Por Lia Bianchini, repórter especial do Cafezinho
Brasília, 18 de novembro de 2015. A Marcha das Mulheres Negras clamava por reconhecimento e visibilidade às identidades de mulheres negras.
Em frente ao Congresso Nacional, os milhares de mulheres negras que marchavam são atacadas. Tiros para o alto. Bombas. Correria. Confusão.
O atirador (Marcelo Penha, policial civil) é detido e solto após pagamento de fiança. Sua alegação para o ataque: sentiu-se ameaçado pelas mulheres da marcha.
Não por acaso, o atirador era um homem branco.
Não por acaso, o alvo eram mulheres negras.
O acontecimento foi apenas mais uma ilustração da realidade cotidiana daquelas mulheres que marchavam por reconhecimento, visibilidade e direitos.
Segundo o Mapa da Violência 2015, elaborado pela Faculdade Latino-Americana de Estudos Sociais, em um período de dez anos (2003 a 2013), o número de mulheres negras assassinadas aumentou 54%. Apenas em 2013, 2.875 mulheres negras foram mortas.
Elas não são apenas as maiores vítimas de homicídios. De acordo com nota técnica do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), publicada em 2014, 51% dos casos de estupro relatados são de pessoas negras.
São as mulheres negras, também, quem ocupa os postos de trabalhos mais precarizados e recebem os menores salários. Conforme dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) a diferença entre salários de mulheres brancas e negras, em novembro de 2009, chegava a 92,5%. Quando comparados aos de homens brancos, os salários das mulheres negras chegavam a ser 172,1% menores.
As mulheres negras sofrem ainda com a hiperssexualização de seus corpos, com a padronização de suas identidades, com a apropriação de sua cultura. Elas também estão em menor número nas cadeiras das universidades e nos altos cargos da Academia.
O atentado às mulheres negras que marchavam em Brasília aconteceu dois dias antes do Dia da Consciência Negra.
Hoje, mais do que em qualquer outro dia do ano, as atenções voltam-se à luta da população negra, mas comumente a luta das mulheres negras fica em segundo plano.
Zumbi é sempre mais lembrado que Dandara.
Por isso, 20 de novembro deve ser um dia para lembrar que, no Brasil, a descriminação não só tem cor, mas também gênero. Parafraseando Elza Soares, a carne mais barata do mercado é a carne da mulher negra.