Jornal O DIA desafia o coro dos contentes e denuncia o conceito de “corrupção seletiva” de seus coleguinhas.
Editorial: Corrupção seletiva não existe
É injusto sugerir expiar todos os males do Brasil na corrupção cometida por só um governo, a despeito dos equívocos acumulados, e relevar supostos erros no passado
Rio – Parece não haver dúvidas de que a corrupção no Brasil é endêmica e transcende governos, partidos e ideologias. Mas, no bojo das últimas denúncias, dá-se mais peso a este e àquele escândalo em detrimento de outros, conforme a conveniência. Como a recente revelação de que delação premiada de Nestor Cerveró afirmou ter havido pagamento de propina na Petrobras durante o governo de Fernando Henrique Cardoso, o que foi prontamente negado. O fato passou tímido na grande mídia.
Não se está argumentando perdoar pecados de uns porque outros também os cometeram: a engrenagem dos malfeitos no país é longeva e complexa, e as investigações em curso apenas começaram a entender o mecanismo.
Mas é injusto sugerir expiar todos os males do Brasil na corrupção cometida por só um governo, a despeito dos equívocos acumulados, e relevar supostos erros no passado. Esta é uma democracia que desenterra malfeitos; pior seria se fosse uma República que os engavetasse indiscriminadamente.