De Jardim para Azevedo, defendendo a Petrobrás; ou a veja é o retrato perfeito da falsa ideia de liberdade e democracia.

por Tadeu Porto, colunista do Cafezinho

Cá estou como um colunista macaco, pulando cada galho entreguista que a árvore da Abril apresenta no intuito de querer destruir a imagem da Petrobrás. Nessas épocas golpistas, a batalha da comunicação deve ser disputada como uma final de libertadores, não pode haver jogadas perdidas.

Eu, particularmente, discordo de quase tudo que o Reinaldo Azevedo fala (concordamos em algumas críticas ao Olavo). Tenho certa simpatia pelo nome dele, afinal torço para o Galo de corpo e alma, mas não passa disso.

Apesar da discordância, a priori, acho importante que ele escreva. Bom, eu o enxergo como um golpista que faz muito mal a democracia e também um conservador que pode fomentar ideias que geram discriminação, intolerância e violência e obviamente isso é ruim, mas censurá-lo seria ainda pior. O contra exemplo e as más ideias são inerentes do aprendizado, sendo assim, que Reinaldo escreve como se não houvesse amanhã.

Todavia, não podemos ignorar que, dentro de qualquer desejo de sabedoria advinda de um debate dialético, Azevedo não poderia ter acesso a mais ferramentas de comunicação do que aqueles que discordam dele, afinal, democracia pressupõe uma discussão justa e igualitária de reflexões, no mínimo.

Portanto, o ideal mesmo seria oferecer um espaço democrático para que ele se manifeste e depois apresentar os contrapontos num espaço semelhante, de maneira a ensinar as pessoas a lerem as b#stas que ele rola – créditos para Leornado Boff – de maneira crítica.

E aí mora uma complicação que o Brasil ignora há mais de século e que atrapalha, e muito, nesses momentos de crise e vale-tudo político: a não democratização das mídias.

Mas isso é assunto para aprofundar em outro momento. As considerações principais aqui serão acerca do vórtex da nossa crise atual: a Petrobrás.

Me admira, e muito, que parte a população se vire tão facilmente contra a instituição que é orgulho nacional. A estatal petrolífera brasileira é uma das grandes novidades do mercado de óleo e gás contemporâneo, com a descoberta de reservas em um ambiente extremamente hostil e, tão importante quanto, logra êxitos consideráveis na extração dessa commodity de maneira revolucionária, afinal, até década passada, no mundo do petróleo poucos países apresentaram uma novidade tão rentável quanto o pré-sal.

Mesmo assim, Reinaldo corre ao blogue dele para escrever um texto inteiro de difamação a Petrobrás, sem a menor preocupação em utilizar falácias para facilitar os caminhos às críticas irresponsáveis (confissão: eu imagino ele terminando um post e fazendo uma cara de triunfo estilo MC Melody quando faz um falsete).

Azevedo faz um argumento muito tosco – não surpreende – para associar uma crise mundial do petróleo, ao PT, pois o negócio dele parece ser disseminar o fascismo para cima do Partido dos Trabalhadores.

Claro, houve erros na gestão petista na Petrobrás. Eu mesmo fui defensor do congelamento dos preços dos derivados a priori, estava cansado de taxa de juros e câmbio para segurar a inflação e de ver a danada da ‘curva de phillips’ atuando e aumentando o desemprego, mas o fato é que com a crise do petróleo a companhia levou duas pancadas que dificultam suas ações.

É como o fiel escudeiro que entrou na frente de seu rei e recebeu uma flechada numa batalha, mas, logo em seguida, enfrenta uma luta ainda mais forte e tem que se virar mesmo com a ferida.

A geopolítica do petróleo em si criou um ambiente difícil de prever que chegaria num ponto tão caótico, assim, a luz da conjuntura do primeiro mandato da presidenta, as escolhas não foram nada absurdas. Vale ressaltar, por exemplo, que tivemos a menor taxa de desemprego da série histórica há menos de dois anos e isso é um fato impossível de ignorar.

O que o blogueiro da Veja faz é simplesmente pegar duas variáveis (inflação e preço de derivados) e tenta vender o apocalipse da maior produtora de óleo de capital aberto num cenário de uma adversidade complexa e imprevisível.

Consideremos um pouco mais de fatos:

  • Se hoje as dificuldades são culpa do governo, quando a industria naval saiu de dois mil para oitenta mil funcionários, a culpa era de quem?
  • O valor agregado da construção de navios que nos fez inovar e atuar no mercado de submarinos nucleares é culpa de quem?
  • O crescimento na participação do PIB por parte da Petrobrás que saiu de 3% para 13% (com dados do Ministério da Fazenda afirmando que a cada 1 bilhão tirado de investidos por ela acarretam em perdas de 2 bilhões de produto interno bruto), foi culpa de quem?
  • A descoberta do pré-sal, os recordes de produção, refino e perfuração, o aumento no quadro de funcionários e o sonho de um fundo social, Reinaldo, eu te pergunto: é culpa de quem?

Há argumentos de aparelhamento. Certo, realmente são relações obscuras que o Brasil tem o dever de passar a limpo. Inclusive relações entre bicheiros, senadores e editores de revista são esqueletos empoeirados no nosso closet moral. O que falta para mitigarmos esse mal é, na verdade, um debate honesto que envolveria, por exemplo, a responsabilidade de uma elite que vive a custos da exploração de pobres, coisa que a Veja, por exemplo, parece ignorar.

Ademais, chega a doer meu coração ler uma desinformação como a dada pelo RA de que a extração do barril de óleo no pré-sal valeria U$ 62,00. Uma pesquisa infantil no Google, do tipo “preço extração pré-sal”, desmente categoricamente o blogueiro. Se eu errasse feio assim, mesmo em textos pessoais do Facebook, ficaria em quarentena de meio ano para aprimorar meus conhecimentos.

Para finalizar, compartilho aqui mais uma certeza de erro na gestão recente da Petrobrás que escrevo sem medo algum de errar: as verbas de publicidade para mídias como a Veja. Essa distorção de investimentos na mídia cria uma falsa ilusão de democracia e liberdade – poucos jornalistas tem vozes na sociedade, concentrando opiniões e conhecimento – e colunistas como Azevedo, muito sabidos, ficam quietinhos publicando textos gozando de estruturas que muitas profissionais da comunicação não tem.

Tadeu Porto é Diretor do Sindicato dos Petroleiros do Norte Fluminense (Sindipetro-NF)

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