Nas últimas 48 horas, a mídia vem conduzindo uma de suas mirabolantes operações de alquimia política, tentando associar, na cabeça do cidadão, a imagem de Eduardo Cunha ao governo.
Não vai colar.
Cunha foi eleito como um deputado de oposição, apesar de pertencer a um partido da base. A imprensa brasileira sabe disso.
Todas as declarações de Cunha sempre foram de oposição, e oposição raivosa.
Oposição política, parlamentar e ideológica.
Cunha foi quem patrocinou a votação das pautas-bomba, que tinham objetivo exclusivo de detonar as contas públicas e inviabilizar o governo. Neste sentido, ele é um dos responsáveis pela crise econômica.
Dilma teve que vetar todas as pautas-bomba, e agora o Congresso vota, com muita dificuldade (em função da radicalização política), a manutenção dos vetos da presidenta.
Assim que foi denunciado pela Procuradoria, Cunha saiu-se dizendo que agora tinha se tornado inimigo número 1 do governo. Ou a imprensa não se lembra disso?
Cunha tentou uma jogada golpista, para aprovar o impeachment por apenas metade dos deputados, e não dois terços. Felizmente, a operação foi sustada pelo STF.
Todo o dia, Cunha aparece com declarações contra o governo e contra o PT, algumas violentíssimas.
Cunha patrocinou a votação de iniciativas parlamentares retrógradas, que contaram com o apoio do PSDB, DEM e PPS, e a oposição dura de PT, PCdoB e PSOL.
Essa é a verdade.
Uma pena que a imprensa tenha se tornado uma mistificadora.
O manifesto de alguns partidos em prol de Cunha não vem do governo, apesar de vários deles pertencerem à base.
O governo Dilma não pode se meter demais no Legislativo, porque existe separação dos poderes. Não pode, sobretudo, ficar à frente de uma operação para “derrubar” o presidente da Câmara. Quem age assim é o próprio Cunha e seus colegas, como o deputado Paulinho da Força, que entrou para o Conselho de Ética dizendo que vai agir para salvar Cunha e derrubar Dilma.
Ao governo, interessa votar leis importantes para a recuperação econômica do país, com Cunha ou sem Cunha, até porque a Câmara hoje tem tantos Cunhas que, se o governo for ter preconceito contra eles, nenhuma votação mais será feita e isso prejudicará ainda mais a economia brasileira.
Sabendo dessa equação política, a mídia, irresponsável e mentirosa, tenta confundir o eleitor: procura associar a busca, pelo governo, de condições para votar leis, com “acordos políticos” para salvar Cunha.
Quem salva ou derruba Cunha são seus pares na Câmara, o Ministério Público, o STF e a própria imprensa.
Um colunista da Folha, Fernando Canzian, invertendo completamente a realidade, fala que o PT “atiça o formigueiro” ao fazer “jogo duplo” com Cunha. Ora, o jogo duplo é porque o governo tem de dialogar com Cunha enquanto ele for presidente da Câmara.
O governo nunca deixou de querer dialogar, ao contrário de Cunha, que sempre se manifestou com muita agressividade com o governo.
Os movimentos de rua contra Eduardo Cunha, organizados por mulheres, sindicatos, movimentos sociais, conta com a participação do PT, e não do PSDB.
As manifestações anti-governo, e pró-tucanas, é que saíam com faixas dizendo que “somos todos Cunha”, lembram?
É cúmulo da hipocrisia e da mentira, portanto, o esforço da mídia para vender a ideia de que o PSDB é “contra” Cunha.
Ora, o PSDB conhecia Cunha e se manteve abraçado com ele até o último dia.
PSDB é Cunha e Cunha é PSDB.
Ontem mesmo, o colunista Lauro Jardim, da Globo, não publicou matéria dizendo que PSDB negociava com Cunha a aprovação do impeachment, em troca de seu apoio ao deputado?
Trecho da matéria:
Eduardo Cunha teve uma reunião separada hoje com os tucanos Bruno Araújo, Carlos Sampaio e os demistas Mendonça Filho e Rodrigo Maia, após o almoço com os líderes partidários na residência oficial da presidência da Câmara.
Os deputados das duas legendas colocaram o presidente da Câmara contra a parede: ou ele abre o processo de impeachment contra Dilma Rousseff ou eles retiram o apoio que têm dado a Cunha.
Embora o grupo negue publicamente o teor da conversa, Cunha topou, mas com uma condição: vai assinar a favor do impeachment o mais perto possível de 24 de novembro.
***
A liderança do PSDB na Câmara é a principal patrocinadora do – agora fracassado – impeachment e vinha se articulando com Eduardo Cunha até ontem. Aliás, deve continuar fazendo, só que agora mais por baixo dos panos do que nunca, para não ficar feio na mídia.
***
Vale a pena publicar trecho de mensagem de Jean Wyllys, publicado há pouco em seu Facebook (via DCM):
Quando Cunha estava em alta (ou seja, antes das denúncias), não havia um dia em que ele não estivesse cercado de puxa-sacos do DEM, do PSDB e do baixo clero em sua mesa de presidente.
Há pelo menos três dias, os puxa-sacos foram minguando. Hoje ele está completamente só, ladeado só pelos assessores. Mais cedo, o PSDB e o DEM anunciaram “rompimento” com Cunha (na verdade, última cartada pró-impeachment da turma do golpe). E quando André Moura (PSC), unha e cutícula com Cunha, foi à tribuna anunciar o apoio de partidos do baixo-clero (que corresponderiam a 230 parlamentares) a Cunha, vários foram os parlamentares desses partidos que o desautorizaram.
E li mais cedo na internet que aquele analfabeto mirim cujo nome sempre me soa como “Kinta Katiguria” e que pertence a um daqueles grupos de lunáticos e proto-fascistas regados pelo PSDB e pelo DEM anunciou que “nunca apoiou” Eduardo Cunha.
Ou seja, é certa aquela sabedoria marinheira de que os ratos são os primeiros a abandonar o navio em naufrágio.