[s2If !current_user_can(access_s2member_level1) OR current_user_can(access_s2member_level1)]Análise Diária de Conjuntura – 30/12/2015
A imprensa vai terminando o ano como começou: canalha, golpista e previsível. Desta vez, porém, com uma ajudinha de algumas instituições, surpreendentemente do próprio Superior Tribunal de Justiça (STJ), que divulgou twitter inacreditavelmente vulgar sobre José Dirceu.
Reproduzo abaixo, porque é importante deixar registrado, para os historiadores comprovarem o baixo nível político a que chegaram setores do nosso judiciário.
Realmente, Cesare Beccaria, fundador do humanismo penal, e que mudou a maneira como o ocidente democrático passou a tratar o tema, ainda é extremamente atual.
De um lado, magistrados recebendo salários nababescos, tirando férias regiamente remuneradas, por meses a fio, e ainda recusando com escárnio e sadismo os raros benefícios concedidos pelo Estado à população carcerária.
É preocupante imaginar que o comentarista do STJ se comunica qual um comentarista do G1. Mas também explica o fato do STJ ter incorporado o autoritarismo que emana das parcelas raivosas da sociedade e da mídia: não concedeu praticamente nenhum habeas corpus aos executivos presos pela Lava Jato.
Nem a ditadura militar acabou com o habeas corpus. A Lava Jato conseguiu.
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O Valor, que oscila entre a seriedade e o golpismo barato, encerra o ano de maneira melancólica. Ontem publicou inúmeras matérias dando voz a Eduardo Cunha, sem nenhum contraponto, como se Cunha ainda fosse grande e respeitada liderança nacional.
Aliás, todos os jornais esqueceram as denúncias contra Cunha e terminam o ano com foco em velharias ridículas sobre o Lula, incluindo os pagamentos das palestras ao ex-presidente. É incrível: quase todas as grandes empresas pagaram por palestras de Lula, até mesmo Microsoft e TV Globo. Criminalizar palestras pagas pela Odebrecht, maior empresa nacional de engenharia, com obras no mundo inteiro, incluindo aí o aeroporto de Miami, é o cúmulo do golpismo bananeiro.
Aliás, a campanha para destruir a Odebrecht, associada à blindagem midiática aos grandes sonegadores do sistema financeiro e midiático, é típico de uma era de vira-latismo.
Ainda no Valor, temos uma entrevista patética com Roberto Romano, uma figura que desde muito se tornou garoto de recados do tucanismo midiático.
O destaque à opinião de Romano, uma opinião pró-golpe naturalmente, criticando a decisão do STF, como se Romano tivesse alguma importância, contrasta com o ocultamento, por parte da mídia, das críticas de quase toda a comunidade jurídica ao impeachment.
As principais faculdades de Direito no país, a da USP, a de Recife, a do Rio, todos os reitores, uma lista enorme de importantes juristas, todos criticaram o impeachment, classificando-o como golpe.
O Valor prefere dar destaque à opinião de um mísero infeliz, que não entende bulhufas nem de Direito, nem de política, nem de democracia, que não goza de reconhecimento sequer no campo onde opera.
No Estadão, temos uma matéria estranhíssima, positivamente fascista, que é o vazamento de conversas informais de Dirceu com sua assessora, e uma chamada emblemática: conversas mostram que Dirceu ainda estava “vivo politicamente”.
Além de prenderem Dirceu sem provas, de o cercarem de maneira que o sujeito não pode trabalhar em parte alguma, o fascismo midiático-judicial não esconde um desejo assassino: é preciso matar Dirceu. O sujeito não pode mais sequer trocar zaps com amigos sobre a situação política brasileira: a PF “revolucionária” do ministro Zé vaza tudo imediatamente para a mídia, que se encarrega de usar qualquer coisa como lenha na fogueira do linchamento político.
Para consumar a canalhice rotineira dessa quarta-feira (dia que é, na prática, o último dia útil do ano, já que amanhã a ansiedade pelo Reveillon já terá absorvido as atenções gerais): um dos delatores denunciou a entrega de R$ 300 mil em propina para Aécio Neves.
Não é a primeira vez que o nome de Aécio Neves aparece na Lava Jato.
Ou alguém esqueceu a delação de Yousseff, de que Aécio ganhou, durante muito tempo, um mensalão de algumas centenas de milhares de reais de uma empresa (Bauruense) ligada a uma estatal mineira (Furnas)?
Aécio também é figura central na famigerada Lista de Furnas, um escândalo que até hoje a mídia esconde de maneira sórdida, assim como esconde dezenas e dezenas de esqueletos de corrupção dos tucanos em Minas Gerais.
Quem era o governador de Minas Gerais cujo primo operava um esquema de venda de habeas corpus para traficantes da região de Cláudio?
Quem era o governador que mandou construir, com verba pública, um aeroporto para uso privado, em terras de sua própria família: e não apenas um aeroporto, mas três ou quatro?
Enfim, a política brasileira continua refém de uma mídia canalha, por um lado, e de um governo apático e catatônico, de outro, incapaz de reagir criativamente aos ataques diuturnos que a oposição, via mídia, faz ao próprio governo e a todo o campo que forma a base social e eleitoral deste governo.
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