Vigésima primeira etapa da Lava Jato.
Eu tenho uma curiosidade: já vivemos algo parecido? Uma operação sem fim, se desdobrando politicamente ad infinitum, sempre seguindo uma agenda estritamente midiática e eleitoral?
Ah, sim, tivemos: o mensalão, cujos julgamentos eram marcados sempre às vésperas de eleições.
A Lava Jato perdeu qualquer pudor de parecer uma investigação séria. A prova está no fato de ter prendido o “amigo de Lula” apenas para fornecer manchetes à mídia e dar continuidade à conspiração midiático-judicial.
O sujeito perde até o nome próprio: em toda parte, vemos apenas o complemento, “amigo de Lula”.
Nome: Amigo. Sobrenome: de Lula.
Nome completo: Amigo de Lula.
Para que prender “preventivamente”? Não pode acusar o empresário e deixar que ele se defenda em liberdade?
José Carlos Bumlai é um cidadão socialmente, profissionalmente, familiarmente inserido. Jamais iria fugir.
Dizer que ele pode “atrapalhar” as investigações é piada: se Bumlai é culpado – e isso apenas um processo penal justo e completo, com amplo direito à defesa, poderá dizer (e olhe lá) -, ele já teve tempo de destruir qualquer documento comprometedor.
Sergio Moro e os procuradores estão usando a prisão preventiva como um brinquedo sádico, como uma ferramenta do golpe.
Estão espezinhando e agredindo o que há de mais importante: a liberdade.
E isso sob os narizes cúmplices desse falso liberalismo que assola o país, um liberalismo que não respeita a liberdade política individual suprema (o voto), que menospreza a liberdade penal suprema (o direito à defesa), que culpa o Estado por sua incompetência.
Um liberalismo, enfim, que não defende a liberdade.
E, quando se trata de comunicação, ao invés de defender a liberdade de expressão, defende um sistema midiático opressivo, oligopólico e herdeiro da ditadura.
Moro e a mídia estão abusando da mais vulgar demagogia penal, tentando compensar seus fracassos eleitorais.
O fascismo é um fenômeno da psicologia das massas que a mídia brasileira vem manipulando perigosamente, ao vender a mentira de que o judiciário está “prendendo os grandes empresários”. O judiciário está praticando, mais que nunca, o mais odioso seletivismo penal, visto que apenas prende ou mesmo investiga aqueles que são presas úteis de uma operação tocada com interesse político.
Prende “grandes empresários” e “políticos”, sim, mas apenas quando conseguem vender uma narrativa midiática em que o alvo são o PT, Lula e a esquerda em geral.
É um grande desafio para a esquerda enfrentar a demagogia de seus adversários.
O “amigo do Aécio”, o senador Zezé Perrela, teve seu helicóptero apreendido com meia tonelada de pó e jamais vimos a nossa imprensa dar a manchete:
HELICÓPTERO DE AMIGO DO AÉCIO É APREENDIDO COM MEIA TONELADA DE COCAÍNA.
Podíamos ter destrinchado as ligações entre o tráfico internacional de cocaína e setores da política e do judiciário – mas a mídia preferiu abafar tudo.
Essa palhaçada midiática-policial, a Lava Jato, era uma investigação que poderia ser importante, mas descambou totalmente.
Os procuradores, impedidos pelo STF de investigar o Brasil inteiro, agora parecem dedicados ao seguintes objetivos: destruir a Petrobrás, esmagar a nossa engenharia, destruir a indústria de petróleo e gás, e prender Lula.
Com ajuda da mídia, é claro: sempre que a Lava Jato começa a receber críticas, a mídia dá manchetes para blindar a operação, inventando mentiras como “Lava Jato recupera 1, 2, 3 bilhões”.
Mentira. A Lava Jato já deu prejuízo de centenas de bilhões de dólares ao país.
Prejuízos incalculáveis, porque humanos: e isso no meio de uma profunda crise do setor do petróleo, em função dos baixos preços internacionais e das articulações geopolíticas entre EUA e Arábia Saudita para prejudicar seus principais adversários: Venezuela, Rússia, Irã.
