Em meio às conspirações políticas, às vezes esquecemos que as principais vítimas são os bodes expiatórios humanos encontrados para justificá-las.
Sobretudo seus familiares.
Quando mídia e Estado se unem numa conspiração golpista, a crueldade e o desrespeito à dignidade se impõem.
A imprensa brasileira revela seu golpismo atroz quando não dá voz à defesa.
Os EUA não são exemplo em matéria de direito penal. É um sistema que sempre optou por prender para depois investigar – é infelizmente o sistema que imitamos, e imitamos mal.
Só que a sociedade americana, e isso é o mais bonito nela, por ser uma democracia antiga, há muito tempo que discute profundamente as truculências e injustiças de seu sistema penal.
A narrativa americana clássica traz duas histórias básicas: uma é a do heroi que salva o mundo com seu talento e força individuais.
A outra é a luta do cidadão contra a violência do sistema penal americano.
A quantidade de filmes e livres sobre condenações injustas fez dos EUA o país que mais produz críticas a si mesmo.
Até assassinos e psicopatas são entrevistados e tem espaço na mídia.
Aqui, não.
Aqui, os liberais são uns hipócritas.
Na hora que precisamos deles, na hora em que a liberdade física dos cidadãos está em jogo por conta de conspirações que manipulam o desejo de vingança da plebe, os liberais correm para baixo da saia do Estado e gritam: prendam, esfolem, matem!
E dane-se a liberdade!
Se falamos de executivos ou dirigentes partidários presos injustamente, os liberais que sempre defenderam o capitalismo, tem um acesso inacreditável de demagogia: Merval Pereira então escreve colunas e mais colunas sobre “prender ricos e poderosos”. Como se Merval & cia houvessem jamais se preocupado com a violência penal do Estado contra pobres.
A cena dos meganhas da Polícia Federal super-armados, cercando João Vaccari Neto, um velho gordinho, inofensivo e deprimido, como se este representasse algum perigo, ficará nos anais da história como uma cena de truculência policial contra um cidadão brasileiro inocente (até prova em contrário, segundo a Constituição).
Ao invés de defenderem que o Estado respeite os pobres, a mídia agora defende que o Estado estupre também o direito dos ricos. Claro que somente de alguns ricos – aqueles que não pagaram a devida propina à mídia. Não pagaram o pedágio da blindagem midiática.
Daí você entende porque alguns bandidos políticos – e vocês sabem a quem me refiro, sim a ele mesmo – defendem tão encarniçadamente a Rede Globo e atacam a regulamentação da mídia.
Daí você entende o medo generalizado que os políticos tem da mídia. A mídia, no Brasil, manda prender, independente de provas.
Os blogueiros que tentam dar espaço à crítica à violência do Estado contra cidadãos e empresas, que denunciam as conspirações judiciais, são acusados de “defenderem bandidos”.
A mídia, agente do fascismo, quer prender os blogueiros também, porque estes denunciam as suas mentiras, as suas manipulações, o seu golpismo, o seu mau caratismo ilimitado.
Eu defendo sistemas penais justos, que não se verguem a interesses políticos ou midiáticos.
Infelizmente, é isso que está acontecendo no Brasil: os juízes se tornaram marionetes do poder econômico e político. Poder, que é bom lembrar, não está na mão do governo.
O governo – no Brasil, ao menos – não tem poder.
Quem tem poder, no Brasil, é o capital rentista e a mídia.
O capital – e o poder – está na mão dos banqueiros, da família Marinho, dos estamentos judiciais, dos interesses imperialistas.
Um leitor inclusive me enviou um link com documentos secretos vazados pelo Wikileaks, em que agentes do governo norte-americano elogiam alguns juízes brasileiros, em especial Sergio Moro, por se submeterem passivamente aos ditames do Tio Sam.
Democracia é um regime difícil de engolir, para os ricos – porque os pobres votam.
Então os ricos, o que fazem? Manipulam a opinião pública, e usam a truculência do Estado para prender seus adversários.
Democracia, direitos humanos, ouvir o outro lado? Esqueçam.
