Mais um erro crônico do campo progressista e da academia.
A ausência de crítica a questão dos institutos de pesquisa.
Numa sociedade ultramidiatizada, o instituto de pesquisa está substituindo o sufrágio universal.
Com uma diferença básica: o sufrágio obedece a regras e critério democráticos.
O instituto de pesquisa faz o que quiser.
Os dois principais institutos de pesquisa são controlados pela grande mídia: Ibope, pela Globo; Datafolha, pela Folha.
O Datafolha escolhe rigorosamente o momento em que vai a campo: sempre no pior momento possível para o governo e para o PT, por razões políticas óbvias.
O PT nunca exercitou uma crítica inteligente aos institutos. Ao contrário, esbaldou-se, ingenuamente, durante anos, com a popularidade campeã do ex-presidente Lula, como que agradecendo aos institutos pela “generosidade”.
A avaliação periódica do humor da população é importante, diria mesmo essencial, para o sistema funcionar a contento, e por isso mesmo deveria ser objeto de discussão e ser regulada por critérios mais democráticos.
As pesquisas de avaliação de governo, intenção de voto, deveriam ser avaliadas com periodicidade imparcial, por órgãos de pesquisa independentes do jogo partidário entre mídia e governo, de preferência por universidades ou pool de universidades.
Nas democracias avançadas, temos institutos independentes, como o Pew Research Center, nos EUA, que fazem pesquisas variadas, e não caem no proselitismo partidário de um Datafolha, em que o timing e a maneira como a pesquisa é feita reflete sempre o viés notório do grupo Folha.
A manipulação dos institutos se dá sobretudo pelas circunstâncias acumuladas: na campanha eleitoral, as diferentes partes tem algum espaço para apresentar suas propostas e se defender de ataques.
Fora da campanha, não. A mídia mais concentrada do planeta impera absoluta.
Ou seja, há manipulação da pesquisa e há manipulação da informação. Por isso o sistema político oligárquico tem trabalhado para reduzir cada vez mais o tempo da campanha eleitoral. Para ampliar o poder de manipulação do poder midiático, que é o porta-voz dos setores econômicos mais reacionários, mais agressivos, mais dependentes do Estado.
É uma lástima ainda que a academia não exerça uma crítica inteligente à questão do instituto de pesquisa, que exerce uma influência determinante sobre o processo democrático.
É como uma eleição virtual, mas sem regra nenhuma, sem espaço nenhum para o contraditório, tocada penas por grupos de mídia e seus braços institucionais.
Não estou dizendo que as pesquisas mentem.
Manipular não é mentir. Manipular é dizer uma meia verdade. Manipular não é mentir sobre a temperatura da água: ela está fria ou quente. Manipular é não dizer à população que, antes de medir a água, a própria empresa responsável pela medição interferiu em sua temperatura.
Também não vou culpar a Folha por fazer o que lhe apetece. A culpa aqui é a ausência de um debate político sobre a importância da informação e da pesquisa para a formação da opinião pública.
Os debates sobre democracia na mídia são tratados como “subversivos” pela mídia, e, por consequência, pelo próprio governo, que parece ter medo do assunto. Os partidos, por sua vez, abordam o assunto apenas com paixão, contra ou a favor, sem jamais procurar debatê-lo em profundidade. Há tanta literatura, cinema, sobre o tema!
Dito isto, não vou entrar no mérito se Lula ainda é um candidato forte.
Claro que é.
O que as pesquisas mostram, porém, não é a candidatura de Lula. O que elas ilustram é antes a campanha midiática para desconstruir a imagem de Lula. E sequer escondem isso.
De qualquer forma, é interessante observar que a própria Folha admite que o PSDB não está se beneficiando do processo de descontrução de Lula e PT.
Na campanha eleitoral, constatou-se que os institutos de pesquisa tem muitas dificuldades para captar a complexidade de um público tão grande e diverso. Eles erram para todos os lados, inclusive contra o PSDB.
Aliás, chama a atenção a diferença entre os números do Datafolha e o do Ibope (este último enfrenta a concorrência perigosa de um instituto alemão, que acaba de chegar ao Brasil).
No Ibope, Lula aparecia, há algumas semanas, com 23% de votos “seguros”, contra apenas 15% de Aécio.
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Na Folha.
47% do eleitorado não votaria em Lula em 2018, aponta Datafolha
RICARDO MENDONÇA
EDITOR-ADJUNTO DE “PODER”
28/11/2015 17h00
Do ponto de vista eleitoral, o maior beneficiado com a combinação de crise política e econômica não parece ser o PSDB, principal opositor da presidente Dilma Rousseff, mas a hoje reclusa Marina Silva (Rede), ex-senadora que ficou em terceiro na disputa pela Presidência em 2014.
É o que mostra a pesquisa Datafolha nos dias 25 e 26 com 3.541 entrevistas e margem de erro de dois pontos.
Na simulação que coloca o senador Aécio Neves como candidato do PSDB, Marina avançou três pontos (de 18% para 21%) e agora aparece tecnicamente empatada com o ex-presidente Lula (22%) na segunda posição. O tucano lidera com 31%, mas tinha 35% na pesquisa anterior.
Quando o candidato do PSDB é o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, Marina lidera isolada com 28%, seis pontos a mais que Lula (que caiu quatro desde junho) e dez a mais que o tucano (que oscilou dois para baixo).
Um dado que chama a atenção no levantamento é a taxa de rejeição do ex-presidente Lula. Quase metade dos eleitores (47%) dizem que não votariam nele de jeito nenhum. É uma taxa inferior apenas a atribuída a Ulysses Guimarães (1916-1992) em pesquisas feitas em 1989, quando disputou a Presidência pelo PMDB. Em agosto daquele ano, Ulysses amargou 52% de rejeição, recorde até hoje.
Aécio é rejeitado por 24% atualmente; o vice Michel Temer (PMDB), por 22%. Alckmin e Marina, por 17%.
O Datafolha mostra ainda que a imagem de Lula como ex-presidente perde força com velocidade. Em 2010, ele era visto como o melhor presidente que o Brasil já teve por 71%. Caiu para 56% no fim de 2014; 50% em abril; 39% agora. Apesar disso, segue líder.