por Paulo Nogueira, no Diário do Centro do Mundo
O que acontece quando a plutocracia toma de assalto a democracia?
Bem, os episódios das últimas horas contam tudo.
O banqueiro Andre Esteves simboliza os estragos que o dinheiro sem freios e limites promove na cena política.
André Esteves, do BTG Pactual, deu 9,5 milhões de reais para a campanha de Dilma e 7,5 milhões para a de Aécio.
Para Eduardo Cunha, ele deu 500 mil reais. Quer dizer: deu entre aspas. Ninguém dá dinheiro, sobretudo nos montantes de Esteves.
Seu banco só deu menos dinheiro na campanha de 2014, entre os gigantes do sistema financeiro, que o Bradesco.
O dinheiro não destrói tudo, naturalmente. Pode construir coisas boas, na verdade.
Mas o dinheiro simplesmente destruiu as bases da política brasileira.
O dinheiro compra até o amor verdadeiro, disse, numa frase célebre, Nelson Rodrigues. Na política brasileira, como se viu com Esteves, compra até uma delação confinada, supostamente, a um pequeno núcleo da Lava Jato.
Plutocratas como Andre Esteves são os responsáveis pelo pior Congresso que o dinheiro poderia comprar.
A obra magna deles foi Cunha, um mestre na arrecadação de dinheiro que acabou financiando campanhas para outros candidatos socialmente deletérios como ele próprio.
São, ou eram, seus paus mandados, na expressão consagrada de delatores que temiam até por sua vida ao falar em Cunha.
Controlando-os pelo dinheiro, Cunha chegou à presidência da Câmara e, com seus métodos brutais, impôs uma pauta que representa a essência do atraso.
Como esquecer a votação para suprimir direitos trabalhistas pela terceirização?
Como esquecer as gambiarras para preservar aquilo que o fez ser o que é ou foi, o financiamento privado das campanhas?
E no entanto nada, rigorosamente nada é tão importante para o combate à corrupção quanto o fim da farra do dinheiro privado nas eleições.
A plutocracia não dá dinheiro. Ela investe. São coisas bem diferentes. O papel dos candidatos bancados pelos plutocratas é defender os interesses de um ínfimo grupo privilegiado.
Para um país cuja marca é a desigualdade social, é uma tragédia.
Você dá ares de legitimidade, através do Congresso, a um processo de pilhagem sobre os brasileiros mais humildes.
Onde estão os congressistas mais combativos pelos direitos sociais, como Jean Wyllys? Não por acaso, no PSOL, o único partido que rejeita dinheiro da plutocracia.
Pelas circunstâncias, Andre Esteves é o rosto da ocupação do Congresso pelo dinheiro.
É preciso promover, com urgência, uma desocupação.
E o primeiro e imprescindível passo é controlar, rigidamente, o dinheiro por trás das campanhas.