A nossa imprensa se tornou um sindicato de golpistas, interessada exclusivamente no poder, que ela almeja, desesperadamente, para viabilizar financiamentos bilionários para si, e aprovar leis e medidas que a salvem das revoluções tecnológicas que ameaçam a sua existência.
Ao cabo, porém, a mídia vai perder.
Ela pode mobilizar ainda milhões de analfabetos políticos, coxinhas, fascistas, sociopatas de toda espécie: isso não significa nada para a história, porque esses processos de manipulação de masssa são, infelizmente, comuns; mas todos são desmascarados depois de um tempo.
E os juízes que estiverem ao lado dos arbítrios, das injustiças, das conspirações, serão engolfados pelo ciclone de desprezo e escárnio que a história sempre reserva para os covardes, os oportunistas e os pusilânimes.
Abaixo, um depoimento de familiares do ex-tesoureiro do PT, Vaccari, preso injustamente, sem condenação, sem provas, pelo juiz justiceiro, heroi dos coxinhas, Sergio Moro.
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No blog A verdade sobre Vaccari
Esposa e filha de Vaccari falam pela primeira vez
Publicado em 30 de outubro de 2015
Elas contam como é ter o marido e pai preso e exposto à execração pública só porque é do PT
“ Apesar da pressão para que todos se tornem delatores, tenho certeza de que meu pai jamais fará isso. A ideologia é tudo para ele. E ele jamais falaria de pessoas inocentes só para sair da prisão”, diz Nayara, filha de Vaccari.
“Não sei se consigo falar. É difícil. Quem está nos dando força na verdade é o próprio João. Ele é muito forte e é o que nos dá alicerce”.
Foi assim que Giselda de Lima, a Gigi, há mais de 30 anos casada com João Vaccari Neto, deu a primeira entrevista sobre o drama que a família vem enfrentando nos últimos meses. Ao seu lado, com os olhos marejados, estava Nayara de Lima, a filha do casal.
“Quem está nos dando força na verdade é o próprio João” é uma frase surpreendente para quem não conhece Vaccari, mas não para aqueles que conviveram com ele, como seus amigos e companheiros. Ela resume a personalidade de um homem com sólidos laços familiares, ético, determinado, comprometido com seus ideais políticos e, por isso mesmo, perseguido, humilhado e execrado.
Um silêncio ensurdecer tomou conta da sala. Não era um silêncio comum apenas a uma casa onde um bebê dorme tranquilamente. Era o silêncio que vinha lá do fundo dos corações dessas mulheres que mostram que têm a força típica dos Vaccari para enfrentar as torturas psicológicas. E, naquele momento, apesar do choro incontido, ao decidirem conceder entrevista a nosso Blog, mostravam também que estavam muito mais fortes do que pensavam para seguir lutando por justiça.
Ainda surpresas e certas de que não conseguiriam falar mais que duas frases, Gigi e Nayara abriram o coração e, com a voz embargada ou crises de choro, relembraram o pesadelo que enfrentam desde que a Operação Lava Jato passou a perseguir a família.
15 de abril. Logo cedo os noticiários exploravam de forma sensacionalista a prisão preventiva do ex-tesoureiro do PT, João Vaccari Neto. Foi um dia terrível, porém não tão humilhante como a manhã de 5 de fevereiro, quando a Polícia Federal invadiu a casa da família depois de arrombar o portão para conduzir coercitivamente Vaccari a depor. “Foi horrível e assustador. Naquele dia, ele não saiu para a caminhada como costumava fazer. Estávamos dormindo e foi um grande susto, pois foi muito truculento”, lembra Gigi.
Nayara, a filha única do casal, estava grávida de oito meses quando seu pai foi preso de forma humilhante e injusta sob os holofotes da mídia. João Mateus, o genro de Vaccari, foi quem preparou o espírito da então futura mamãe. “Ele dizia para mim, com todo o cuidado: você sabe o que de ruim pode acontecer ao seu pai, né? Mas vai ficar tudo bem.”
Os dez primeiros dias após a prisão – praticamente anunciada, prevista e defendida pela mídia nos dias que a antecederam – foram os mais difíceis. De repente, esposa, filha e a cunhada Marice Correa viram seus nomes e imagens sendo explorados de maneira covarde em uma campanha difamatória e brutal.
