Permitam-me responder a esse coxinha, que publicou o seguinte comentário na fanpage do Cafezinho:
Em primeiro lugar, deixemos de lado os exageros retóricos que são apenas ridículos. Os Estados Unidos acabam de fazer uma guerra (fracassada) de vários trilhões de dólares contra o Iraque, cujo único objetivo foi encher os cofres dos prestadores de serviço do Pentágono.
Corrupção na veia, além de milhões de mortos.
Se vamos falar de corrupção, tudo bem, mas sem ranking internacional, por favor.
Aliás, sem ranking de espécie alguma, porque se ficarmos apenas ao nível nacional, a privataria tucana, o Banestado, a compra da reeleição deixam qualquer mensalão e petrolão no chinelo, não apenas em valores, mas também no que representam em termos de perda de soberania (privataria), danos à capacidade do Estado de investir (Banestado), e violação democrática (reeleição).
Não vou falar da sonegação, porque poderia lembrar que a operação Zelotes começou investigando desvios superiores a 20 bilhões, por parte de gigantes do sistema bancário e midiático, e terminou perseguindo o filho de Lula por causa de um contrato, feito dentro da lei, com pagamento de impostos, etc, de R$ 2,5 milhões…
A narrativa midiática produz um engodo incrível. Ela inverte as coisas.
Nos anos do “petrolão”, o governo brasileiro conseguiu reduzir brutalmente o endividamento público, aumentou exponencialmente os investimentos em infra-estrutura, descobriu o pré-sal e aumentou a produção de petróleo, recriou cadeias produtivas inteiras, promoveu a maior recuperação da massa salarial em décadas, multiplicou em várias vezes os gastos com programas sociais, além de aumentar sensivelmente o orçamento da Polícia Federal, que foi reestruturada, após décadas de sucateamento, em especial na era tucana. E tudo isso num ambiente de forte crescimento econômico, controle inflacionário e redução dos juros.
Para onde foi o dinheiro da maior corrupção do mundo ou da história? Os petistas mais ricos, em relação aos tucanos, são um punhado de favelados. O tesoureiro preso do PT não tem imóveis nem dinheiro. O PT está falido. Lula vive de palestras e seu único imóvel é o mesmo apartamento de São Bernardo em que vive há décadas (ele cogitou comprar um outro apartamento em Guarujá, o qual até hoje é tratado pela imprensa como um palácio de Versalhes, mas a imprensa demonizou tanto a possível compra que ele, logicamente, desistiu. Mesmo assim, a mídia ainda afirma – mentirosamente – que o apartamento é dele).
Nos anos da privataria tucana, a capacidade de investimento do Estado foi inteiramente desmantelada, grandes empresas estratégicas foram privatizadas (e o BNDES emprestou dinheiro para estrangeiros comprarem, a baixo preço, nossas estatais), programas sociais foram esvaziados, os salários baixaram, a inflação anual passou de 20% em alguns anos, e a dívida pública líquida saiu de 30% para 60%. A dívida bruta explodiu igualmente. Ao final do governo FHC, apesar de toda a lambança, ainda tivemos o Proer, um programa de doação de mais de R$ 100 bilhões aos bancos, que estavam em “crise”, coitadinhos. Tudo isso num cenário de juros altíssimos, crescimento baixo, desemprego galopante.
E os tucanos, todos milionários.
Lula não comprou medida parlamentar para se reeleger, FHC, sim. Mas é Lula que vai depor na Polícia Federal, por causa de Medida Provisória, relatada e defendida pela oposição, e que beneficiou principalmente estados governados pelo PSDB.
É mesmo um país surreal!
Não, coxinha, eu não defendo o PT, nem ninguém. Eu defendo o que eu entendo como verdade. Verdade da qual não sou dono, mas que também não acredito que seja propriedade de uma mídia corrupta e cevada no autoritarismo. Verdade que, sobretudo, não está com um punhado de coxinhas totalmente corrompidos mentalmente pelas mentiras da mídia.
Claro que houve corrupção por parte de petistas. A corrupção, infelizmente, é inerente ao poder, ao homem, aos governos.
Tem de ser combatida não com o moralismo vulgar e oportunista de nossa imprensa e de seu exército de zumbis alienados, e sim com transparência e fortalecimento das instituições.
Quem criou todos os atuais programas federais de transparência?
Quem criou leis obrigando os entes públicos a divulgarem suas despesas na internet?
Quem criou a lei anti-corrupção que, pela primeira vez na história, nos permite condenar não apenas os corrompidos – muitas vezes barnabés do serviço público – mas também os corruptores (lei esta que permitiu a Lava Jato, é importante lembrar)?
Desculpe lhe informar, coxinha, mas foi o PT.
Há corrupção em toda a parte, inclusive, e em grande escala, no Judiciário e no Ministério Público, o que é a corrupção mais danosa, porque exercida por servidores vitalícios.
Atribuir a corrupção a um só partido, ou pior, a um campo político, é uma loucura ideológica digna de um fascista!
Quem inventou a corrupção não foi nem PSDB, nem o PT.
Mas quem combateu a corrupção, mais que nenhum outro governo, inclusive a corrupção em si mesmo, o que é mais difícil e merece mais méritos?
Arrotar discursos vazios sobre a corrupção é fácil. Quero ver um governo investindo em órgãos de investigação que farão devassas no próprio governo, e quero ver esse governo aceitar tudo isso docilmente, resignadamente, como faz o governo Dilma.
A imprensa internacional já entendeu perfeitamente que o governo Dilma se tornou um modelo mundial de combate à corrupção, justamente pela docilidade com que aceita todas as violências e todos os excessos das autoridades investigativas contra o próprio governo.
