A frase “verba volant, scripta manent” (palavras voam, escritos permanecem), que abre a cartinha de Temer, não poderia ser mais tola.
Primeiro: inventaram o gravador há muito tempo, de maneira que as palavras ditas oralmente podem durar tanto quanto palavras escritas.
Segundo: a profusão infinita de textos publicados nas redes faz com que a scripta voe mais que nunca.
Se é para citar latim, senhor vice-presidente, ao menos evitemos esses clichês mal ajambrados e vamos aos clássicos!
Vamos citar, por exemplo, Virgílio!
“Quae causa indigna serenos foedavit vultus?” (Eneida, Livro 2, verso 286).
Que causa indigna desfigurou teu semblante sereno?
O que fez um político até então conhecido por sua discrição e temperamento suave agir como um aloprado de primeira viagem?
Deslumbramento com possibilidade de assumir a presidência, em caso de golpe?
Chantagem de Cunha?
Combinação golpista com a Globo?
Seja como for, o tiro parece ter saído pela culatra.
Michel Temer, como vice-presidente, deveria zelar pela estabilidade política e não agir para trazer ainda mais instabilidade, trazendo mais sofrimento ao povo brasileiro e prejudicando a recuperação econômica!
O golpe agoniza.
Na Globonews, epicentro do golpe, os jornalistas não estão conseguindo segurar os convidados, que agora falam abertamente em “golpe paraguaio”.
A narrativa do golpe, que pretendia se passar por uma medida perfeitamente constitucional, está fugindo ao controle da mídia.
Abaixo, matéria do Globo, publicada há pouco, mostrando a repercussão profundamente negativa da carta de Temer junto aos senadores do PMDB, que se sentiram traídos pelo vice-presidente.
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No Globo.
Carta de Temer desagrada ao PMDB do Senado
Senadores consideram que vice se apequenou ao tratar de questões pessoais
POR FERNANDA KRAKOVICS 08/12/2015 12:25 / atualizado 08/12/2015 12:51
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RIO – A carta com queixas do vice-presidente Michel Temer enviada à presidente Dilma Rousseff foi mal avaliada pelo PMDB do Senado. Lideranças como o presidente da Casa, Renan Calheiros (PMDB-AL) e o ex-senador José Sarney consideraram, segundo pessoas próximas, que o presidente do partido se “apequenou” ao tratar de cargos e questões pessoais.
Na tentativa de contornar a crise, lideranças do PMDB do Senado vão tentar minimizar a carta, afirmando publicamente que ela teve caráter pessoal, e não partidário, e que revelaria o desejo de Temer de colaborar mais com o governo.
O grupo de Renan critica Temer nos bastidores, afirmando que, em um momento grave como o atual, não há uma linha sobre a conjuntura política e econômica, só “mi-mi-mi-Michel”.
A ala do PMDB que ainda apoia o governo afirma que o vice está sofrendo influência negativa de Moreira Franco, que não perdoa a presidente Dilma Rousseff desde que foi destituído da Secretaria de Aviação Civil, que tem status de ministério.
Para ajudar o Palácio do Planalto, o PMDB do Senado articula para que a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) não seja votada, o que provocaria a convocação automática do Congresso no recesso parlamentar. Esse caminho dispensa a aprovação, por maioria absoluta da Câmara e do Senado, de uma convocação extraordinária, e também o estabelecimento de uma pauta específica para o período. A oposição queria incluir na pauta de janeiro a votação do parecer do Tribunal de Contas da União (TCU) pela rejeição das contas de 2014 da presidente Dilma.