Reportagem publicada no Valor hoje derruba um montão de factoides divulgados nos últimos dias, sobre a delação de Nestor Cerveró, ex-diretor da Petrobrás.
O próprio Valor (que também pertence aos barões), para tentar reduzir o vexame passado pelos jornalões, enfatiza que Cerveró “muda versão de propina à campanha de Lula”, omitindo dos leitores a explicação, básica, de que as informações anteriores sobre a delação de Cerveró eram baseadas em vazamentos ilegais, parciais e tirados de um processo de “pré-delação”.
A “mudança” no depoimento de Cerveró evidencia a fragilidade de se basear qualquer denúncia com base em “delações premiadas”, feitas por executivos desesperados para não serem “justiçados” por Sergio Moro.
Não apenas os depoimentos dos delatores não são confiáveis, como as perguntas de seus entrevistadores (procuradores ou delegados) são frequentemente capciosas, feitas com objetivo de criar respostas dúbias, mas que sirvam de manchetes para os jornais.
Já se detectou manipulação até mesmo no momento de transcrever as respostas dos delatores.
O vazamento parcial coroa um processo viciado do início ao fim.
Historiadores terão dificuldades para acreditar no nível de manipulação a que chegou a nossa imprensa, de tão ridícula que esta se tornou em seu afã para fazer política.
Os factoides sobre a delação de Cerveró baseavam-se em documentos contendo trechos de uma delação ainda não homologada, e portanto ainda não oficial de Cerveró, alguns deles encontrados no escritório de Delcídio Amaral.
Mais surreal ainda é que Aécio Neves tenha manifestado a intenção de agregar a delação de Cerveró ao processo que o seu partido move contra Dilma no TSE, só que o tucano usa como base as informações vazadas pela imprensa, que são falsas, e não a delação verdadeira de Cerveró, aquela homologada pelo STF (que também precisa ser comprovada, claro).
O Valor teve acesso à delação homologada pelo Supremo Tribunal Federal (STF), a única que tem valor legal, e que contradiz um monte de coisa divulgada pela imprensa nos últimos dias. Por exemplo:
1) Em sua delação homologada no STF, Nestor Cerveró não menciona Lula. Nem campanha de Lula. Cerveró fala que o “destino do dinheiro” da UTC seria decidido por Delcídio do Amaral.
2) Cerveró não menciona participação da Odebrecht em nenhum esquema, quanto mais no esquema do revamp (renovação do parque de refino) da refinaria de Pasadena.
3) Cerveró menciona R$ 4 milhões da UTC (os mesmos cujo destino seria decidido por Delcídio), doados pela empresa com vistas a uma contrapartida da Petrobrás: obras de revamp em Pasadena. Mas não fala em campanha de Lula. E admite que a UTC acabou não ganhando obra alguma em Pasadena. Ou seja, não houve contrapartida.
4) O nome de Dilma, que aparece algumas vezes na “pré-delação” vazada pela imprensa, não aparece uma só vez na delação homologada no STF.
5) O Valor, estranhamente, não fala nada sobre a delação de Cerveró acerca de um negócio do governo FHC na Argentina, que teria gerado propina de US$ 100 milhões para o PSDB. A omissão deve ser por conta da famosa máxima da imprensa nacional: “podemos tirar se achar melhor”.