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Análise Diária de Conjuntura – 08/12/2015
Num primeiro momento, houve apreensão quanto aos efeitos da carta de Michel Temer, sobretudo junto aos deputados do PMDB, que tem uma bancada numerosa o bastante na Câmara para fazer a diferença numa votação do impeachment.
Entretanto, a repercussão da carta junto às principais lideranças do partido não deixou dúvidas: a carta prejudicou o golpe. [/s2If]
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Os líderes do PMDB viram com maus olhos o chororô fisiológico de Michel Temer, sobretudo a parte em que ele reclama, despudoradamente, do fato de Dilma articular politicamente com Leonardo Picciani, líder do PMDB na Câmara.
Temer mostrou-se, nas palavras do próprio Picciani, mais preocupado consigo mesmo do que com a bancada de seu partido.
Ora, a negociação direta entre Dilma e Picciani trouxe estabilidade política, estabilidade esta que Michel Temer não estava conseguindo obter – e agora sabemos que provavelmente nem trabalhava com este objetivo – quando foi encarregado de fazer a articulação política com a Câmara.
Ciro Gomes acertou em cheio. Michel Temer é o capitão do golpe.
Só que o movimento que fez, ao enviar a carta, deteriorou a sua posição dentro do PMDB, e não o contrário, como talvez alguém pensou que aconteceria.
Renan, Sarney, Picciani, Pezão, todos os caciques importantes do PMDB deram declarações bastante hostis ao teor da carta de Michel Temer.
A ridicularização a que ele foi submetido nas redes sociais tirou-lhe o já diminuto patrimônio moral que imaginava possuir para herder o poder da república – usurpando a cadeira de 54 milhões de votos de Dilma Rousseff.
Como alguém assim pode pretender governar o país?
Michel Temer revelou que tem muito mais pose do que substância.
Por trás da postura rígida, séria, discreta, esconde-se um ser vaidoso, um político fisiológico, e um cidadão sem nenhuma grandeza.
É incrível como Temer não faz, na carta, qualquer menção ao principal desafio enfrentado hoje pelo Brasil: recuperar o crescimento econômico.
Ao contrário, ao vazar deliberadamente a carta à Globo, Temer apostou na desestabilização do próprio governo do qual faz parte, ou seja, prejudicando a economia.
O lado bom da crise é deixar as coisas mais claras: Delício Amaral, o senador petista preso, líder do governo, era da mesma estirpe egoísta de Michel Temer.
Ambos, Delcídio e Temer eram elementos desestabilizadores para o governo.
Com o fracasso retumbante da carta, Temer agora é, ele também, uma carta – fora do baralho.
A batalha agora na Câmara é pela formação da Comissão que analisará o impeachment. Cunha tem interferido, como de praxe, de maneira antidemocrática, irritando as lideranças do PMDB que trabalham contra o impeachment. Como presidente, Cunha deveria ser imparcial, e não está sendo.
O interessante é que esses procedimentos criaram uma polarização dentro do PMDB: Leonardo Picciani, líder do PMDB na Câmara, parece ter tomado para si, como ponto de honra, enterrar o impeachment de Eduardo Cunha. Considerando que Cunha se encontra em franco declínio político, e Picciani, por sua vez, promete ser o próximo presidente da Casa, a turma do golpe se encontra em desvantagem.
Para o governo, quanto mais Cunha atropele leis e regimento para impor uma agenda do impeachment do seu gosto, melhor, porque o golpe vai se associando cada vez mais à personalidade de um meliante.
Cunha conseguiu a proeza de unir o país contra si, e a oposição, ao se agarrar, açodadamente, ao impeachment aceito por ele, cometeu um erro político grosseiro.
Para a oposição e mídia, não basta dar um golpe. O golpe teria de ser limpo, com amplo apoio social, chancelado por juristas renomados.
Deu-se o contrário.
Os principais juristas do país são contra o golpe, os movimentos sociais se uniram contra o impeachment, o próprio PT, que andava cabisbaixo, recuperou um bocado de sua dignidade, ao se posicionar, corajosamente, contra Cunha no Conselho de Ética, mesmo sabendo que o deputado iria se vingar com a aceitação do pedido de impeachment.
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