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Análise Diária de Conjuntura – Manhã – 15/01/2016
Miriam Leitão está eufórica com a Argentina, assim como o “mercado”. O fato de ser o mesmo “mercado” que destruiu a economia do país, antes da era Kirchner, é convenientemente omitido. A colunista do Globo, comentando o “início forte” do governo Macri, deixa escapar uma observação algo imprudente: “Programas sociais, como para a educação, tiveram um crescimento muito forte entre 2012 e 2014, e essa conta não está cabendo no orçamento do governo.”[/s2If]
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Todos os gastos do governo argentino que tinham como objetivo melhorar a vida do povo são classificados como “subsídios”, enquanto aqueles que Macri pretende, a partir de agora, destinar ao capital, são classificados como pagamentos justos e necessários. Por exemplo, a mesma Miriam repete, em sua coluna de hoje, que o governo argentino está negociando a volta dos “fundos abutres” ao mercado de capitais do país.
Vale a pena ler o que diz Miriam, em sua coluna:
“Macri teve um início muito forte de mandato, combatendo algumas das principais distorções macroeconômicas em seu primeiro mês no cargo. Há ainda muito a fazer — a política fiscal deve ser apertada e é preciso chegar a um acordo com os fundos abutres para voltar ao mercado de capitais — mas os progressos até aqui são encorajadores”, escreveu o economista Edward Glossop, em relatório.
O Cafezinho não pactua com nenhum tipo de torcida urubu, de maneira que desejamos que o governo Macri, mesmo sendo neoliberal e, portanto, contrário às nossas ideias, seja bem sucedido em seus intentos para fazer a economia argentina voltar a crescer.
Na verdade, governos conservadores, como foi, por exemplo, a ditadura militar brasileira, conseguem às vezes promover crescimento econômico, às custas da piora na distribuição de renda e entrega de pedaços de soberania, que negociam nas bolsas internacionais em troca de dinheiro fácil e rápido.
É curioso, no entanto, assistir à “torcida” das corporações midiáticas latino-americanas pelo governo Macri. Todas as notícias são incrivelmente positivas, otimistas, “pra frente”.
Isso não significa que não admitamos os erros dos governos Kirchner. Governos de esquerda cometem erros como quaisquer governos, assim como enfrentam problemas de corrupção como quaisquer governos.
A corrupção, no entanto, por mais que seja um problema endêmico em países latino-americanos, como de resto é um problema endêmico em qualquer país subdesenvolvido, é um problema contingente. Não é um problema estrutural, como tenta impor a mídia, em seu esforço, tantas vezes bem sucedido, de fazer o povo esquecer problemas estruturais muito mais graves.
A questão da mobilidade urbana, por exemplo, não é um problema de corrupção, e sim um problema de escolha política, que tornou o Brasil dependente do setor de autopeças, de um lado, e da indústria rodoviária, de outro.
A manhã foi péssima para o país, em matéria de índices econômicos, a começar pela divulgação, pelo IBGE, do aumento do desemprego para 9% da população, puxado sobretudo pela indústria.
É óbvio que uma reativação da indústria nacional deveria ser feita através de investimentos no setor ferroviário, mas não voltado apenas para o transporte de cargas, e sim, sobretudo, para a mobilidade urbana das grandes cidades, que se encontram em estado de insuportável superpopulação de automóveis.
Isso não significa sucatear a indústria de autopeças, até porque o número de carros, em relação à população, ainda é pequeno no Brasil, se nos compararmos ao Japão, à Itália, aos Estados Unidos.
O desemprego de 9% foi causado, segundo o próprio IBGE, mais pela entrada de novos contingentes no mercado de trabalho, do que pela demissão dos que já se encontram empregados. Mesmo assim, a situação começa a ficar preocupante, conforme se pode ver na tabela abaixo.
A população de desempregados cresceu 2,5 milhões de pessoas em um ano. A conta Levy chegou. E sua a política econômica, apesar disso, ainda é incensada pela mídia. Tínhamos 6,5 milhões de desempregados ao final de 2014 e chegamos a 9 milhões ao fim de 2015.
Mas não é apenas culpa de Levy, mas também da atuação de um Banco Central que, à diferença de seu congênere norte-americano, entende a política de juros apenas como um instrumento de combate à inflação. O desemprego não entra nos cálculos das mentes frias do BC, refletindo a mentalidade subdemocrática e pouco humanista que caracteriza a burocracia de países subdesenvolvidos.
No front político, gostaria de comentar a coluna de Merval Pereira de hoje, que mais parece feita por um estagiário do portal do PSDB, do que um comentário político feito pelo principal articulista de um dos maiores jornais do país.
É incrível a degradação a que chegou a imprensa brasileira.
Há um trecho inclusive divertido, no qual Merval disfarça, em linguagem empolada, seu desencanto com o fracasso do impeachment e o iminente fracasso do golpe no TSE. Vale a pena reproduzir, por seu lado folclórico. Realmente, Merval assemelha-se em muito, por seu estilo, partidário e provinciano, aos publicistas engomadinhos do século XIX.
Embora em teoria a disputa esteja ainda muito longe, os candidatos já tentam se posicionar diante da instabilidade da situação política, que pode desaguar num processo de impeachment, ou da possibilidade de que a chapa Dilma-Temer possa vir a ser impugnada pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) por abuso do poder econômico e político.
