Mulher de Alckmin usou aeronaves do governo mais vezes que todos os secretários juntos
por Paulo Nogueira, no Diário do Centro do Mundo
Acabo de dar uma vasculhada nos tuítes dos últimos dois dias de Ricardo Noblat.
Era um teste cujo resultado, a rigor, eu já conhecia.
Queria ver se ele tinha feito alguma menção aos vôos de Lu Alckmin patrocinados pelo contribuinte paulista.
Nada.
Escolhi Noblat porque, para mim, ela é a essência do jornalista que temos nas grandes empresas. O JP, o Jornalista Patronal, aquele que se empenha loucamente em produzir e reproduzir conteúdos que agradem os patrões.
O caso aéreo de Lu é exemplar para entender a alma abjeta da imprensa.
Se fosse a mulher de Lula, jornais e revistas se atirariam, em matilha, às denúncias. Manchetes, primeiras páginas, capas, demorados minutos no Jornal Nacional. O público, ou vítima, seria bombardeado.
Mas não é Dona Mariza.
Sendo a mulher de Alckmin, ninguém repercute a história ou, muito menos, a aprofunda. A própria Folha, que deu, logo esquece, ao contrário do que faria se fosse Dona Mariza, ainda que o furo fosse da concorrência.
A mídia já não faz questão sequer de manter as aparências. É preciso ser definitivamente um analfabeto político para levá-la a sério.
Machado de Assis escreveu que o pior pecado depois do pecado é a publicação do pecado. Jornais e revistas usam essa lógica machadiana para encobrir os pecados dos amigos: não os publicam.
O problema é que, na Era Digital, a informação se espalha velozmente pelos sites progressistas e pelas redes sociais.
Quem perde é a sociedade com o comportamento delinquente da mídia.
Discussões importantes são perdidas. Por exemplo: faz sentido um Estado, mesmo sendo São Paulo, ter aviões e helicópteros para o transporte do governador?
Um governo que não pode pagar decentemente professores pode se dar a tal luxo?
Recentemente, o governo britânico conseguiu enfim aprovar a aquisição de um jato para uso do premiê e dos ministro. Uso a serviço, naturalmente, não aquilo que Lu Alckmin e Aécio fizeram com aviões mantidos por recursos públicos.
A argumentação contrária era que um avião para o governo seria um gesto ruim em tempos de austeridade e uma afronta à cultivada frugalidade britânica.
O governo teve que fazer contas para mostrar que economizaria dinheiro com um avião particular.
Foi uma batalha.
Enquanto isso, você fica sabendo, por vias tortas como a compulsão aérea da primeira dama de São Paulo, que o governo paulista tem uma frota aérea.
O Brasil necessita de um choque urgente de simplicidade e frugalidade para que excessos dessa natureza, e de muitas outras, sejam evitados.
A mídia poderia ajudar se fizesse um trabalho decente.
Mas o que ela faz é indecente.