O discurso de Roberto Requião durante o congresso nacional do PMDB, veiculado nas redes sociais, produziu um alarmismo negativo que, acho eu, é preciso neutralizar.
Em primeiro lugar, Requião tem razão e estou do lado dele em quase tudo.
Mas acho que houve um pouco de exagero por parte dele quando fala que o PMDB aderiu ao golpismo. Este exagero, somado a uma interpretação nervosa das redes sociais, acaba gerando desinformação.
A tese de que parte do PMDB “quer cassar” Dilma é correta: eles queriam Temer presidente. Só que Temer não foi eleito e sabe que não conseguiria governar o país em caso de “cassação” de Dilma.
Ou seja, o PMDB quer “cassar” Dilma, mas é só uma vontade, que não vai passar para o plano de ação, até porque o PMDB é um partido passivo e desorganizado, e um plano de cassar Dilma seria tão arriscado e complexo, que seus caciques jamais conseguiriam pô-lo em prática.
A cúpula do PMDB está tentando dar um golpe sim, mas não no governo Dilma. O golpe é nos diretórios municipais e estaduais, que perderão poder.
A cúpula do PMDB se tornará, se aprovar a reforma partidária proposta por sua cúpula, um principado, uma Nomenklatura de direita.
Quem perderá será o próprio PMDB. A única força que resta ao PMDB é seu aspecto democrático, ou seja, o ambiente onde o político pode defender ideias de esquerda ou direita, ser governista ou oposição, livremente. Se o PMDB matar a sua única qualidade, que é o que estão tentando fazer, ele vai cometer um glorioso suicídio político.
Ainda é cedo para falar qualquer coisa, mas a fala de Michel Temer, presidente nacional do PMDB, deixou claro que o partido continua no governo até 2018. Ou seja, o partido se afastou do impeachment, porque o impeachment só ocorreria se o PMDB rompesse com o governo.
A pressão midiática sobre o PMDB, para que ele se afaste do governo, tem sido brutal, e o PMDB é um partido líquido, que não toma posições duras sobre nada, e, neste sentido, joga com a mídia.
Hoje mesmo, a Veja, cujo jornalismo segue exclusivamente a lógica do golpismo, publica que Michel Temer e Dilma estão mais distantes do que nunca.
Como se eles tivessem sido próximos algum dia!
Temos de tomar cuidado. O centro do golpismo é a mídia. É daí, portanto, que virão as mentiras e as pressões para jogar o PMDB contra Dilma.
Eduardo Cunha, ao discursar no congresso do PMDB, foi vaiado. Entendam bem: Cunha foi vaiado, e não Requião.
O golpismo no PMDB, em verdade, refluiu, na onda da derrocada moral de Cunha.
A crítica mais feroz de Requião é ao tal programa de propostas econômicas do PMDB. Esta é a tese “golpista” a qual o PMDB se agarrou. É golpista porque são propostas lançadas para agradar à Globo, e a Globo é o centro do golpe.
Só que eu tenho a impressão que nem o PMDB leva totalmente à sério estas propostas, por saber que elas, ao serem confrontadas pelo debate, perderão toda a sua força.
São propostas, repito, de um partido assustado – embora tente disfarçar – com o fascismo penal, que ameaça engolfá-lo por causa de sua aliança com o PT.
Os procuradores da Lava-Jato, em sua fúria antipetista, defendem que os partidos envolvidos na corrupção da Petrobrás paguem “bilhões” de multa e tenham seu registro cassado. Ou seja, depois do prejuízo incalculável causado ao setor de engenharia, construção civil, os procuradores querem destruir os partidos.
É claro que o PMDB está apavorado – e com razão.
Por isso o PMDB joga dessa maneira. Ele tem de mostrar “independência” do PT, e lançar propostas ultraconservadoras para ganhar um mínimo de blindagem midiática.
É um quadro complexo, mas o PMDB sabe jogar. Assim que arrefecer o clima de fascismo que a mídia insuflou no país, as propostas do PMDB serão arquivadas.
Eu acho que é por aí.
De qualquer forma, a posição do PMDB deve ser observada na prática, durante as votações do orçamento de 2016 e outros projetos importantes para a economia. Além, é claro, da posição de seus deputados e senadores sobre o impeachment.
O PMDB pode falar uma coisa e fazer outra, mas o importante é o que ele vai fazer e não o que ele está falando agora.
***
No blog do Esmael.
“A proposta da FUG é adesão ao golpismo”, denuncia Requião
17 NOV 2015 – 11:29
Senador Roberto Requião (PMDB-PR), nesta terça-feira (17), discursou no congresso da Fundação Ulysses Guimarães (FUG); ao Blog do Esmael, parlamentar disse que embora defenda a legalidade, a presidente precisa mudar a política econômica e remover o ministro Joaquim Levy “antes que seja tarde demais”; abaixo, assista ao vídeo.
O senador Roberto Requião (PR) discursou na manhã desta terça-feira (17), em Brasília, no congresso da Fundação Ulysses Guimarães (FUG), braço político do PMDB nacional.
Ao Blog do Esmael, o parlamentar disse que o evento de hoje é uma clara tentativa de adesão à tese do golpismo e do neoliberalismo econômico.
“Estão esperando que a presidente Dilma Rousseff seja cassada e o vice Michel Temer assuma o governo com uma pauta muito pior que atual”, afirmou Requião.
De acordo com o senador do Paraná, que oficialmente abriu dissidência no congresso da FUG, as propostas são “apócrifas”, porque ninguém assina, e, “nem o PSDB nem a antiga Arena tiveram coragem de defender”.
Assista ao vídeo:
“A discussão que vale é a de março, na convenção nacional do PMDB, e a tradição democrática do nosso partido é contra golpismo e o fim do estado social, consolidado na Constituição Cidadã de 1988, promulgada pelo saudoso Ulysses Guimarães”, destacou Requião.
Embora defenda a legalidade democrática, o senador Requião alertou para a necessidade de a presidente Dilma mudar a política econômica e remover o ministro Joaquim Levy do Ministério da Fazenda “antes que seja tarde demais”.