Os taradinhos do acordo

por Tadeu Porto, colunista do Cafezinho

Pau que nasce torto, nunca se endireita já dizia algum provérbio popular que ganhou alta notoriedade com grandes pensadores não tão contemporâneos: Cûmpade Washigton e Beto Jamaica.

Eu me amarro nesses ditos populares. Eles parecem ser tão imortais e versáteis quanto uma barata, pois se adaptam muito bem ao tempo e espaço! Esta expressão mesmo, primeiro verso do “segura o tchan, amarra o tchan”, encontrou sua forma mais recente nesse novo quadro interessante que temos na nossa política: a tentativa de cassar um das figuras mais influentes (pro mal) do país.

Afinal, hoje temos o prazer de observar que taradinhos que nascem tarados, nunca se atilam! E se outrora se arvoravam por um impeachment com cor, forma e cheiro de golpe, agora se depravam para tentar inventar um acordo entre dois inimigos incontestáveis.

Hoje é mais do que claro que Cunha não tem alguma sustentabilidade externa para se manter como presidente da Câmara dos Deputados. O que o salva é a velha prática de chantagem interna que ele parece praticar desde que soletrou, pela primeira vez, a palavra achaque (reza a lenda que foi a primeira do bebê Dudu).

Se Eduardo, segundo a Veja também conhecido como “o poderoso” e “a força súbita”, surgiu em março desse ano como uma astro, em dezembro ele está mais para uma estrela cadente em um céu escuro sem nuvens. E nesse cenário os taradinhos começam a trabalhar: com a queda certa do presidente da câmara é preciso que alguém sofra junto! Quem será?

Vai ser o Aécio Neves, que esteve com ele num primeiro de Maio cheio de festas e carros para os trabalhadores? Vai ser Carlos Sampaio, que usou o argumento de “benefício da dúvida” para tentar salvar o colega parlamentar? Vai ser o deputado Bruno Araújo que aparece sorridente em fotos ao lado dele para pedir o impeachment? Ou vão ser os partidos como o DEM, o PSDB, o PPS e afins que votaram em Cunha – com Cunha – aceitando suas manobras perversas todo esse tempo? Não, não. Não vai ser.

Tem que ser o PT.

O partido que não se curvou durante as chantagens do Cunha no início do ano e lançou uma candidatura própria para a presidência da casa (quando perdeu, a mídia e a oposição fizeram uma festa danada e louvaram o deputado carioca). O partido da presidenta que não se dobrou as chantagens abertas à luz do dia que recebeu e reconduziu o Procurador Geral da República que desmascarou o peemedebista.

Vale relembrar, aqui. Quando Cunha foi denunciado a priori, ele rompeu foi com a oposição? Na, na, ni, na, não…

Foi no PT e no governo que ele saiu atirando como polícia militar de São Paulo quando vê estudantes (ou a do Rio quando vê negros; Paraná quando vê professores, infelizmente, fazer analogias com isso tá bem fácil hoje em dia). Cunha força, até hoje, o PMDB a romper com o partido dos trabalhadores e ainda protagonizou propagandas bizarras na TV onde assumia certo protagonismo no futuro do país, a revelia do executivo!

As pessoas que acreditam que, majoritariamente, o partido dos trabalhadores quer costurar um acordo com Cunha parecem ter dormido em um coma no primeiro mandado da presidenta Dilma e acordado agora em um quarto que não tem internet, mas tem Veja, Folha e Globo.

Para entender o que faz esse tipo de acordo ser inviabilizado, nada melhor que alguns fatos que ilustram que essa guerra Dilma x Cunha está desenhada há muito tempo:

  1. Foi Graça Foster, aliada da presidenta, que cortou Costa, Duque e Zelada das diretorias da Petrobrás. Coincidência ou não, Graça fez isso um ano depois que operações da área internacional da Petrobrás, onde Zelada era diretor indicado pelo PMDB, supostamente irrigaram as contas na Suíça de Eduardo Cunha;
  2. Na votação da “MP dos Portos” e do “Marco Civil da internet”, em 2013 e 2014, respectivamente, Cunha jogou claramente contra os interesses do governo, colocando emendas que parecem – só parecem, viu? – algum tipo de chantagem ou lobby;
  3. E, por fim, Ainda em 2014, Cunha ganhou o apelido de “Sabotador da República”, num surpreendente lampejo de jornalismo da nossa mídia tradicional, por impor sucessivas derrotas e chantagens ao executivo.

Ou seja, selar um pacto com Cunha agora, seria como desistir de chegar ao fim de uma maratona com quarenta e um kilometros corridos. E, pior, é deixar de comemorar uma vitória que significa a queda de um personagem nefasto e horripilante que figura há duas décadas, no mínimo, no quadro político nacional.

Aliás, quem sabe das vantagens dessa vitória petista é a mídia, pois, se o principal legado da Dilma for conhecido, como falou o Financial Times, como o combate a corrupção (que sabemos que é, pois nunca vimos tantos poderosos presos e o Executivo tem seus méritos por isso) o país pode sair ainda mais forte e estaremos efetivamente caminhando para uma democracia solidária e verdadeira, onde o acúmulo de poderes e dinheiro serão rechaçados por desequilibrarem um sistema justo e ético.

Portanto, não é atoa que imprensa e oposição saíram correndo para tentar, num último suspiro, tentar afundar o partido que revolucionou esse país junto com Eduardo Cunha. A gente sabe que uma vitória petista machuca, e muito, a ala conservadora e reacionária do Brasil (a foto do Merval Pereira anunciando a eleição da Dilma me vem a cabeça na hora…rs).

Bom, tarados são tarados e não querem perder os privilégios que os colocam acima do bem e do mal. Vão continuar, como maníacos, procurando se agarrar em qualquer método, por mais escuso que seja, para se manterem no topo da cadeia político-social.

E dentro do sentido figurado, vamos ajudar, com muito gosto, a colocar esses taradinhos na cadeia que lhes cabe! Pois, não menos conotativo, aqui no Brasil o pau que nasce torto até que pode se endireitar: nasceu na direita e assim vai viver o resto dos dias.

Tadeu Porto é diretor do Sindicato dos Petroleiros do Norte Fluminense (Sindipetro-NF) 

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