O Cafezinho já está embalado para 2016. Vamos começar, desde já, a testar as mudanças que pretendemos implementar no ano que se inicia.
Elas são basicamente: postar mais cedo, trabalhar até mais tarde, aprimorar a qualidade do nosso trabalho, estudar mais, aproveitar melhor as novas tecnologias, modernizar-se.
Uma das mudanças é fazer duas análises políticas de conjuntura por dia, uma pela manhã, outra de tarde.
Sem mais delongas, mãos à obra.
As Análises serão abertas a todos na segunda-feira, e fechadas para assinantes ao longo do resto da semana.
A obsessão da imprensa por Lula
Análise Diária de Conjuntura – Edição Manhã – 28/12/2015
Os jornais amanheceram anacrônicos nesta segunda-feira. O Globo veio falando mal de Dilma, como de praxe, denunciando o fato de que os cortes anunciados por Dilma, incluindo a redução de salários de ministros, não se concretizaram. O Ministério do Planejamento explicou ao jornal que “há questões políticas envolvidas que tornam os cortes mais difíceis”…
É uma mordida um pouco desdentada em Dilma, porque esses cortes e essas reduções ainda devem acontecer, mas mostra a disposição guerreira do jornal, ainda obcecado em desconstruir a imagem da presidenta: tarefa facilitada pela postura incrivelmente passiva do próprio Planalto, que desativou o único canal de contato direto entre a presidenta e a população, o Café com a Presidenta.
Ainda no Globo, temos o ataque de sempre (é uma coisa diária) ao ex-presidente Lula.
É uma denúncia velha, já sem nenhuma densidade, porque Lula desistiu há tempos de comprar esse apartamento. Lula, pelo jeito, terá de morar a vida inteira em seu apartamento em São Bernardo. Se arriscar comprar uma casinha de praia em Guarujá, será crucificado pela mídia.
No Estadão, temos outro flanco de ataque à Lula, através do empresário Bumlai, tratado na mídia apenas como “amigo de Lula”. É uma coisa quase cômica, não mexesse com a vida e a liberdade das pessoas.
Agora a novidade é que a Polícia Federal achou cartõezinhos de apresentação na casa de Bumlai, de políticos e empresários. Na falta de provas para manter o empresário preso, vale até criminalizar a posse de cartões de visita.
Voltando ao Globo, é interessante acompanhar o lobby aberto do jornal, na coluna de Ancelmo Gois, hoje uma espécie de sub-Lauro Jardim. Olha essas notinhas, de hoje (falo da primeira e da última):
A primeira notinha é um lobby para assustar o Ministério Público Federal do Rio, comparando-o com a política de terror da filial do Paraná, na qual as pessoas são presas e apenas depois são investigadas, e sua prisão é justificada a posteriori na mídia, através de vazamentos seletivos. Vide o caso do Almirante, um homem com 76 anos de idade, que poderia ter ficado milionário vendendo segredos nucleares nacionais a empresas e governos estrangeiros, e foi preso por Sergio Moro, sem provas. Felizmente, está em prisão domiciliar desde algumas semanas.
A notinha sobre Levy é a bajulação da Globo para seus herois do momento. Repare bem: Levy não fez nada demais. Apenas entrou na fila de imigração, como todos os brasileiros. Antes, Gois todos os dias dava notinhas sobre Joaquim Barbosa. O Globo é incrivelmente óbvio. Levy foi o ministro da Fazenda responsável por fazer o PIB do Brasil despencar este ano: mesmo assim é um heroi. Já Guido Mantega, que fez o PIB do Brasil crescer de maneira extraordinária em vários anos seguidos, é xingado em hospitais e jamais mereceu notinha laudatória no Globo.
O blog Tijolaço publicou ontem à noite um post com um bom potencial de novidades, caso tivéssemos uma imprensa honesta. Fernando Brito descobriu que um dos filhos de Eduardo Cunha tem mais de dez empresas, em condições bastante estranhas. Trecho do post de Brito:
(…) Mas Cunha tem quatro filhos, as três moças (um delas enteada, palavra imprecisa para a filha alheira que se cria como sua) e um rapaz, de 22 anos, Felipe Dytz da Cunha.
