2016, o ano da recuperação

Análise Diária de Conjuntura Política – Manhã

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Todos os golpismos deverão ser enterrados neste primeiro semestre.

É uma avaliação otimista, mas com base na realidade.

Boa parte dos processos que vem provocando instabilidade política deverão ser finalizados em março, mas com desdobramentos até junho.

São eles, principalmente, o debate sobre a cassação de Cunha na Câmara, o impeachment de Dilma e a análise de processos contra a eleição presidencial, no TSE.

Os dois primeiros, o destino de Cunha e o debate sobre o impeachment, devem terminar já em março. Fevereiro será prejudicado pelo Carnaval.

O presidente do TSE, Dias Toffoli, acredita que todas as ações do TSE que analisam as denúncias do PSDB contra Dilma devem ser julgadas até o fim do primeiro semestre.

Até mesmo a Lava Jato deve sair das mãos de Sergio Moro até julho. O juiz deve concluir, até esta data, os processos ora abertos contra os empresários e as personalidades sem foro privilegiado. A partir daí, a Lava Jato será ou desdobrada para outras varas judiciais, ou irá para as instâncias superiores, no STJ e STF.

No Valor, um dos procuradores da Lava Jato, Carlos Fernando dos Santos Lima, grita histericamente contra uma medida provisória do governo para salvar algumas das empresas investigadas. A entrevista é estarrecedora, porque o procurador revela, sem pejo, a sua irresponsabilidade suprema, pregando a destruição de grandes empresas nacionais. Suas asserções são inclusive caricaturais, visto que ele defende a “apropriação” da empresa pelo Estado, como se adiantasse alguma coisa, para o Estado, se apropriar de uma empresa destruída pelo próprio Estado. Se a empresa tem dívida social com o Estado, em virtude de seus problemas de corrupção, o mais sensato seria punir os executivos responsáveis, e manter a empresa viva, pagando seus débitos através de impostos.

Boa parte dos problemas econômicos enfrentados pelo Brasil foram derivados do estilo Savonarola dos procuradores da Lava Jato, estilo este que apenas vingou porque recebeu chancela da mídia, interessada em manipular a narrativa do escândalo para fazer valer seus interesses políticos.

Editorial no Globo de hoje, contra a medida provisória que permite que empreiteiras investigadas (são quase todas, ou seja, haveria paralisação brutal nas obras de infra-estrutura caso o Executivo não se mobilizasse) voltem a celebrar contratos com a União, deixa bem claro quais são as forças políticas interessadas no caos e na paralisia econômica.

É um editorial cínico, como todos os editoriais do Globo. Em determinado trecho, mesmo admitindo que a lei que permitiu a roubalheira na Petrobrás foi o decreto 2.745/1998, assinado por Fernando Henrique Cardoso, o texto diz que a “facilidade (…) foi usada pelo lulopetismo no assalto à empresa”. É uma asserção mentirosa, visto que os delatores confessaram que a roubalheira começou lá no governo FHC. E não foi uma operação “lulopetista”, pois a maioria dos executivos da Petrobrás condenados, e mesmo os políticos, estão ligados a outros partidos, sobretudo PP e PMDB.

Na Folha, a seção dedicada ao assunto Investimentos, Folhainvest, traz uma matéria extremamente golpista, com chamada na capa, falando que o mercado financeiro traça estratégias com ou sem Dilma, e que o cenário “que mais entusiasma os analistas” é com Michel Temer no comando do governo. É golpista porque as fontes da matéria são “analistas” sem nome, e os cenários traçados por estes analistas, chancelados pelo jornal, são absolutamente irreais.

Fazem projeções sobre dólar, bolsa, juros, como se fosse possível, para algum mortal deste mundo, fazer qualquer previsão realista sobre como o mercado financeiro nacional ou mundial se comportará ao longo de todo o ano. Além do mais, o aspecto político das projeções é absolutamente tosco, na medida em que não se menciona os riscos óbvios causados pela derrubada de uma presidenta que ainda conta com apoio da maioria dos movimentos sociais, de importantes partidos políticos, e de importantes setores da sociedade.

No front econômico, consultoras entrevistadas pelo Valor informam que o IPCA de 2016 deverá ser ficar em 6,70%, uma queda importante sobre os 10,6% previstos para este ano. A inflação de serviços, uma das mais cruéis para o cidadão, porque corresponde a gastos dos quais ele não pode fugir, deverá ser uma das menores desde 2009: 7,14%.

Segundo o BNP Paribas, banco francês, a taxa de câmbio deve encerrar 2016 em R$ 4,15, cerca de 10% acima do patamar atual.

A boa notícia é que o câmbio desvalorizado está restituindo competitividade à indústria nacional. A recuperação se dá em duas frentes: setores da economia estão voltando a comprar produtos industriais domésticos, em substituição a produtos importados; e as exportações de manufaturados estão crescendo. A projeção para 2016, contudo, ainda é de queda na indústria, embora bem menor que a registrada em 2015, porque o setor como um todo ainda está se ajustando à nova realidade, mas espera-se uma forte recuperação até 2017.

O diretor de negócios internacionais da Marcopolo, fabricante de caminhões e ônibus, informou ao Valor que a empresa tem fábricas na China e no Brasil. No Brasil, até 2012, os custos de produção eram 30% a 35% maiores que na China. Hoje essa diferença é de apenas 10%. E, em função dos custos de frete, tornou-se mais barato vender ônibus para Egito e África do Sul a partir do Brasil.

Essas notícias mostram que a economia brasileira, por sua complexidade, tem anticorpos suficientes para se recuperar.

Em suma, em 2016 ainda enfrentaremos tensões políticas, sobretudo no primeiro semestre, mas boa parte delas deverão ser resolvidas ainda na primeira metade do ano.

O segundo semestre promete mais estabilidade política e recuperação econômica, e apenas o fato de termos essa perspectiva já está ajudando a distender – aqui e agora – a conjuntura política.

Miguel do Rosário: Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.
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