por Denise Godinho, editora de cinema do Cafezinho
O diretor brasileiro Joel Caetano, conhecido por incríveis curtas de terror, divulgou no YouTube o filme “Encosto”.
O curta rodou festivais no mundo todo e foi um sucesso de crítica e público nos lugares que passou.
O enredo acompanha um homem que é atormentado por um espírito depois de um ritual de macumba.
Em entrevista exclusiva para O Cafezinho, Joel Caetano disse que optou por explorar elementos típicos dos rituais brasileiros, com velas, charutos, cachaça, para dar valor para a cultura do país.
“Sempre me incomoda muito ver em filmes brasileiros, principalmente de gênero, uma tentativa de ‘emular’ tudo que vem de fora. Acho a cultura brasileira muito rica. Acho muito mais interessante velas coloridas, frango, charuto e cachaça do que pentagramas desenhados com giz no chão”, contou.
E mesmo abordando um tema típico brasileiro, o curta foi super bem recebido lá fora.
Passou por mais de 70 festivais em 20 países.
“Encosto” foi escrito, dirigido e protagonizado por Joel Caetano.
O cineasta Rodrigo Aragão foi quem fez a maquiagem. Rodrigo é nome referência quando falamos sobre terror contemporâneo nacional com filmes como “Mangue Negro” e “Mar Negro”.
Leia abaixo a entrevista com Joel Caetano e assista ao curta “Encosto”.
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De onde surgiu a ideia do curta de fazer um horror típico brasileiro?
Sempre me incomoda muito ver em filmes brasileiros, principalmente de gênero, uma tentativa de “emular” tudo que vem de fora. Acho a cultura brasileira muito rica.
Poder explorar isso, de uma forma consciente e transforma-la em algo universal é muito interessante, pois irá despertar uma identificação maior com o nosso público e no mínimo, a curiosidade lá fora.
A escolha pelo tema veio de meus próprios medos, que procurei entender e transmitir por meio do filme. Depois que foi feita essa escolha, pude explorar a riqueza da imagem que só as cores de nossa cultura podem prover.
Acho muito mais interessante velas coloridas, frango, charuto e cachaça do que pentagramas desenhados com giz no chão.
Como foi a recepção do curta nos lugares que ele passou, já que ele viajou o mundo.
O curta foi muito bem recebido lá fora.
Foi selecionado em mais de 70 festivais, em mais de 20 países (teve países em que o filme foi exibido em mais de 2 festivais como o México, Espanha e Estados Unidos por exemplo) e isso gerou diversos releases das imprensas locais e mensagens em redes sociais, sempre ressaltando o quanto ele era assustador e bem feito, o que me animou muito, pois percebi que o ENCOSTO funcionou muito bem também em outras culturas, apesar de abordar um tema tipicamente brasileiro.
Quais foram as referências que você usou para o curta? E para sua carreira? Quais os diretores que te inspiraram?
Essa é uma pergunta difícil, pois sou uma esponja cultural. A princípio, cresci com os filmes que passavam na TV nos anos de 1980, essa é realmente minha primeira referência, junto com os quadrinhos (que influenciam muito a minha narrativa).
De 15 anos para cá, tenho visto de tudo, não vejo só filmes de terror, procuro diversificar muito essa pesquisa cinematográfica assistido desde filmes de zumbi a Tarkovsky (um dos meus diretores favoritos) por exemplo.
Para o ENCOSTO, usei como referência, na fotografia, o cinema italiano de horror da década de 1960 e 1970, mais especificamente Mario Bava e Dario Argento com suas cores fortes e bem definidas, quase como pinturas na tela.
A ideia do filme é que ele passasse a impressão de ser uma daquelas histórias em quadrinhos curtas de horror da Eerie Comics, Calafrio ou Creepy por exemplo. Para isso, procurei fazer de cada quadro uma pintura, explorando bastante o contraste e as cores fortes.
Como você analisa o panorama do cinema de horror no Brasil?
Acho que estamos em um momento muito promissor, onde o terror vem sendo reverenciado na figura do nosso querido José Mojica Marins, com a série sobre sua vida no Canal Space (além de homenagens e mostras de sua obra).
