por Tadeu Porto, colunista do Cafezinho
Estava deboas navegando na internet outro dia, quando meu lado “masô” conduziu, no melhor estilo Adam Smith, minha mão para um link que dizia algo do tipo: “manifestantes fazem protesto no hospital onde nasceu neto de Dilma”. O clique do meu dedo foi mais rápido que os neurônios que mandavam parar, sabia que ia me aborrecer com aquilo, e acabei entrando na matéria.
Só de ver a foto dos manifestantes – três coxinhas perdidas como se estivessem em lanchonete de rodoviária – aquilo me deu tanto asco, que minha imunidade abaixou de tal maneira que minha herpes saltou no canto do meu lábio como uma erupção do vulcão Kilauea.
Mas já tinha começado a ler a matéria e fui até fim. Até mesmo porque, queria entender aquilo para ter uma opinião mais embasada e parecer menos ainda com aquelas pessoas da foto.
E me surpreendeu a conclusão que cheguei ao fim da leitura: elas não estavam de todo erradas, pois existe uma lógica interessante no ato delas que não podemos ignorar.
Minha primeira reação foi ficar chateado, pois a herpes já tinha se manifestado e eu teria um trabalho de três dias no mínimo pra acabar com ela e minha pomada tenho quase certeza que estava vencida.
Logo depois, pensei bem com cérebro e coração sintonizados: um dos graves problemas do Brasil, talvez o maior, é ricos terem acesso a saúde melhor do que de pobres. Pior ainda, quando pensamos que temos um pequeno setor com esse privilégio, que, obviamente, numa sociedade pensada para ser ética não deveria existir, concluímos que algo muito errado está acontecendo.
De fato, é ultrajante a filha da Dilma não ser atendida pelo Sistema Único de Saúde. Assim como é um absurdo que a família Marinho, o Neymar, a Ivete Sangalo, o Lemann, a Angélica, também não sejam tratados por um sistema que seja igual para qualquer cidadão. É inadmissível termos uma elite que tenha acesso a um tratamento diferenciado num serviço como a saúde, que é primordial para a manutenção da vida humana.
Fiquei imaginando o Sirio-Libanês, tomado por movimentos sociais reivindicando a qualidade dos serviços deles para o SUS. Sonhei com uma multidão cercando os principais hospitais privados do país e conseguindo, através da mediação e da luta (sem violência, o sonho era meu) , tratamento para milhares de pessoas que hoje sofrem com a falta de saúde (principalmente no estado do Rio, pois estava na minha cabeça uma reportagem sobre a crise nesse setor carioca).
E, de súbito, minha ficha caiu. Esses coxinhas realmente atrasam, e muito, o desenvolvimento nacional. Deveriam usar camisa da Argentina em protestos, se querem seguir alguma lógica como a do futebol. Eu até imagino que muitos têm boa vontade, pois são cidadãos ou cidadãs que trabalham e querem um país melhor (ok, não sei se o modo sonho ainda estava ativado).
A elite brasileira verdadeira, aquela burguesia de pedigree, não encheria uma avenida de manifestações, afinal de contas, em números absolutos e relativos ela é muito pequena. Muitos “verde-amarelos” de hoje, são apenas um reflexo da high society que copia um modelo de relações e convívio feitos para sustentar quem ganhou e ganha privilégios com a exploração de quase todo país.
A perseguição política a um segmento, no nosso caso claramente ao PT (é vergonhoso que as passeatas de direita “anticorrupção” tenham poupado o Cunha), acarreta numa perda da noção verossímil do ambiente que nos cerca. E isso é exatamente o que a elite quer: continuar que façam a perseguição a um inimigo só e a deixem livremente para continuar a exploração do mais pobres que arrumam suas casas, carros, aeronaves, fazendas ou negócios.
No dia que eu ver manifestações para todo político ou empresário que vá à um hospital particular se tratar, incluindo a Presidenta da República, aí sim vou ver com alegria aquela mesma notícia. Sorriso no rosto e tudo! Pego até balde de pipoca pra assistir, se acaso tiver vídeo.
Os coxinhas tem que entender de uma vez por todas que nosso maior inimigo é a desigualdade social e quem trabalha arduamente para que ela não diminua. Não teremos um país justo, e claro também no sentido de igualdade de acesso a bens e serviços, enquanto existir pessoas desesperadas para ter um trabalho por que não tem o mínimo para ter uma vida saudável.
Mas enquanto isso não acontece, eu garanto, essa massa de manobra (frita e com recheio de frango) vai continuar adoecendo o Brasil e achando que tudo é culpa do PT e da ditadura comuno-gay-negro-feminista do politicamente correto que trava qualquer tipo de relação social brasileira. E vão se manifestar, como uma herpes, toda a vez que a democracia abaixar a imunidade.
Da nossa parte, nos resta não abusarmos do aciclovir, mas sim cuidar da nossa saúde. No final, o vírus coxinha estará tão fraco que não vai conseguir se manifestar!
Tadeu Porto é Diretor do Sindicato dos Petroleiro do Norte Fluminense (Sindipetro-NF)