Pior, qual uma nova “primavera árabe” – que começou bonita e espontânea e logo foi instrumentalizada pelo imperialismo -, a Lava Jato também se tornou um ataque imperialista à Petrobrás e às grandes empresas nacionais de engenharia, em especial a Odebrecht, que vinha ganhando licitações no mundo inteiro, vencendo empresas americanas e europeias.
A mídia brasileira, que sempre foi um braço do imperialismo americano em nosso país, faz o papel de infantaria da Lava Jato, chancelando o festival de arbítrios (prisões ilegais e todo o tipo de truculência penal e policial).
A imprensa nacional, ao invés de estar discutindo o fato do nosso país abrigar uma das polícias mais assassinas do mundo, por culpa de um judiciário elitista, corrupto e reacionário, está conferindo ainda mais poder a este mesmo judiciário, que é muito mais corrupto e perigoso do que os nossos problemáticos legislativos: porque os deputados ao menos a gente pode renovar de quatro em quatro anos. Juízes são eternos.
Os procuradores da Lava Jato agem como verdadeiros apresentadores de auditório, dando palestras para dondocas em São Paulo, frequentando regabofes tucanos, congressos de “direito cristão”, figurando para capa de jornal fazendo pose de “intocáveis”, discursando em templos religiosos.
Tudo isso embalado por uma opressão midiática, baseada em mentiras e manipulação, sem paralelo na história do mundo ocidental.
As conspirações midiático-judiciais, iniciadas desde o mensalão – e jamais devidamente combatidas pelo campo progressista, que nunca se preparou para um embate político em alto nível no campo jurídico – marcam a nossa era, que talvez fique conhecida justamente com esse nome: a era das conspirações midiático-judiciais.
Uma era marcada pela ação golpista dos estamentos judiciais, herdeiros do autoritarismo histórico das elites brasileiras, e que substituíram os militares como vanguarda da reação, nesta eterna luta do povo brasileiro contra seus opressores.
Entretanto, o povo sempre vence no final. Às vezes demora, mas ele vence. Fumem e bebam menos, alimentem-se saudavelmente e façam exercícios, para viverem bastante e poderem assistir, de camarote, a derrocada de todos os golpistas.
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No Brasil Post.
Polícia Federal deflagra 21ª fase da Lava Jato, e prende empresário amigo do ex-presidente Lula
Estadão Conteúdo
A Polícia Federal deflagrou na manhã desta terça-feira (24) a Operação Passe Livre, 21ª fase da Operação Lava Jato.
As investigações desta etapa, segundo a PF, partem de apuração da contratação de navio sonda pela Petrobras com ‘concretos indícios de fraude no procedimento licitatório’.
O empresário José Carlos Bumlai, amigo do ex-presidente Lula, foi preso preventivamente em Brasília.
O pecuarista estava na capital federal, pois prestaria depoimento à CPI do BNDES nesta terça (24). Ele estava no hotel Golden Tulip, a poucos metros do Palácio da Alvorada. Bumlai será levado para a Superintendência da Polícia Federal em Curitiba.
Segundo a PF, 140 policiais federais e 23 auditores fiscais cumprem 25 mandados de busca e apreensão, um mandado de prisão preventiva e 6 mandados de condução coercitiva – quando o investigado é levado para depor – nas cidades de São Paulo, Lins (SP), Piracicaba (SP), Rio de Janeiro, Campo Grande (MS), Dourados (MS) e Brasília.
“Segundo apurações, complexas medidas de engenharia financeira foram utilizadas pelos investigados com o objetivo de ocultar a real destinação dos valores indevidos pagos a agentes públicos e diretores da estatal”, informou a PF em nota.
A defesa do pecuarista disse que desconhece a prisão de Bumlai. O criminalista Arnaldo Malheiros Filho, advogado do amigo de Lula, disse que Bumlai está em Brasília para depor na CPI. Malheiros disse que não foi informado sobre os motivos da prisão.