É importante que o jovem descubra esse mestre do cinema brasileiro para entender toda uma nova geração que está chegando, e que aos poucos vem conquistando um espaço relevante em mostras e festivais pelo Brasil e no mundo.
Posso falar de dois filmes que fiz esse ano, o JUDAS, que é um curta metragem de horror que se passa durante a tradição da malhação de Judas e As Fábulas Negras, um longa metragem de antologias de histórias sobre lendas brasileiras dirigidas por mim (A loira do Banheiro), Rodrigo Aragão (Monstro do Esgoto, A casa de Iara), Petter Baiestorf (Pampa Feroz) e José Mojica Marins (O saci).
Esses filmes foram selecionados em diversos festivais e o mais interessante que foram exibidos em muitos festivais que não são de gênero. Isso demonstra um interesse muito grande no gênero, que é muito importante na filmografia nacional, mas que não é tradicionalmente aceito como tal simplesmente por falta de conhecimento do público em geral.
De minha parte, como cineasta, acho que devemos cada vez mais nos esforçarmos para fazermos filmes cada vez mais interessantes e melhores em todos os aspectos, pois só iremos vencer qualquer preconceito com filmes de boa qualidade narrativa e técnica, e isso já vem acontecendo, principalmente no meio independente.
Outra barreira a se quebrar é a da distribuição, mas isso vem melhorando também, pois se o filme não passa no cinema, pode ser exibido em plataformas de streaming por exemplo, onde com certeza encontrará seu público.
Por que você acha que o gênero não é muito conhecido do grande público? O que falta para isto acontecer?
Estamos no meio do processo. Existe uma crescente produtiva de filmes de terror e com quantidade, acredito que venha a qualidade.
Ouço muito dizerem que se surgir um grande filme, que estoure na bilheteria, o terror nacional acontece. Acho importante um grande filme, mas não acredito muito nesse tipo de teoria quase “milagrosa”. Esses fenômenos tendem a gerar oportunismo, como aconteceu depois do filme “Tropa de Elite” por exemplo.
Quantos filmes sobre o assunto surgiram depois? Quais realmente foram relevantes?
O horror tem que ser visto como um gênero relevante por si só, pois há certas histórias, certas situações que só funcionam bem em um filme do gênero.
Acredito que o preconceito com o horror acabou afastando, por muito tempo, os cineastas brasileiros de se aventurarem por esse caminho e agora que estamos achando ele de volta, precisamos desenvolvê-lo de uma forma consciente e madura, sempre com a ideia de colocá-lo em seu devido lugar, como um gênero muito importante para representar aspectos de nossa cultura.
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Assista ao curta abaixo:
Larisssa Barbosa
06/12/2015 - 13h09
Larga a mão de ver maldade e preconceito em tudo! É apenas um filme de terror! Entretenimento! O filme mostra o personagem “invocando” algo que não consegue controlar, ou seja, cometendo um erro e por isso há consequências! Até onde eu saiba, esses rituais só podem ser realizados por pessoas mais experientes, fica claro que o personagem não sabia o que estava fazendo e invocou algo errado! ! Abre a mente gente! Para de ver tudo a 8 ou 80 por favor!!!!! Leia a entrevista do cara, seus argumentos são a favor da cultura brasileira, isso é mais uma forma de mostrá-la! Por isso que não podemos ter um cinema mais diversificado aqui, qualquer coisa que fazemos, mostrando a nossa cultura, é alvejado por essa militância sem sentido! A arte é livre e não vi nada demais nesse filme que pudesse ser preconceituoso! Pelo contrário! Vamos ser mais inteligentes!
Laudiane Lira
24/11/2015 - 01h49
Hélio Rubem Cavichioli
Laudiane Lira
23/11/2015 - 19h45
Uma porcaria que só servirá para alimentar atos absurdos de preconceito contra as religiões com matrizes africanas, como algo assim é bem aceito onde quer que seja? Ahhhhhh é arte, e eles é livre!!!! Ah sim esqueci!!!! Mas ela precisa ser reponsavel ainda mais com tanta intolerância!!!!
André Mauro
23/11/2015 - 11h09
Achei ótimo!