Entretanto, para que a luta contra a corrupção não seja conspurcada pelas intrigas políticas, é preciso combater esses excessos, é preciso mostrar à sociedade que não se combate corrupção reduzindo direitos, e que a demagogia penal jamais foi um bom caminho.
É justamente isso o que a nossa grande imprensa não faz. Ela quer surfar nos excessos. Ela os insufla. Ela adula os juízes que cometem esses excessos, porque a nossa imprensa é profundamente corrupta e autoritária, cevada em esquemas monstruosos de sonegação, negociatas políticas, conspirações e golpes de Estado.
A sociedade, então, fica perdida, pois a mídia alternativa ainda não tem tamanho e penetração suficiente para fazer um contrapeso adequado aos arbítrios da imprensa tradicional, sobretudo em se tratando de rádio e TV.
Coxinhas, repito, não sou o dono da verdade. Mas não acredito que a postura de vocês seja em prol do interesse nacional.
Quero combater a corrupção tanto como vocês alegam querer, e por isso defendo o aumento da transparência e o fortalecimento das instituições.
Esse fortalecimento das instituições, porém, deve ser feito seguindo a doutrina democrática dos freios e contrapesos, porque não podemos criar um Ministério Público e uma Polícia Federal que não sejam controlados democraticamente, por auditorias externas independentes.
Não podemos criar monstros autoritários, com pretensões a substituir a soberania popular, como se tornaram o Ministério Público e o Judiciário.
Acima de tudo, não podemos esquecer jamais que o poder emana do sufrágio universal.
Por isso o crime supremo é o golpe.
Os autoritários podem prender quem eles quiserem. A sociedade assistirá a tudo entre esperançosa (pela prisão de supostos bandidos) e apreensiva (pelo temor dos excessos), mas aceitará os fatos mais ou menos resignada.
Mas que estas violências não atinjam a liberdade e os direitos políticos, que existem plenamente apenas no direito do povo de escolher seus governantes, porque isso provocará revolta popular e uma instabilidade de longo prazo em nossas instituições.
Que a Lava Jato cumpra seu papel. Ela também é fruto do lulismo. Ela também é mérito do PT, que jamais construiu esquemas de blindagem para proteger os seus, que investiu na autonomia da Polícia Federal e do Ministério Público.
Não seria possível uma Lava Jato no governo Sarney, nem no governo Collor, nem no governo FHC. Em especial não poderia haver no governo FHC, por causa da aliança espúria entre mídia, Executivo e os estamentos privilegiados do serviço público.
Tivemos que eleger um governo popular, um governo antipático às elites do serviço público, para que estas, tomadas de ódio de classe e embriagadas pelos holofotes da mídia, se decidissem a investigar até o fim os grandes esquemas de corrupção.
As nossas críticas à Lava Jato, contudo, se dão no sentido de que nenhuma investigação pode prescindir da preocupação com o estado da economia. Não tem nenhum sentido combater a corrupção e destruir grandes empresas estratégicas, atrasando em anos o nosso desenvolvimento.
Mas se isso acontecer, se a Lava Jato decidir destruir as grandes empresas nacionais de engenharia, não serão os procuradores e delegados, nem a mídia, que construirão novas empresas. Seremos nós, simples cidadãos, modestos blogueiros, que exigiremos do Estado que adote medidas públicas para o surgimento de outras empresas, que preencham a lacuna deixada pela destruição irresponsável da Lava Jato.
Essas outras empresas serão corruptas da mesma forma, porque a corrupção, como já disse, é inerente ao caráter humano, e somente a transparência e a vigilância podem reduzi-la.
Eu sou partidário da ideia de que não é preciso destruir a economia brasileira como “lição moral” contra a corrupção. Isso não beneficia o povo. Os barões da mídia ganham dinheiro com a crise, porque seus investimentos já estão atrelados à crise. Eles ganham com juros altos, inflação alta, desemprego. Os barões midiáticos não ganham dinheiro com seus jornais, que vivem de publicidade. Aliás, os barões estão sacrificando suas próprias empresas no altar da crise, demitindo em massa, porque não é daí que vem a sua renda. A sua renda vem de aplicações financeiras, os chamados fundos abutres, que existem aos montes no país.
Sou partidário de que a luta contra a corrupção seja moderada pelo compromisso com o nível de emprego, e que não tenha a pretensão tola de “moralizar” o país, pois esta moralização só virá com uma justa distribuição de renda e com a justiça social.
A corrupção não tem de ser combatida com violência policial ou penal, e sim com processos justos, moderados e isentos, sem contaminação política, sem histerias midiáticas, sem linchamentos.
Tem de ser combatida, repito pela terceira ou quarta vez neste artigo, pelo aumento da transparência e pela criação de instrumentos modernos de vigilância.
Temos que destruir a corrupção, não temos que destruir o país, não temos que destruir empresas, não temos que destruir empregos, não temos que destruir, sobretudo, nenhum ser humano, nem os acusados, nem mesmo os condenados.
Os acusados ou condenados tem de enfrentar as instâncias da lei, com todos os seus direitos garantidos, mas sem linchamento, sem lhes atribuir a culpa de 500 anos de opressão e corrupção.
Temos de proteger nossas empresas. Sou defensor, por exemplo, de um combate mais efetivo e mais duro contra a sonegação, mas longe de mim que a Receita passe a destruir cada pequeno negócio, cada pequeno botequim, em prol da luta contra a sonegação. A luta contra a sonegação tem de ser feita com inteligência e moderação, visando o bem comum, a estabilidade econômica e o aumento da arrecadação fiscal.
Que o bom senso prevaleça sobre os instintos baixos desse golpismo sujo e autodestrutivo que tomou conta de setores do Estado e da mídia, contaminando parte da população.