Serra, por exemplo, é especulado para ministro da Fazenda de um eventual governo Temer, o que poderia lhe valer a candidatura à presidência da República pelo PMDB.
Embora, na minha opinião, existam razões suficientes para que as duas conseqüências se materializem, no momento o ambiente político parece menos favorável do que já esteve a um desfecho antecipado. Mas a própria instabilidade política do país sugere que essa situação pode mais uma vez mudar, pois todos os atores estão sujeitos ao imponderável da Operação Lava-Jato e das delações premiadas.
Reparem bem no “ambiente político parece menos favorável”, uma admissão discreta, embora explícita, de que o golpômetro caiu muitos pontos nas últimas semanas. Por outro lado, Merval tem razão sobre a Lava Jato, não obstante a hipocrisia de omitir que as tais “delações premiadas” já atingiram Aécio Neves, FHC, Temer, quase todo o PMDB, tendo se tornado, portanto, uma grande pantomina que depende muito mais do peso que a mídia confere a tais e quais delações do que densidade real de cada uma delas.
Na verdade, a cassação da chapa de Dilma Rousseff, um golpe improvável, é o último tiro pesado da oposição. A CPI da Petrobrás já foi encerrada. A CPI do BNDES, que nunca chamou a atenção da mídia (pelo fato de não ter encontrado nenhuma irregularidade), acaba em fevereiro. Resta à oposição a CPI dos Fundos de Pensão, que ainda pode fazer barulho, mas que também caminha para um desfecho tranquilo e melancólico para a oposição.
Ainda no Globo, a nota que abre a coluna de Ilimar Franco informa que o TSE definiu os tetos de gasto das campanhas eleitorais para este ano, o primeiro no qual não serão aceitas doações empresariais. O TSE determinou que os candidatos poderão gastar no máximo 70% do texto definido nas últimas eleições municipais.
Para a prefeitura do Rio, por exemplo, o teto será de R$ 14,8 milhões, calculado com base nos R$ 21,2 milhões gastos pelo então candidato Eduardo Paes em 2012. O teto de gastos de cada município está neste link do TSE.
Entretanto, os candidatos observam que, com a proibição de doações de empresa, estes limites, mesmo inferiores a 2012, serão impossíveis de serem atingidos.
Essa nova realidade, somada a um percentual muito maior de gente disposta a se informar sobre os candidatos via internet e redes sociais, poderá tornar esta campanha uma das mais politizadas da história.
Michel Temer, um dos ex-líderes do golpe contra Dilma, junto com Eduardo Cunha, dentro do PMDB, está se debilitando dia a dia dentro do partido, e mesmo que consiga se reeleger, será dentro de um acordo em que ou renunciará ou se licenciará, dando espaço para alguém mais ligado ao Senado e ao governo.
Confiram essas notas do Painel, da Folha:
PMDB no Senado quer que Michel Temer renuncie à presidência do partido após ser reeleito
Cem graus Celsius A cúpula do PMDB do Senado aceita apoiar a reeleição de Michel Temer à presidência do partido desde que ele renuncie ao comando nacional da sigla logo depois da votação, marcada para março. Temer, porém, propõe acerto diferente: ser reconduzido e se licenciar depois, abrindo espaço para que o vice, um senador, assuma o cargo apenas interinamente. O conflito entre os dois lados amplia o racha na legenda, tornando a atmosfera do impeachment mais e mais rarefeita.
Nem pensar “Esse acordo não passa sem nosso aval. Só se ele abdicar e der a presidência ao Romerinho em caráter definitivo”, desafia um cacique, referindo-se à proposta aventada por Temer de ter o senador Romero Jucá (RR) como presidente provisório.
Nem morto Mas o vice-presidente da República refuta a ideia de renúncia. “Que montem uma chapa e disputem voto a voto”, afirma um interlocutor.
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A Lava Jato, por sua vez, encontra-se cada vez mais contestada por juristas. Uma coisa era manipular a justiça para prender meia dúzia de petistas e deputados obscuros do PMDB. Outra coisa é fazer o mesmo com Marcelo Odebrecht. Nota do Painel de hoje traz à tona uma das manobras do jogo sujo de delações praticado por alguns bandidos travestidos de autoridade:
Checagem Advogados de Marcelo Odebrecht apresentarão nesta sexta (15) ao juiz Sérgio Moro pedido de acesso aos vídeos com os depoimentos dos delatores da Lava Jato. A defesa sustenta haver divergência entre a transcrição feita pelo MP e o que foi de fato dito.
Ou seja, as delações premiadas, além de serem imorais e quiçá inconstitucionais (conforme denuncia o deputado federal Wadih Damous), se prestam ao jogo sórdido de todo o tipo de conspiração e manipulação, até mesmo divergências entre o que foi dito e a transcrição. Não é a primeira vez que esse tipo de distorção, motivado pelo partidarismo ilegal de procuradores ou delegados, acontece no processo.
Diversos juristas do país assinaram manifesto (íntegra aqui) contra as violações de direito que estão sendo levada a cabo pela Lava Jato. A mídia, de onde veio o principal apoio a essas violações, noticia o protesto dos juristas de maneira a depreciá-lo.
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