Este rapaz tem, três anos depois de terminar o Segundo Grau, uma dezena de empresas. A maior parte de comércio eletrônico e propaganda, sozinho ou em sociedade com as irmãs, sendo ele o sócio-diretor.
Estão sediadas no mesmo prédio do escritório de Cunha, na Avenida Nilo Pecanha, 50 – Salas 3201, 3203 e 32129. O delas é na sala 2909. Ou então, na Avenida das Anéricas , 1155, sala 1905, como é o caso da GDAV Comercio – Gdav Comercio de Produtos Eletrônicos Esportivos e Papelaria, microemepreendedor individual que, entretanto, aparece na internet no tão pomposo quanto vazio site Global Nutricional, que além de dividir o endereço no Brasil, tem filial no chique 616 Corporate Way, Suite 2-3420 Valley Cottage, NY.
Endereço onde estão também a Aluni, plataforma de educação à distância que Felipe divide com Danielle Cunha. Ah, e a GFC, também do rapaz, que é uma “uma holding de investimentos, que além do aporte de capital e consultoria, também coloca a mão na massa nos processos essenciais de estudo de viabilidade, construção, desenvolvimento e execução do negócio.”
Pode ser que o rapaz seja um gênio dos negócios. Pode ser que não. Aqui a gente não embarca ninguém para Cuba sem ter certeza que embarcou.
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Enquanto Globo, Folha e Estadão estão obcecadas pelo “amigo de Lula”, pelo filho de Lula, pelo triplex de Lula (que aliás não é de Lula, mas isso parece não vir ao caso), Eduardo Cunha voltou a ser convenientemente esquecido pelos jornalões.
A informação de Brito sobre o estranho sucesso dos filhos de Cunha pode ajudar nossos valorosos repórteres investigativos a encontrarem novas informações sobre o presidente da Câmara, o homem que está à frente do processo de impeachment da presidenta da república.
A imprensa noticia também o encontro dos governadores hoje em Brasília, na residência do governador do DF, Rodrigo Rollembert. Uma das notícias fala que, segundo o próprio Rollemberg, eles não vão discutir o impeachment, e sim medidas para sair da crise e melhorar a situação fiscal dos estados. Mais tarde, terão encontro com o novo ministro da Fazenda, Nelson Barbosa.
É uma observação um pouco atrasada, mas não posso deixar de registrar aqui: Eduardo Cunha foi praticamente sozinho ao encontro do presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Ricardo Lewandowski. Apenas duas lideranças partidárias o acompanharam: uma delas, o líder da Rede, o deputado Alessandro Molon, acompanhou-o apenas para dizer ao STF que é adversário das posturas de Cunha, e que, portanto, este não representa a posição de toda Câmara. Lewandowski, como já foi amplamente divulgado, chamou a imprensa para acompanhar sua conversa com o presidente da Câmara, matando possíveis tentativas de Cunha e da mídia de instrumentalizar e politizar esse encontro, através de vazamentos ou mentiras.
É importante ler atentamente o relatório (ainda não encontrei o documento na íntegra) do senador Acir Gurgacz em favor da aprovação das contas de Dilma em 2014, e contrariando a opinião do Tribunal de Contas da União (TCU). Mais interessante ainda é observar que o senador procura pôr o TCU em seu duvido lugar: não é um tribunal de verdade, é apenas um órgão auxiliar do Congresso, e como tal, não tem prerrogativa de exercer o papel protagonista que a mídia e oposição tentaram lhe dar este ano.
A íntegra do relatório do Datafolha sobre a aprovação da presidenta revela que a maior rejeição está entre os mais jovens.
Espera-se que, após o pesadelo de 2015, o Planalto tenha aprendido o valor da comunicação. É preciso investir em porta-vozes, em aplicativos, em programas criativos voltados para a juventude.
Não é possível que a derrota do impeachment faça com que Dilma volte a se esconder, o que poderia deflagrar em 2016 o mesmo processo de deterioração de sua imagem visto este ano.