criticando os arbítrios da Lava Jato, mais as entrevistas de Técio Lins e Silva, à Folha, e de Wadih Damous ao Globo, mostram, contudo, que as nuvens da política mudaram.

No campo da economia, há notícias positivas, que sinalizam substantiva melhora das perspectivas para o segundo semestre deste ano, que é o período em que todas as crises atuais, políticas, econômicas, quiçá até mesmo especulativas, tendem a recuar e dar espaço à estabilidade.

A melhora do cenário econômico foi admitida até pelo blog da rainha dos urubus, Miriam Leitão, ao comentar o boletim Focus de hoje. O Focus é um boletim meio esquizóide: não passa de uma previsão futurística de operadores do mercado, os quais, além de terem interesse na manutenção da crise (lucram com juros altos e inflação), também são influenciados pelo pessimismo militante, quase fanático, da mídia.

O blog da rainha dos urubus, ia dizendo, publica o seguinte:

Mercado eleva projeção de crescimento de 2017 para 1%
POR ALVARO GABRIEL – 18/01/2016 11:35

O Boletim Focus divulgado hoje trouxe uma notícia boa: o mercado financeiro elevou a projeção para o PIB do ano que vem, de 0,86% para 1%. Ou seja, depois de um ano de estagnação (2014) e dois anos seguidos de forte recessão (2015 e 2016), o país pode voltar a crescer no ano que vem, ou, pelo menos, parar de cair, já que uma alta de 1% depois de um forte período de queda não chega a ser uma recuperação. Outro indicador positivo foi o aumento da projeção da balança comercial deste ano, para US$ 35,5 bilhões, e do ano que vem, para US$ 38,8 bi.

Mas o cenário ainda continua bastante complicado. A projeção para PIB de 2016 foi mantida em -2,99%, mas subiu a estimativa para a inflação, para 7%. Para o ano que vem, também subiu a expectativa para inflação, para 5,4%.

O boletim Focus divulgado hoje traz o seguinte quadro:

O “mercado” prevê que a balança comercial este ano será de US$ 35 bilhões e a de 2017, de US$ 38 bilhões, excelentes números.

A inflação deste ano será de 7,0%, apenas meio ponto acima do teto, e a de 2017, de 5,4%, bem abaixo do texto, e já encostando no centro da meta, que é de 4,5%.

Os investimentos diretos no país deverão ser de US$ 55 bilhões este ano, segundo o mesmo “mercado”, e voltar a US$ 60 bilhões em 2017, mostrando que o Brasil continua sendo um dos principais destinos dos recursos produtivos globais.

O mercado também baixou a estimativa da dívida líquida do setor público para este ano, de 40,20% para 39,75%, isto é um sinal importantíssimo, porque revela que o governo voltou a inspirar confiança ao mercado.

(A Análise de Conjuntura é livre às segunda-feiras, e exclusiva para os assinantes nos outros dias da semana).

Miguel do Rosário: Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.
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