A base de tudo foram os vazamentos de dados confusos e contraditórios, devidamente explorados pela imprensa que não teve o mínimo pudor ao distorcer cada informação. “Foi bem difícil. Minha mãe ficou muito abalada, principalmente no período em que ficavam comparando a imagem dela com a da minha tia”, conta Nayara.
– Laudo da Polícia Federal confirma: Marice foi presa por engano
A tentativa de destruir a honra da família Vaccari, a forma avassaladora a que a intimidade deles foi exposta por jornais e revistas, continua provocando calafrios na Gigi, que, compreensivelmente, ainda se assusta com a presença de jornalistas.
Passados alguns meses, Gigi e Nayara se esforçam para encontrar formas de conviver com essa nova realidade.
A ideologia mantém meu pai sereno
“Acredito no que fiz, por isso vou até o final”. É com essas palavras que Nayara descreve uma das conversas que teve com o pai. “O que me dá força é essa convicção dele de que fez tudo certo. É isso que faz com que eu o admire ainda mais e aceite melhor tudo o que estamos passando.”
Falar da ideologia do pai é, visivelmente, motivo de orgulho para essa jovem médica ginecologista. No olhar e nos gestos é possível perceber a emoção que toma conta de Nayara quando fala sobre suas conversas com Vaccari.
“Meu pai é muito ideológico. Ele diz que a vida dele não fará mais sentido se sua soltura implicar perder tudo aquilo em que acredita. A ideologia é tudo para o meu pai e é isso que vai fazê-lo aguentar até o final.”
E nem foi preciso perguntar o que seria esse final. Apesar de não militar partidariamente, Nayara tem plena consciência da perseguição política da qual seu pai é vítima e da pressão que ele sofre diariamente. Ela logo emendou: “Existe uma clara pressão para que todos se tornem delatores. Mas tenho certeza de que meu pai jamais faria isso. Primeiro, porque ele me disse que não tem o que falar. Segundo porque querem nomes e ele jamais falaria de pessoas inocentes só para sair da prisão.”
Nesse momento, Gigi, também muito emocionada, concordou com todas as palavras da filha. “João é um homem muito honesto e justo”, completou.
Como não pode conviver com o neto, Vaccari lê livros infantis
“Essa é a forma que ele encontrou para saber lidar com o neto quando voltar para casa”
Quando Gigi e Nayara visitaram Vaccari pela primeira vez no Complexo Médico-Penal, em Curitiba, seu neto já havia nascido. Foi o nascimento de João que o fez começar a ler livros de contos infantis. Isso mesmo, Vaccari, aquele homem apresentado pela mídia como seco e frio, passou a frequentar a biblioteca da prisão para ler livros para crianças – o primeiro, com cerca de 50 páginas, foi “O menino que mudou de bairro”.
A história, explica Nayara, é sobre um menino que sofre preconceito ao mudar de casa e tem dificuldade para se relacionar com as crianças do novo bairro. “Meu pai disse que o conto trazia um debate importante sobre preconceito e por isso escolheu o livro. Só podia ser meu pai mesmo, é a cara dele isso”, disse, entre risos.
O segundo livro infantil foi “O menino do dedo verde”. Até a pedagoga responsável pela prisão estranhou a escolha de um segundo livro infantil. “Ela deve ter ficado confusa. De repente, ele pega dois livros infantis na sequência. Ela perguntou o porquê”, contou Gigi.
– E o que ele respondeu?, pergunta a reportagem.
– Ele disse: “mas o que eu vou conversar com o meu neto quando sair daqui?”
O avô Vaccari certamente está orgulhoso e feliz e demonstra isso do seu jeito. Foi assim quando viu seu neto com calça jeans pela primeira vez. Nayara conta que quando levou João para conhecer o avô, Vaccari não conseguiu expressar a alegria e, emocionado, repetiu diversas vezes a mesma frase: “Esse meu neto parece um homem de calça jeans”.
Quem sabe estava sonhando com o futuro, quando puder passear de mãos dadas com seu neto, livre.